sexta-feira, 31 de maio de 2013

Programa do PSDB no horário eleitoral.

É ASSIM QUE SE GOVERNA?

Publicado em 31/05/2013

O JEITO PSDB
DE AJUDAR OS POBRES

No vídeo, uma versão realista do programa do PSDB no horário eleitoral.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Requião e o "CU" (Caixa Único) de Richa



OUÇA:





Requião faz piadas com o “CU” de Richa, que vira hit na internet


“Impeçam que o governador [Beto Richa] coloque a receita inteira do Estado dentro deste ‘CU’ porque isto provocará o caos definitivo e uma grande dificuldade nas próximas décadas para o Estado do Paraná”, pediu Requião em gravação radiofônica; ouça
“Impeçam que o governador [Beto Richa] coloque a receita inteira do Estado dentro deste ‘CU’ porque isto provocará o caos definitivo e uma grande dificuldade nas próximas décadas para o Estado do Paraná”, pediu Requião em gravação radiofônica; ouça
No voo entre Curitiba e Brasília, no final da tarde de ontem (27), o senador Roberto Requião (PMDB) monopolizava as atenções sobre a polêmica do Caixa Único que o governador Beto Richa (PSDB) pretende formar no Paraná.
Nas piadas, Requião só se referia à proposta do tucano como “CU”. A plateia de executivos e políticos – que todo início de semana se desloca ao Distrito Federal – não conseguia conter a crise de risos, tal a teatralidade.
Na semana passada, o senador peemedebista distribuiu áudio afirmando que “o Estado está parado e o governo desesperadamente agora quer criar o caixa único para reunir todo o dinheiro num caixa só e ainda meter a mão no fundo de depósitos judiciais. Isto é muito perigoso. Eles chamam isso de caixa único, que tem uma sigla: CU. Eles querem por o dinheiro do Estado do Paraná dentro deste ‘CU’”

