PINHEIRINHO
Não é a primeira coluna em que Janio de Freitas critica o governo Alckmin pela reintegração de posse na comunidade Pinheirinho. Ele já o fez em texto publicado no dia 26, no qual se recusa inclusive a chamar a operação de “reintegração de posse”. Prefere chamá-la de crime e abuso de poder.
Na coluna de hoje, porém, Freitas acusa a PM de censurar a imprensa, e me espanta (“me espanta” é só figura de retórica, claro…) que uma denúncia desse porte tenha demorado tanto tempo para ser noticiada, e não tenha repercutido em outros periódicos e na TV aberta.
Erramos, erraramPor Jânio de Freitas, na FolhaPor motivo obscuro, a restrição à imprensa em Pinheirinho ficou alheia às narrativas da “barbárie”As fotos e vídeos de Pinheirinho que horrorizaram com o que a própria presidente da República chamou de “barbárie” (do que se espera, portanto, alguma providência de governo) foram obtidos apesar da proibição, pela PM, de entrada de jornalistas na área da ação policial. Por algum motivo obscuro, que pode ser, por exemplo, a grande e permanente preocupação com restrições à imprensa em outros países, sejam ou não verdadeiras, o impedimento ao trabalho dos repórteres em Pinheirinho ficou alheio às narrativas da “barbárie”.A censura policial tornou-se notícia no quinto dia depois de imposta, na quinta página do caderno “Cotidiano” da Folha, em trabalho bem realizado por Jean-Philip Struck.Além das armas de ataque físico e da arma ilegal que é a censura, a PM paulista armou-se também com a mentira. Em diferentes ocasiões, foi dito que à imprensa estava “dada liberdade total” para a cobertura de Pinheirinho, na expressão reproduzida por Struck. O mesmo disseram, inclusive, autoridades do governo paulista.O coronel Manuel Messias, da PM, mentiu com gravidade ao menos duas vezes em curta entrevista. Dissera que a PM só usou gás lacrimogêneo contra os moradores de Pinheirinho, o que era mentira. Foi refutado por uma repórter da CBN, com a referência a tiros de borracha e consequentes feridos. Messias retrucou, com certo deboche, que esses tiros fazem “só vermelhidão”, o que é mentira. Ferem, e podem fazê-lo com muito perigo a depender do lugar atingido. Conviria a Messias acautelar-se, para não se tornar coronel de mentira.
Pinheirinho se tornou um divisor de águas na política de São Paulo, e talvez do Brasil. De fato, possivelmente há vários casos similares acontecendo ou sendo gestados no país. Mas a magnitude de Pinheirinho, com seis mil pessoas, a urgência brutal, a truculência sem sentido, deram ao episódio um caráter simbólico. Possivelmente, o tema entrará nas campanhas políticas deste ano e dos próximos.
É triste constatar que o PSDB, não tendo outra alternativa senão defender o seu trágico equívoco, terá de mergulhar ainda mais fundo num conservadorismo radicalizado, agressivo e baixo nível.
Bom reiterar que não se trata de “cumprir a lei”. O absurdo da situação está na ausência de planejamento do governador e do prefeito para com o destino dos moradores. O prefeito inclusive se apressou em dar passagens para que os mesmos “voltassem” para seus estados. A impressão que temos é que o PSDB não considera o pobre um cidadão com plenos direitos. Os pobres são tratados como se fossem uma espécie de sub-raça de imigrantes ilegais e leprosos, um povo “inimigo”.
A consciência de Elio Gaspari pesou. Arrependido do artigo que publicou semana passada, em que acusa a politização do caso Pinheirinho sem mencionar os abusos em termos de direitos humanos, o jornalista hoje se digna a fazer algumas críticas pertinentes ao prefeito da cidade:
SAIU MAIS CAROA área ocupada pelos invasores do Pinheirinho, equivalente a 180 campos de futebol, corresponde a menos da metade da propriedade da massa falida da qual o financista Naji Nahas era sócio. O município de São José dos Campos poderia ter negociado uma mudança no Plano Diretor da cidade, alterando as exigências de ocupação da área. Feito com toda transparência possível, esse mecanismo permitiria a doação da gleba conflagrada e sua consequente urbanização.
Como se pode ver, Pinheirinho mereceu o repúdio de praticamente todo o setor progressista da sociedade brasileira, invadindo a grande mídia com a mesma força que o livro Privataria Tucana. Talvez seja exagero afirmar que a mídia, mais uma vez, foi pautada pelas redes sociais e pela blogosfera. Mas a influência das redes já é pública e notória.
Para se ter uma ideia de como a ação do governo paulista vem provocando revolta, dê uma espiada nesse vídeo postado ontem no youtube, onde se vê manifestação popular contra Andrea Matarazzo, realizada também ontem, durante a inauguração de um museu.
Pesquei esse texto no blog do PHA, que explica a situação:
Defesa
Em nota distribuída pela assessoria de imprensa da Secretaria mais tarde, Matarazzo, disse que “lamenta a agressão sofrida durante a entrega do maior museu de arte contemporânea da América Latina”. De acordo com a nota, “no final da cerimônia, um pequeno grupo de manifestantes tentou impedi-lo (Matarazzo) de sair do local jogando objetos, com intimidação pessoal, hostilizando não apenas o Secretário, como visitantes e convidados, alguns deles idosos”.
“Era um momento de festa para a cidade, (…) jamais esperava que politizassem o evento e não há como encarar o que ocorreu de outra forma: foram atos de truculência”, escreveu o secretário na nota. “Fui agredido fisicamente durante a manifestação e esse é o limite da democracia, ninguém pode tirar o direito do outro de ir e vir, era apenas isso que eu tentava fazer”, continuou.
Segundo Matarazzo, “essas pessoas (manifestantes) não têm a mínima noção do que é cidadania”.”
Primeira constatação: houve um declínio no número de moradores do Pinheirinho: o Estadão fala somente em duas mil pessoas (sempre ouvi falar que em torno de 6 mil pessoas habitavam o Pinheirinho).
Não contente com a notícia do Estadão, fui ao youtube ver se havia algum vídeo postado lá. E havia!!
O vídeo está no endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=LbCGoYXgoU4
Pelo que pode ser visto no vídeo:
- O Andrea Matarazzo não foi agredido;
- Não vi objetos sendo atirados sobre o Secretário do Alckmin.
- Não vi pessoas idosas sendo impedidas de ir e vir
Pois é, o Matarazzo agora está criminalizando um singelo protesto de cunho totalmente humanista e desinteressado, de pessoas manifestando sua contrariedade e revolta em relação à violência do governo do estado contra mulheres, crianças, idosos e pessoas em situação financeira vulnerável.
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