Blog do Esmael Blog do Esmael

A história de uma farsa – Capítulo 7

Miguel do Rosário

A luta pelo poder
Voltemos ao núcleo incandescente da história. O STF enveredou por uma farsa patética, mas suponho que as pessoas ainda acreditem na velha máxima: onde há fumaça, há fogo. O que os petistas fizeram de errado? O que houve, em suma?
Esta é minha versão da história, sem pretensão de pôr um ponto final. Com base na enorme quantidade de documentos, entrevistas, depoimentos, relatos que temos hoje à nossa disposição, o mais difícil é justamente separar o joio do trigo e oferecer uma interpretação objetiva e ordenada dos acontecimentos. Mas dados e fatos não faltam.
A campanha de Lula em 2002 havia sido bem abastecida de recursos contabilizados, e a prestação de contas fora aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Lula diplomava-se presidente da República. Delúbio Soares fizera um excelente trabalho como tesoureiro. Era um herói do PT.
Não fora uma vitória fácil. Lula e o PT lutavam contra um poderio arraigado há séculos. As campanhas da direita vinham se tornando cada vez mais eletrônicas, baseadas na televisão e nos meios de comunicação em geral. Desde meados da década de 80, a classe política tradicional havia avançado sobre canais de tv, estações de rádio e jornais impressos. Com eles, destruíam reputações, enalteciam personalidades, chantageavam empresários e, por fim, ganhavam eleições.
Para vencer este império difuso, relativamente organizado em torno de um grande eixo central, as Organizações Globo, o Partido dos Trabalhadores usou duas estratégias: de um lado, fez uma campanha nacional altamente profissional, contratando os melhores marketeiros do mercado e usando material gráfico de primeira; de outro, a militância em todo o país botou os pés na lama e correu o Brasil pedindo voto de porta em porta.
Quem poderá medir o esforço necessário para vencer um conservadorismo que detinha a máquina federal, a maioria dos governos nos estados e todos os meios de comunicação no país? Qual o valor real dessa campanha? Digo, não o valor em termos pecuniários, mas o valor humano?
Entretanto, por mais que enormes contigentes humanos trabalhassem espontanea e voluntariamente, por convicção política, por espírito de cidadania, ainda assim havia necessidade de muito mais. Um pacato cidadão de classe média, assistindo tranquilamente ao Jornal Nacional no sofá da sala, talvez encontre alguma dificuldade em conduzir sua imaginação até um comitê de campanha eleitoral. É ali onde tudo começa: a vitória, a derrota, as dívidas. É um frenesi constante. A militância partidária de base, seja de que partido for, de esquerda ou direita fisiológica, é pobre. O primeiro gasto de um comitê de campanha é alimentar a mão-de-obra. Se não há dinheiro, faz-se um acordo com restaurantes locais para se pagar posteriormente. É preciso pagar o transporte, impressão de santinhos, confecção de bandeira. As lideranças comunitárias, por sua vez, pedem reuniões com os chefes de campanha para negociar a contratação de seus exércitos. Não é uma operação de compra e venda. É política. A liderança comunitária não vende seu apoio a quem paga mais. Não necessariamente. Ela tem de pensar, sim, na eleição enquanto uma oportunidade para o povo ganhar uns trocados e sobreviver mais alguns meses. Mas há política envolvida. O candidato tem de ganhar sua confiança, e fechar compromissos políticos. Vai fazer uma obra de saneamento aqui? Vai construir uma escola e um posto de saúde acolá? E a liderança não pode ficar, de qualquer forma, na contramão do desejo de sua comunidade. Se ela quer votar em Lula, então a tendência é fechar uma parceria com um candidato que também o apoia.
Não podemos esquecer que grande parte dos recursos movimentados nas eleições voltam para o bolso do povo, na forma dos trabalhos que realizam nas infinitas atividades de campanha. Essa é uma realidade para legendas de todos os espectros ideológicos. A classe média cantarola um lulalá aqui, tenta convencer um amigo ali, cola um brochinho no peito, manda uns emails, e sai dizendo ao mundo que “trabalhou duro na campanha”. Mas não tem noção do que é, de fato, uma campanha eleitoral nas periferias das grandes cidades e no interior, onde se concentra o grosso do eleitorado.
Nas regiões pobres e populosas, as engrenagens da democracia ficam expostas ao ar livre. Ali se dá o processo originário de “compra de apoio político”. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos escreveu um ensaio, ainda antes do governo Lula, falando sobre “a corrupção democrática”. Numa democracia, a alta rotatividade dos cargos públicos oferece, periodicamente, uma nova leva de tentações humanas. Mas ele poderia ter mencionado uma outra característica ainda mais perturbadora da democracia: as campanhas.
A democracia apenas regulamenta, ordena e civiliza a luta pelo poder. Mas a luta em si, mesmo num processo democrático, permanece implacável. A democracia não anula a lei do mais forte. Se num debate, um candidato gagueja e demonstra medo ou fraqueza, perde pontos. O eleitor vota naquele que considera melhor e mais forte.
Em 2002, logo após a vitória de Lula, os comitês regionais do Partido dos Trabalhadores informaram que possuíam enormes passivos a serem resolvidos. Quando falamos em dívidas de campanha, também precisamos exercitar a imaginação. O político tradicional, dono de terras, lida com certa facilidade com esse tipo de problema. Com crédito farto nas instituições bancárias, ele pode “financiar” suas dívidas. Um partido de esquerda, cujas lideranças pertencem, em sua grande maioria, a estratos medianos ou baixos da sociedade, não tem crédito. Dívida de campanha, numa periferia pobre, pode se tornar um problema trágico.
O mensalão começa aí, portanto. No pagamento das dívidas de campanha de 2002, para os diretórios regionais. O PT não tinha dinheiro, nem crédito bancário. Aparece Marcos Valério, um sujeito que construíra, ao longo da era FHC, uma rede de contatos nas altas rodas do mercado financeiro, e se oferece como avalista de empréstimos. Depois pega empréstimos em seu nome para repassar ao PT. Tudo isso está nos autos e depoimentos.
As eleições de 2004 se aproximavam. O próprio Roberto Jefferson, conforme descreve Paulo Moreira Leite em seu livro “A outra história do mensalão”, diz que “o mensalão não era federal. Era municipal, porque as eleições de 2004 eram municipais e o dinheiro de Delúbio e Marcos Valério destinavam-se a essa campanha”.
Faz sentido que as eleições municipais sejam ainda mais problemáticas em termos de financiamento que a nacional. Tudo é mais obscuro e mais sujo numa eleição municipal. Com exceção de uma ou outra capital mais importante, não há dinheiro das grandes instituições financeiras, e os pequenos potentados locais preferem doar por baixo dos panos com receio de que, não ganhando seu aliado, enfrente represálias.
No julgamento da Ação Penal 470, os ministros do STF pontificarem sobre o que se deve ou não fazer numa eleição, como se eles tivessem alguma vaga ideia de como as coisas funcionam. Ayres Britto se recusou acreditar na versão de João Paulo Cunha de que o dinheiro que recebera seria para pagamento de uma pesquisa eleitoral, mesmo com esse apresentando notas fiscais. Britto não acreditou porque, segundo ele, 2003 não era um “ano eleitoral”.
Mais uma vez, o Brasil é vítima da desinformação. Tivemos duas décadas de ditadura militar, sem campanhas, sem eleições, sem informação. Não fizemos livros, filmes, não publicamos reportagens sobre o processo eleitoral na democracia moderna. Até hoje, os estudantes de ciência política estudam mais o processo eleitoral do Império e da Velha República, através dos livros de Victor Nunes Leal (Coronelismo, enxada e voto) e Raymondo Faoro (Os donos do poder) do que a realidade eleitoral contemporânea.
Os partidos políticos tem dinâmica interna. Antes do lançamento de uma candidatura, as legendas travam duras guerras domésticas, às vezes tão duras e sujas quanto o processo eleitoral em si. Quem será o candidato a deputado, a prefeito, a governador, por um determinado partido? É nessa hora que uma pesquisa faz diferença. E pesquisas confiáveis custam caro.
Não sou advogado de Cunha. Por mim, ele pode ter feito qualquer coisa com aquele dinheiro. Mas se ele apresenta notas ficais, uma versão consistente, e afirma que o recurso tinha fins eleitorais, o mínimo que se espera de um juiz é que respeite a sua história. Não estamos falando de um ladrão de galinhas, mas de um deputado federal eleito com uma quantidade colossal de votos. E para ser eleito, ele precisou, necessariamente, trabalhar duramente em sua própria campanha eleitoral.
Entramos em 2004, e Delúbio Soares começa a distribuir dinheiro para os quadros que integravam a sua corrente dentro do partido, com vistas a iniciar os trabalhos eleitorais. Em seguida, terão início as negociações entre os partidos que integrarão a base aliada. As lideranças se encontrarão e combinarão estratégias únicas de comunicação, e negociarão ajudas financeiras mútuas. Enquanto isso, o Congresso trabalha, com os mesmos partidos.
No dia 26 de maio de 2013 (ontem, domingo), o colunista Ilimar Franco, do Globo, publicou a seguinte notinha:
Usos e costumes - Entra e sai governo e a história se repete. O PMDB é tratado como parceiro de segunda categoria. Todos os dias porta-vozes do Planalto praticam a desqualificação de seu principal aliado. Foi assim também no governo Lula, que esnobou o partido até estourar o mensalão. Assim como o PT agora, o PSDB também menosprezava seus aliados no governo FH. Os tucanos, como os petistas, também queriam desbancar os aliados nos Estados. O ex-líder do governo FH Benito Gama, atual presidente do PTB, então no PFL, na época arrematou: “O PSDB tem que escolher. Dar um cargo para o B. Sá (deputado tucano) no Piauí ou aprovar a emenda da reeleição. Os dois não dá”.
Deixando de lado qualquer análise sobre o objetivo da nota, que é produzir cizânia entre PT e PMDB, enfraquecer a base aliada e abrir mais espaço para Aécio Neves crescer, vamos direto ao final. Observe como pensava o líder do governo FHC, Benito Gama: para aprovar a emenda da reeleição, o governo tinha que comprar apoio político dos outros partidos através da distribuição de cargos. A questão proposta por Gama foi respondida na prática: FHC conseguiu aprovar a reeleição para si mesmo.
No auge do escândalo, esse tipo de explicação começa a vir a tôna. O próprio Lula vai a televisão pedir desculpas ao país e dizer que o seu partido fez aquilo que todos os outros faziam. Lula foi sincero, mas seu depoimento não repercutiu bem. Seus adversários reagiram com ferocidade redobrada diante da franqueza lulista. A direita, com hipocrisia; a esquerda, com incompreensão.
Ué, mas o povo brasileiro não elegeu o PT justamente para mudar “tudo que está aí”? Não. A utopia de que a democracia brasileira poderia ser “higienizada” completamente é ridícula e irreal. Mesmo que todos os políticos se tornassem anjos exclusivamente interessados em fazer o bem à população, ainda assim teríamos o conflito de interesses. Operários, donas de casa, empresários, banqueiros, servidores, artistas, índios, sem-teto, cada um puxa para um lado e aplaudirá os esforços que seu representante fizer para ajudar sua classe.
O PT fez caixa 2 porque usou os empréstimos de Marcos Valério para pagar despesas de campanha, tanto as dívidas de 2002 quanto as de 2004, mas a tese de “compra de apoio político” tem um vício de origem: ignorância em relação ao processo democrático. A tese de compra de apoio político só pode ser levada minimamente à sério quando está em jogo um projeto para mudar a constituição e ampliar o poder do grupo hegemônico, como foi o caso da emenda da reeleição. E mesmo assim, deve-se tomar muito cuidado. Em toda a América Latina (inclusive no Brasil, com FHC), os presidentes mudaram suas leis para ampliarem seu próprio poder e, pese os protestos das respectivas oposições e os debates acalorados, prevaleceu a ideia de que foram processos democrativamente válidos. Entretanto, falar em compra de apoio político para se entender a reforma de previdência, que envolveu o país inteiro num debate extremamente duro e complexo, não faz nenhum sentido. O PT queria “dar um golpe” aprovando a reforma da Previdência? E para isso deu 15 mil reais ao professor Luizinho?
José Dirceu, por exemplo, está sendo condenado por fazer a coisa mais importante numa democracia: articulação política, construção de maioria parlamentar e busca da governabilidade. O sistema democrático tem seus freios e contrapesos, mas sem um grande concerto entre os diversos interesses políticos e econômicos conflitantes jamais haverá estabilidade e desenvolvimento. O Supremo Tribunal Federal comete uma infâmia ao criminalizar a política, porque é a política o único instrumento que nos salva do completo caos. E temos que considerar a política em sua acepção plena, objetiva, concreta, que inclui duras e complexas negociações partidárias, além de acordos eleitorais, envolvendo recursos de campanha. A nossa lei eleitoral, inclusive, deveria ser modernizada para dar mais liberdade aos partidos para se aliarem e integrarem campanhas. Algumas coisas que hoje são irregulares, poderiam ser legalizadas.
Uma das consequências mais negativas do processo do mensalão foi a desqualificação do próprio conceito de ética. De repente, conseguiu-se transmitir à sociedade que tudo relacionado à política (luta pelo poder, pagamento de dívidas de campanha, estabelecimento de acordos eleitorais e partidários, construção da governabilidade) era sujo; e do outro lado, nas limpas e ordenadas redações de jornal, reinava a ética. Depois se mostraram juízes de capa preta, rosto asséptico e severo, transitando por salões brilhantes e luzidios, como os úlitmos éticos de uma nação decadente. De fato, que diferença entre o ambiente esterilizado do STF e um comitê de campanha em Belém do Pará, todo sujo de papéis, infestado de militantes de olhos famintos! Ou ainda de uma reunião num apartamento de luxo em Brasília, com políticos bebendo uísque, falando palavrões, insinuando negociatas e partilhando estratégias de campanha! No entanto, a mocinha democrática sente-se muito melhor nesses dois últimos ambientes, o comitê bagunçado e o apartamento cheirando a uísque, do que num tribunal. Ela sabe que estará mais protegida na companhia de militantes pinguços e políticos de olhos lúbricos, que a conhecem há muitos anos, do que ao lado de juízes intimidados por barões da mídia. Entre a donzela democrática e os políticos, existe o julgamento de 100 milhões de eleitores, que decidirão com quem ela deverá se deitar. Entre ela e os ministros do STF, temos a opinião de tão somente 11 cidadãos fortemente influenciados pelo ambiente de classe em que circulam, vulneráveis à chantagem, à vaidade e à corrupção

A VIDA É UM SOPRO.


Por Leonardo Boff

Não tive muitos encontros com Oscar  Niemeyer. Mas os que tive foram longos e densos. Que falaria um arquiteto com um teólogo senão sobre Deus, sobre religião, sobre a injustiça dos pobres e sobre o sentido da vida?
Nas nossas conversas, sentia alguém com uma profunda saudade de Deus. Invejava-me que, me tendo por inteligente (na opinião dele) ainda assim acreditava em Deus, coisa que ele não conseguia. Mas eu o tranquilizava ao dizer: o importante não é crer ou não crer em Deus. Mas viver com ética, amor, solidariedade e compaixão pelos que mais sofrem. Pois, na tarde da vida, o que conta mesmo são tais coisas. E nesse ponto ele estava muito bem colocado. Seu olhar se perdia ao longe, com leve brilho.
Impressionou-se sobremaneira, certa feita, quando lhe disse a frase de um teólogo medieval: “Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. E ele retrucou: “mas que significa isso?” Eu respondi:  “Deus não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse, ele seria uma parte do mundo e não Deus”. Mas então, perguntou ele: “que raio é esse  Deus?” E eu, quase sussurrando, disse-lhe: “É uma espécie de Energia poderosa e amorosa que cria as condições para que as coisas possam existir; é mais ou menos como o olho: ele vê tudo mas não pode ver a si mesmo; ou como o pensamento: a força pela qual o pensamento pensa, não pode ser pensada”. E ele ficou pensativo. Mas continuou: “a teologia cristã diz isso?” Eu respondi: “diz mas tem vergonha de dizê-lo, porque então deveria antes calar que falar; e vive falando, especialmente os Papas”. Mas consolei-o com uma frase atribuída a Jorge Luis Borges, o grande argentino:”A teologia é uma ciência curiosa: nela tudo é verdadeiro, porque tudo é inventado”.  Achou muita graça.  Mais graça achou com uma bela trouvaille  de um gari do Rio, o famoso “Gari Sorriso: “Deus é o vento e a lua; é a dinâmica do crescer; é aplaudir quem sobe e aparar quem desce”. Desconfio que Oscar não teria dificuldade de aceitar esse Deus tão humano e tão próximo a nós.
Mas sorriu com suavidade. E eu aproveitei para dizer: “Não é a mesma coisa com sua arquitetura? Nela tudo é bonito e simples, não porque é racional mas porque tudo é inventado e fruto da imaginação”. Nisso ele concordou adiantando que na arquitetura se inspira mais lendo poesia, romance e ficção do que se entregando a elucubrações  intelectuais. E eu ponderei: “na religião é mais ou menos a mesma coisa: a grandeza da religião é a fantasia, a capacidade utópica de projetar reinos de justiça e céus de felicidade. E grande pensadores modernos da religião como Bloch, Goldman, Durkheim, Rubem Alves e outros não dizem outra coisa: o nosso equívoco foi colocar a religião na razão quando o seu nicho natural se encontra no imaginário e no princípio esperança. Ai ela mostra a sua verdade. E nos pode inspirar um sentido de vida.”
Para mim a grandeza de Oscar Niemeyer não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu comunismo. Para ele “a vida é um sopro”, leve e passageiro. Mas um sopro vivido com plena inteireza. Antes de mais nada, a vida para ele não era puro desfrute, mas criatividade e trabalho. Trabalhou até o fim, como Picazzo, produzindo mais de 600 obras. Mas como era inteiro, cultivava as artes, a literatura e as ciências. Ultimamente se pôs a estudar cosmologia  e física quântica. Enchia-se de admiração e de espanto diante da grandeur do universo.
Mas mais que tudo cultivou a amizade, a solidariedade e a benquerença para com todos. “O importante não é a arquitetura” repetia muitas vezes, “o importante é a vida”. Mas não qualquer vida; a vida vivida na busca da transformação necessária que supere as injustiças contra os pobres, que melhore esse mundo perverso, vida que se traduza em solidariedade e amizade. No JB de 21/04/2007 confessou: ”O fundamental é reconhecer que a vida é injusta  e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vive-la melhor”.
Seu comunismo está muito próximo daquele dos primeiros cristãos, referido nos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Ai se diz que “os cristãos colocavam tudo em comum e que não havia pobres entre eles”. Portanto, não era um comunismo ideológico mas ético e humanitário: compartilhar, viver com sobriedade, como sempre viveu, despojar-se do dinheiro e ajudar a quem precisasse. Tudo deveria ser comum. Perguntado por um jornalista se aceitaria a pílula da eterna juventude, respondeu coerentemente: “aceitaria se fosse para todo mundo;  não quero a imortalidade só para mim”.
Um fato ficou-me inesquecível. Ocorreu nos inícios dos anos 80 do século passado. Estando Oscar em Petrópolis, me convidou para almoçar com ele. Eu havia chegado naquele dia de Cuba, onde, com Frei Betto, durante anos dialogávamos com os vários escalões do governo (sempre vigiados pelo SNI), a pedido de Fidel Castro, para ver se os tirávamos da concepção dogmática e rígida do marxismo soviético. Eram tempos tranquilos em Cuba que, com o apoio da União Soviética, podia levar avante seus esplêndidos projetos de saúde, de educação e de cultura. Contei que, por todos os lados que tinha ido em Cuba, nunca encontrei favelas mas uma pobreza digna e operosa. Contei mil coisas de Cuba que, segundo frei Betto, na época era “uma Bahia que deu certo”. Seus olhos brilhavam. Quase não comia. Enchia-se de entusiasmo ao ver que, em algum lugar do mundo, seu sonho de comunismo poderia, pelo menos em parte, ganhar corpo e ser bom para as maiorias.
Qual não foi o meu espanto quando,  dois dias após, apareceu na Folha de São Paulo, um artigo dele com um belo desenho de três montanhas, com uma cruz em cima. Em certa altura dizia: “Descendo a serra de Petrópolis ao Rio, eu que sou ateu, rezava para o Deus de Frei Boff para que aquela situação do povo cubano pudesse um dia se realizar no Brasil”. Essa era a generosidade cálida, suave  e radicalmente humana de Oscar Niemeyer.
Guardo uma memória perene dele. Adquiri de Darcy Ribeiro, de quem Oscar era amigo-irmão, uma pequeno apartamento no bairro do Alto da Boa-Vista, no Vale Encantando. De lá se avista toda a Barra da Tijuca até o fim do Recreio dos Bandeirantes.  Oscar reformou aquele apartamento para o seu amigo, de tal forma que de qualquer lugar que estivesse, Darcy (que era pequeno de estatura), pudesse ver sempre o mar. Fez um estrado de uns 50 centrímetros de altura E como não podia deixar de ser, com uma bela curva de canto, qual onda do mar ou corpo da mulher amada. Ai me recolho quando quero escrever e meditar um pouco, pois um teólogo deve cuidar também de salvar a sua alma.
Por duas vezes se ofereceu para fazer uma maquete de igrejinha para o sítio onde moro em Araras em Petrópolis. Relutei, pois considerava injusto valorizar minha propriedade com uma peça de um gênio como Oscar. Finalmente, Deus não está nem no céu nem na terra, está lá onde as portas da casa estão abertas.
A vida não está destinada a desaparecer na morte mas a se transfigurar alquimicamente através da morte. Oscar Niemeyer apenas passou para o outro lado da vida, para o lado invisível. Mas o invisível faz parte do visível. Por isso ele não está ausente,  mas está presente, apenas invisível. Mas sempre com a mesma doçura, suavidade, amizade, solidariedade e amorosidade que permanentemente o caracterizou. E de lá onde estiver, estará fantasiando, projetando e criando mundos belos, curvos e cheios de leveza.

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A estratégia do Golpe preventivo.


Publicado em 28/05/2013

CAIXA: GOLPE DO
“ERRO” É UMA FRAUDE

O Golpe tinha pernas curtas: a corrida foi no sábado e o erro, na segunda.
Os telejornais (sic) do Gilberto Freire com “i” (*) reproduziram a tecnologia da bolinha de papel que pesava dois quilos, e os “aloprados” que foram usados para abafar o escândalo das ambulâncias amplamente super-faturadas na jestão Cerra no Ministério da Saúde.

É a estratégia do Golpe preventivo.

Como os boatos que provocaram uma corrida às agências da Caixa podem revelar uma esperteza que seria empregada no calor da eleição presidencial do ano que vem, o PiG (**) saiu lépido em busca do “erro” da Caixa que provocou a corrida.

É o que fizeram todos os telejornais (sic) do Freire com “i”: a culpa é da Caixa, antes que …

Diz a manchete do Globo desta terça-feira:

“Governo culpa 3º escalão por erro (sic) …”

Estadão, em comatoso estado:

“Caixa admite erro”…

Folha (***):

“Caixa admite que cometeu erro”…


Em coro.

Parece ensaiado.

E é.

É preciso desmoralizar o Bolsa Família – como tenta o Eduardo – e o Enem, obras do Nunca Dantes.

(O Enem bateu record, com mais de 7 milhões de inscritos, e o Bom (?) Dia Brasil fez uma “reportagem” sobre os defeitos …

Deve ser porque os filhos do Dr Roberto – eles não têm nome próprio – jamais se deram ao trabalho de fazer vestibular para uma faculdade. Nasceram sabendo.)

Leia a seguir uma nota oficial da Caixa sobre a fraude do Golpe  Golpe,  e a entrevista que o ansioso blogueiro fez, por telefone, com José Urbano Duarte, vice-presidente de Governo da Caixa:


PHA: Eu vou conversar agora com José Urbano Duarte. Ele é Vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal. Entre setembro de 2009 e dezembro de 2010, ele conduziu a gestão do programa “Minha Casa Minha Vida”, como Superintendente Nacional na área criada para essa finalidade. Em janeiro de 2011, ele ocupou a Superintendência Geral em Brasília, até assumir esse novo cargo de Vice-presidente de Governo.  Eu gostaria primeiro de estabelecer uma certa cronologia – para que eu possa entender e também os nossos leitores e os nossos ouvintes do Conversa Afiada

Nos dias 18 e 19 desse mês, houve uma corrida aos postos de recebimento do Bolsa Família em muitos estados do País. 

Boatos que criaram a expectativa de que não teria dinheiro para pagar. O presidente da Caixa, Jorge Hereda confirmou que, no dia 17, véspera dos boatos, houve uma mudança na escala de pagamento, e todo o dinheiro do programa foi liberado – eu estou lendo aqui a primeira página do jornal Folha de São Paulo.

Eu lhe pergunto: existe uma relação entre essa mudança na escala de pagamentos e a corrida ?


Urbano: Olha, nós não acreditamos nisso. E não é apenas por uma percepção individual da Caixa. É em função de um histórico. Por quê ? As pessoas sempre vão receber seus benefícios naquele dia em que está definido no seu cronograma. Então, não haveria nenhum motivo para que fossem antes. Além disso, quando a gente compara historicamente os pagamentos, a gente verifica que no dia em que é liberado o pagamento de um determinado grupo de famílias, cerca de 70%, no limite 80%, vão naquele mesmo dia receber. Muitos deixam para receber em dias posteriores, porque é mais convenientes para eles.  Não existe nenhum tipo de motivação que levasse a esse recebimento, ou a essa corrida. Especialmente num sábado à tarde. No dia da própria abertura, na sexta-feira (17), a quantidade de pagamentos  foi inferior à quantidade de pagamentos que teve, por exemplo, na sexta-feira do mês de abril. Então, não havia naquele dia nenhuma anormalidade. Somente no sábado, na parte da tarde, é que começou a ter um movimento adicional. 

PHA: A partir de quando a mudança começou a funcionar? Na sexta-feira ?
Urbano: Seria possível as pessoas sacarem já na sexta-feira (17), mas não ocorreu esse movimento que aconteceu sábado à tarde. Só aconteceu sábado à tarde, com um detalhe: não foram em todos estados e todas as cidades: (os saques) foram concentrados em treze estados. Em diversos  estados do País o movimento – mesmo no sábado – foi normal.  Nós não tivemos que tomar nenhuma medida extraordinária para administrar o fluxo adicional de pessoas em nossas unidades. 

PHA: Então, para fixar corretamente: a mudança começou a ser efetuada na sexta-feira (17) e a corrida foi na tarde de sábado (18). 
Urbano: Exatamente.

PHA: E esse movimento de sexta-feira foi absolutamente igual ao da sexta-feira anterior. E a corrida não se registrou no País inteiro – o que teria ocorrido se a causa fosse a mudança da escala (de pagamentos). 

Urbano: É, a nossa visão, a nossa análise, é exatamente essa. Não faz sentido para nós que tenha acontecido em alguns lugares e não tenha acontecido em outros. Que tenha acontecido no dia seguinte e não tenha acontecido na sexta.  Mas, enfim, evidente que ,em função do fato e da proporção que tomou, a Polícia Federal vai investigar e chegar às conclusões. Nós estamos dando todas as informações para que eles possam chegar a uma conclusão. Mas a nossa leitura é exatamente essa que você fez. 

PHA: José Urbano, qual foi o erro, a informação equivocada, pela qual o presidente da Caixa, Jorge Hereda – pediu desculpas ? É que no “Bom Dia Brasil” de hoje e no “Jornal Nacional” de ontem, o senhor, José Urbano Duarte, é responsabilizado por ter cometido esse erro. Qual foi esse erro? Se é que se pode chamar assim. 
Urbano: Esse erro foi o seguinte, Paulo: durante o final de semana, no sábado e no domingo, as agências estão fechadas. Então, você não tem uma estrutura de atuação que você tem em uma segunda, uma terça, enfim, em um dia de útil.  Então, o que nós focamos no final de semana, foi em tentar administrar um movimento atípico, um momento absolutamente atípico em uma agência bancária num final de semana. Nós tínhamos todo o interesse em fazer com que esse movimento voltasse à normalidade. Então as nossas medidas no sábado e no domingo eram de passar tranquilidade para as famílias, para que elas soubessem que (o boato) não era verdade. Quando nós chegamos às agências no final de semana, o que as pessoas verbalizavam era que estavam indo lá porque tinham recebido a informação de que o Bolsa Família ia acabar naquele sábado à noite, e quem não fosse lá receber ia perder.  Fruto disso, nós tínhamos o objetivo de passar tranquilidade. Esse foi o nosso foco durante todo o fim de semana. Na segunda-feira de manhã (20), eu dei uma entrevista ao “Bom Dia Brasil”, em que me foi perguntado quando a gente abriu para pagamento. A informação que eu tinha naquele momento, inclusive por que na sexta-feira tinha sido tudo absolutamente normal, era que a abertura tinha acontecido no sábado – inclusive em função do problema. E não era isso. A abertura tinha acontecido já na sexta-feira, embora não tenha acontecido [a corrida de saques] na sexta-feira. Em relação a isso é que a gente se retratou. 

PHA: Para deixar claro de novo. Sua entrevista foi na segunda-feira, às sete horas da manhã. Portanto, a corrida já havia acontecido no sábado e no domingo. Então não há nenhuma relação entre sua entrevista e a corrida?
Urbano: Perfeitamente, minha entrevista não foi motivadora disso porque ela foi posterior ao problema.  Eu tinha uma informação imprecisa e validei ela durante a entrevista. Hoje as pessoas fazem uma imagem de que isso foi incorreto. E foi incorreto mesmo, eu tinha que ter a informação naquele momento, não tinha, e por isso a gente se desculpou. Mas não acredito que essa informação tenha causado alguma coisa no passado. 

PHA: Ou seja, não há relação de causa e efeito entre uma entrevista dada ao “Bom Dia Brasil” – o programa se chama “Bom Dia Brasil”, o que é uma liberdade, uma vez que deveria se chamar “Mau Dia Brasil”.
Urbano: Risos.

PHA: … o programa chamado “Bom Dia Brasil”  vai ao ar às sete e trinta da manhã, horário de Brasília. Logo, (uma entrevista) na segunda-feira às sete e trinta da manhã não podia causar uma corrida na tarde de sábado, não é isso?
Urbano: Perfeito, Paulo. Nossa avaliação é essa também.

Clique na barra abaixo para ouvir a entrevista.



Clique aqui para ver na TV Afiada “Zé Cardozo e os boatos: ‘não me comprometa !’”.

aqui para votar na trepidante enquete “Quem o zé Cardozo vai culpar pelos boatos ?”.


NOTA DA CAIXA

A Caixa Econômica Federal afirma que não há qualquer relação entre a movimentação verificada a partir das 13 horas de sábado (18), em alguns estados (13 estados no total), e a flexibilização do saque do benefício do Bolsa Família fora da data prevista no calendário de pagamentos do Programa. Ao contrário, o fato de o calendário estar liberado evitou um problema maior caso as famílias não tivessem acesso ao seu benefício. 

Diante dos acontecimentos do fim de semana, a preocupação do banco naquele momento era transmitir segurança e tranquilidade aos beneficiários de que os pagamentos estavam assegurados, além de evitar quaisquer outros fatos que provocassem o surgimento de novos tumultos, principalmente em razão das consequências danosas dos boatos. A partir de segunda-feira (20), o pagamento foi normalizado em todos os estados.

A CAIXA faz a gestão do programa Bolsa Família há dez anos. Em 2012, o banco realizou 156,1 milhões de pagamentos de benefícios do Programa, no valor de R$ 20,2 bilhões. No primeiro quadrimestre de 2013, foram pagos 52,2 milhões de benefícios, no valor de R$ 7,6 bilhões. 

Em março deste ano, foi implantado o novo Cadastro de Informações Sociais, que conta com cerca de 200 milhões de número de inscrições, com o objetivo de aprimorar o sistema e controles. 

Nesse processo, aproximadamente 700 mil beneficiários tiveram seu NIS (Número de Inscrição) unificado, fazendo com que aqueles que tivessem mais de um número de inscrição passassem a ter apenas um, valendo o NIS mais antigo. 

Para garantir que esses beneficiários não estivessem impedidos de buscar os seus benefícios nas datas que usualmente tinham por referência, considerando o número que prevaleceu,  foram adotas medidas operacionais de atendimento e acompanhamento dos saques.

As medidas adotadas visaram  assegurar o pagamento aos beneficiários por meio dos cartões que já possuem, garantindo a facilidade do acesso do benefício às famílias.  O comportamento das famílias observado ao longo de dez anos de gestão do Programa é de busca do pagamento do benefício na data do calendário. 

Assim, foi implementada a flexibilização, provisória e temporária, para o início do calendário da folha do mês de maio, tendo como determinante o comportamento histórico da procura pelo saque dos benefícios e, principalmente, a premissa de sempre e necessariamente assegurar o acesso ao Bolsa Família,  já que o Programa tem entre suas finalidades a transferência de renda para promoção do alívio imediato da pobreza. 

Considerando que as condições de saque do programa são conhecidas pelos beneficiários, inclusive quanto à validade de 90 dias das parcelas mensais do Programa e que existe um comportamento habitual de procura mensal pelo benefício, no qual 20% a 30% das famílias não buscam o benefício na data prevista, não houve divulgação das medidas adotadas. 

Tanto é assim, que não houve alteração da quantidade histórica de pagamento. Na sexta-feira (17), o volume de saques foi inclusive inferior ao mesmo período do mês anterior, com um total de 649 mil saques. Em abril de 2013, foram realizados 852 mil saques no primeiro dia do calendário. Portanto, os dados atestam a normalidade dos pagamentos realizados durante toda a sexta-feira (17) e também na manhã do sábado (18) em todos estados do país.

Somente em torno das 13 horas do sábado (18) é que se verifica o início da anormalidade de saques particularmente em alguns estados, quando também começaram a circular notícias sobre os boatos em relação ao Bolsa Família. Os demais estados mantiveram a normalidade dos pagamentos. 

Os dados reforçam que não foi a flexibilização dos pagamentos que causou corrida às agências e canais de atendimento da CAIXA. 

Para garantir o acesso aos benefícios e a integridade física das pessoas, o banco manteve o procedimento de disponibilizar os pagamentos durante o fim de semana, independente da data prevista no calendário de pagamentos.

O banco tem total interesse na apuração dos fatos e reafirma que aguarda as investigações da Polícia Federal em relação a origem dos boatos.

27/05/2013
Assessoria de Imprensa da CAIXA



(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(***) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Supremas videocassetadas

Supremas videocassetadas


Videocassetadas no STF (Supremo Tribunal Federal) deveria ser apenas um ministro cochilando, um café derramado, um assessor deixando cair uma pilha de pastas, alguma gafe, enfim coisas prosaicas do cotidiano, sem maiores consequências.

Mas, infelizmente, surgem videocassetadas no STF justamente onde não poderia haver: erros rudimentares na sentença dos juízes (que se declaram possuidores de notória sabedoria).

O vídeo acima é uma dessas videocassetadas, e está longe de ser a única. Quem já tomou conhecimento dos recursos dos réus do julgamento do "mensalão" identificou dezenas de outras.

É por isso que desde o começo pedimos um julgamento com o devido rigor não só com os réus, mas também com os fatos, com as provas, com a individualização de condutas, e com a sobriedade que exigia distanciamento da campanha eleitoral, distanciamento de versões fantasiosas plantadas insistentemente no noticiário, e sobretudo distanciamento de fazer um julgamento político e não criminal.

Aliás, notório saber seria não se deixar pautar por pressões da mídia, e sim pautar a mídia com a verdade dos acontecimentos, de acordo com as provas e com as situações realistas em que os acontecimentos ocorreram. Nem mais, nem menos.

Pelo jeito, quem fará esse serviço de revelar notório saber jurídico, e o trabalho de esclarecer a verdade dos fatos, serão os advogados de defesa ao reapresentarem as provas ignoradas que contradizem as sentenças.

Deve ser por isso que a velha mídia e os juízes do STF perderam a pressa em julgar os recursos. Será um festival de supremas videocassetadas

.Blog da Helena — Rede Brasil Atual

A história de uma farsa – Capítulo 6

A História não anda de avião

A história de uma farsa – Capítulo 6
Homenagem a um jornalista
Outrora se falava que “ainda existem juízes em Berlim”, referindo-se aos derradeiros magistrados que resistiram à sanha nazista e defenderam princípios constitucionais numa Alemanha mergulhada em profunda crise. Que grande ironia assistir, num Brasil que vive o apogeu de sua democracia e goza de sólida estabilidade econômica, a inversão dessa frase. Não existem mais juízes em Brasília? Essa pergunta ainda está no ar, visto que há um fiapo de esperança de vermos o STF evitar a desmoralização de se render às forças do atraso e à arbitrariedade. Mas a frase vale para uma outra atividade crucial quando se discute este processo político e judiciário conhecido por “mensalão”. Ainda existem jornalistas no Brasil? Felizmente, sim. Endereço a frase especialmente para o editor da revista Retrato do Brasil, Raimundo Pereira, que realizou um trabalho criterioso e completo para descontruir as mentiras contidas na denúncia da Ação Penal 470.
Se durante o julgamento, as matérias de Pereira fossem publicadas num jornal de grande circulação e seu conteúdo fosse adaptado para a televisão, outro seria o destino dos réus, e poderíamos testemunhar um outro debate, bem mais consequente. Estaríamos agora discutindo, de maneira mais objetiva, um fato gravíssimo: a construção de uma conspirata política para derrubar um governo eleito, ao arrepio de inúmeros direitos constitucionais consagrados. A procuradoria e alguns ministros lançaram cidadãos na fogueira da vergonha pública apenas para provar uma tese pré-montada.
Relendo a Edição Especial da Retrato do Brasil, cuja manchete é “A Construção do Mensalão”, e a edição número 65, intitulada “A Prova do erro do STF”, senti o alívio de constatar que parte do trabalho que eu me dispunha a fazer, já está pronto, o que me deixa um caminho aberto para passar à etapa seguinte, a análise das consequências. O material coletado por Pereira derruba as teorias centrais da denúncia da Procuradoria. A demolição que faz no caso Visanet, inclusive publicando os documentos que os juízes se recusaram a ver, é particularmente arrasadora. Não sobra pedra sobre pedra.
Consulte o site www.retratodobrasil.com.br, ou ligue para 11-3814 9030 para solicitar as edições que tratam da Ação Penal 470.
Pereira faz o serviço que caberia a um juiz honrado: inocenta Henrique Pizzolato consultando os documentos apresentados pelo próprio réu à acusação. E ainda envereda por um caminho que eu também procurei trilhar nessa história: o aspecto humano. É um aspecto essencial porque nos faz pôr de lado, por um momento, as paixões políticas.
Perdoem-me insistir tanto na figura de Pizzolato. Não sou advogado dele, não temos nenhum acordo pecuniário. Minha insistência se dá por várias razões. Primeiro, por praticidade. Ele mora perto da minha casa, é uma figura de fácil acesso, e sua vida familiar hoje tem apenas um objetivo: provar sua inocência; com toda a calma e convicção, conta o que aconteceu, mostra os documentos, esclarece e procura nos olhos do interlocutor uma explicação plausível para a arbitrariedade terrível que lhe esmagou.
Segundo, por razões de afinidade: Pizzolato não é uma celebridade, como José Dirceu, cercado de fãs e frenesi militante. É um indivíduo pacato, de hábitos extremamente simples. Seria um pouco inexato chamá-lo de “um homem comum”, porque não é fácil encontrar gente com uma história tão bonita. Uma história de conquistas, luta política, grandes sonhos. Foi o primeiro diretor sindical eleito para cargo de representação funcional na administração do Banco do Brasil. Foi um dos articuladores, junto ao Banco, da campanha contra a fome idealizada por Betinho, junto do qual viajou todo o país, iniciativa que abriria caminho para Lula mais tarde fazer suas caravanas da cidadania. Na campanha de 2002, idealizou os kits de apoio a Lula para a Classe A, as famosas estrelinhas douradas, que tanto ajudaram a quebrar o preconceito das elites contra o PT. Como diretor de marketing do BB, levou a cabo várias inovações, muitas das quais hoje passaram por retrocesso; e tinha planos de fazer inúmeras outras, que poderiam trazer benefícios à instituição e ao país.
Terceiro, porque derrubando a acusação contra Pizzolato, desmonta-se um dos suportes cruciais da Ação Penal 470, o uso de dinheiro público no mensalão, que serviu à Procuradoria e ao STF para rechaçar a tese da defesa, de que os volumes movimentados corresponderiam a um caixa 2 de campanha eleitoral.
A principal razão, sobretudo, do meu interesse na figura de Pizzolato é que sua condenação (e o linchamento moral que sofreu, ainda mais severo) simboliza o caso mais chocante de arbitrariedade que já testemunhei. Me fez pensar inclusive na diferença entre  injustiça e arbitrariedade.
Uma coisa é a injustiça, para o qual sempre concorrem as agruras do destino e cujas responsabilidades se diluem por todo o corpo social e pelo tempo histórico. Uma criança famélica vagando nas ruas da nossa cidade é culpa de todos nós, é culpa da nossa história, mas justamente por essa culpa distribuir-se tanto, ela perde força em nossa consciência. Viramos o rosto e seguimos em frente. Não podemos consertar tudo.
Uma arbitrariedade é diferente. Não é, como a injustiça,  uma consequência de vícios históricos; ela tem um rosto ou vários rostos, e emerge de um ambiente de violência extrema, no caso a violência covarde dos estamentos conservadores da sociedade (mídia corporativa, certa elite aristocrática do funcionalismo, setores raivosos da classe média) contra um ou mais indivíduos, sem lhe dar chance de se defender.
Eu me recuso a aceitar ser responsável pela arbitrariedade cometida contra Pizzolato; sinto-me, ao contrário, também uma vítima. Sinto-me vulnerável. O que aconteceu a ele poderia acontecer a qualquer um. Claro, o fato de ser petista e ter lutado, a vida inteira, por justiça social, ajuda a virar alvo.
Não é uma arbitrariedade que se poderia atribuir a uma confusão judiciária. Tanto os procuradores quanto Joaquim Barbosa, que desde o início tinham acesso aos documentos, dispunham de provas que o inocentavam completamente. Não só ignoraram essas provas. Ocultaram-nas! Isso é o mais chocante. Documentos fundamentais para se esclarecer a relação entre BB, Visanet e DNA foram simplesmente escondidos embaixo do tapete pela procuradoria – e igualmente ignorados por Joaquim Barbosa. Destacamos, principalmente, os pareceres jurídicos do BB em relação à Visanet e o Regulamento do Fundo de Marketing, da própria Visanet (de 2001), que derrubam a tese de que os recursos eram do BB; e o Laudo 2828, que inocenta Pizzolato.
Se falássemos de uma comarca do interior, sempre poderíamos esperar que Pizzolato, que não tem direito a fóro privilegiado, poderia apelar para uma segunda instância, ou seja, para o Supremo. Mas não. Ele foi lançado diretamente para o último círculo do inferno, sem esperança de redenção!
Temos, portanto, uma situação de absoluta ironia. O julgamento vendido à sociedade como uma vitória da ética sobre a política foi, na verdade, um espetáculo grotesco de desonestidade, tanto por parte da procuradoria quanto por parte de ministros do STF.
Joaquim Barbosa, pintado pela revista Veja como o “menino que mudou o Brasil”, entrará para história como um dos mais incompetentes e desonestos juízes que já passaram pelo Supremo Tribunal Federal. A responsabilidade de Barbosa é particularmente grave porque ele acompanhou os inquéritos desde o início, antes mesmo de se tornarem a Ação Penal 470. Foi dele a decisão de manter toda a documentação fora do alcance dos próprios ministros do STF, até pouco antes do julgamento, de maneira que estes, sem tempo hábil para estudar a contento o processo, inclinaram-se a seguir a orientação do relator, ou seja, o próprio Joaquim Barbosa.
E agora, que os embargos trazem à tôna um oceano de inconsistências, mentiras e arbitrariedades, o próprio STF se vê numa sinuca de bico. Assistimos a uma interessante mudança nos ventos. O barquinho dos réus, que se dirigia aceleradamente na direção da cascata, onde se despedaçaria nas pedras lá embaixo, prendeu-se a um galho na margem e pode vir a ganhar proteção de uma rocha logo à frente.
O que eu temo, contudo, é que a sociedade se contente com uma migalha: que os embargos façam os ministros reverem as penas de Dirceu e Genoíno, que os dois não sejam encarcerados em regime fechado ou mesmo semi-aberto; mas os outros réus sejam lançados aos leões para satisfazer o circo romano da opinião publicada. Não penso apenas em Pizzolato, mas naquelas secretárias, algumas condenadas a penas superiores a conferidas a homicidas confessos. O que elas têm a ver com as negociatas políticas dos partidos ou, pior, com a trama ficcional inventada pela acusação e aceita pelo STF?
Estamos na Roma Antiga ou no Brasil do Século XXI?
A luta da sociedade, hoje, não é apenas evitar o dano político causado pela prisão, absurda e injusta, de José Dirceu, mas para salvar a honra do Supremo Tribunal Federal (STF) da vergonha histórica de pactuar com um golpe. Nos colégios e universidades, os professores já estão tendo que oferecer uma versão do que foi o mensalão. O Ministério da Educação terá que patrocinar livros de história que tratam do assunto. O que ensinaremos?
Lembro de Gilmar Mendes, com sua boca mole, vociferando em frente às câmeras da TV Justiça: “O que fizeram com o Banco do Brasil?” Pois é, melhor seria se perguntar: “Meu Deus, o que fizeram com o STF?”
O governo federal se manteve até agora intimidado, assistindo a tudo de camarote, mas não poderá fugir da luta final. Tem de investir pesado na disseminação das reportagens de Raimundo Pereira. Tem obrigação moral, educativa, de oferecer o outro lado dessa história. Sabemos, no entanto, que o mensalão teve como objetivo justamente pôr um cabresto no governo. Conseguiu. Jamais nenhum ministro de Estado protestou, de maneira clara, contra o desequilíbrio na cobertura do mensalão. Alguns, ao contrário, inicialmente até tentaram fazer do caso “uma página virada”, como se fosse natural, em pleno século XXI, cometermos sacrifícios humanos em prol de um projeto político.
O que, aliás, nem é o caso. O principal partido de oposição, o PSDB, incorporou de vez todas as características do antigo udenismo. Diante de um cenário econômico estável, com pleno emprego e salários em alta, o presidenciável Aécio Neves tem aparecido na TV se promovendo como o legítimo representante da ética na política. Em 2012, vimos José Serra atacar seu adversário mostrando imagens de Dirceu na televisão.
A desconstrução da farsa, portanto, deve ser feita não apenas em nome da verdade e da justiça; também cumpre um objetivo político. O povo brasileiro rechaçou um projeto que fracassou; não é justo que seja ludibriado a abraçá-lo novamente induzido por uma mentira disfarçada de “ética”. Não há nada de ético na condenação de inocentes. Ao contrário, se a corrupção política é um mal que corrói o desenvolvimento, a desonestidade judiciária desequilibra a democracia e mina o próprio Estado de Direito.
Com base nos documentos que temos à nossa disposição, estamos tranquilos que a história julgará os fatos com imparcialidade, e virá à tôna a iniquidade e covardia dos procuradores gerais e de alguns ministros do STF. O que nos preocupa, no entanto, é algo relativo à brevidade da vida humana. Por quanto tempo o STF, por submissão a interesses políticos e midiáticos, inflingirá sofrimento a réus inocentes? Por quanto tempo os juízes pretendem interferir na vida política do país mantendo acesa a chama de uma mentira?

Concordo com Paulo Moreira Leite, autor de um excelente livro sobre o tema, de que é uma ilusão achar que teremos “a volta do cipó de aroeira sobre o lombo de quem mandou dar”, no caso do mensalão tucano. Até porque não interessa ao Brasil que as arbitrariedades contra os réus do mensalão sejam chanceladas através de uma repetição da mesma injustiça com réus ligados ao tucanato. Isso não deveria acontecer, e não acontecerá. Os réus tucanos serão julgados em duas instâncias, e o julgamento foi devidamente desmembrado. Serão julgados com calma e objetividade, sem nenhum clima de linchamento.
A volta do cipó não será contra os tucanos. Será contra as arbitrariedades, leviandade, incompetência e desonestidade dos ministros do STF, caso não façam uma revisão total da Ação Penal 470. Joaquim Barbosa se tornou herói dos saguões de aeroporto, mas a História não precisa viajar de avião. A História viaja a pé, descalça, sentindo a terra e contemplando sem pressa a paisagem. Demora mais a ir onde quer, mas chega conhecendo minuciosamente os detalhes, desmascarando hipócritas, desnudando interesses, derrubando farsas.
Esperarei ansiosamente por esse encontro, que assistirei comendo pipocas, entre Joaquim Barbosa e a História…

quarta-feira, 22 de maio de 2013

BOLSA-BOATO

Quem ganha com o bolsa-boato?

Quem diz que está investigando a origem do boato sobre o fim do Bolsa-Família deveria começar por aqueles que se beneficiam de mentiras assim.
Há mais de três dias espalharam a falsa notícia de que iriam acabar com o Bolsa-Família, que se espalhou, sobretudo, nos estados do Nordeste e provocou uma corrida aos terminais da Caixa Econômica e, em alguns lugares, até mesmo quebra-quebras.
Nenhum jornal deu-se ao trabalho de perguntar aos que correram aos caixas automáticos como soube da notícia falsa. Ou publicam que  ‘as pessoas têm medo de falar” como souberam da “notícia”. Centenas de pessoas? Milhares de pessoas? Acabaram de inventar o segredo de multidão….
Ao que parece, a Polícia Federal, até agora, também não perguntou.
Nem se tem notícia de que a Caixa tenha sido procurada pelos jornais para saber em que lugar começou o movimento anormal de saques, primeira providência para localizar os autores do atentado.
O nosso “jornalismo investigativo”, quando se trata de investigar o que fazem a direita e os poderosos, prefere dar mais destaque às declarações ridículas dos tucanos de que isso é para atingi-los.
A tucanagem tem tradição neste tipo de golpe baixo. Este Tijolaço, há três anos, mostrou como havia sites (como o petralhas.com.br) preparados para o uso em difamações pelos dirigentes do PSDB.
Coincidentemente, no mesmo dia dos boatos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu que o partido tratasse o povo “com carinho” (leia aqui) e Aécio Neves afirmava que “o Bolsa-Família é hoje um projeto incorporado, enraizado na paisagem econômica e social e será mantido”.
O que os tucanos – e as elites brasileiras – pensam do Bolsa-Família foi dito de forma claríssima pelo senador (e quase-vice de José Serra) Álvaro Dias e pode ser assistido por qualquer um: as pessoas não querem trabalhar para não perder o Bolsa-Família.
Mas os jornais trazem o mesmíssimo senador acaju vociferando contra a “armação” governista de insinuar que a tucanagem é contra o programa.
Isso não quer dizer que o PSDB tenha disseminado a mentira do sábado. Mas, certamente, o faz beneficiário do “Bolsa-Boato”.
Desde muito antes de Ághata Christie escrever seu primeiro romance, a primeira pergunta que se faz é: a quem este crime beneficia?
Como aconteceu de outras vezes, a presidenta reagiu com firmeza e mandou apurar tudo.
Mas não é improvável que se faça corpo mole na apuração, porque tem gente que acha que, sendo mansinho, vai ganhar o título de “bom menino” da mídia.
Que, por sua vez, não quer saber de “malfeito de direita”.
Não é notícia.


Por: Fernando Brito