sábado, 31 de maio de 2014

A ética dos “homens bons”

A ética dos “homens bons”

31 de maio de 2014 | 12:49 Autor: Fernando Brito
bankgters
Num mundo dominado por um pensamento que coloca o lucro como a razão suprema da  vida social, não é estranho que, ao se pensar no que é ter razão, imagine-se que mais razão tem quem mais dinheiro ganha.
E quem mais razões supremas pode ter senão aqueles que, neste mundo sem razões que não a grana, que os grandes banqueiros internacionais?
Eles são os que dizem, com seus “ratings”, suas “boas práticas” e seus critérios sobre que economias são viáveis e quais são “populismo” insustentável.
Os governos devem, em lugar de ouvir os povos que os elegem, ouvir o mercado, porque é de lá que vem a virtude.
Afinal, o lucro é sempre bom e santo, e os impostos são perversos.
O Estado é mau, ineficiente, perdulário, corrupto.
Mauro Santayana, em seu blog, traz um pequeno relato, abafado por nossa valorosa imprensa, muito ocupada em vasculhar a honradez de todo e qualquer um que defenda um regime de mínimos controles do capital, limitando seus apetites pantagruélicos.
Afinal, os banqueiros são homens bons, diferentes desta camorra política,  à qual, infelizmente, tem-se de suportar, por causa desta coisa miserável chamada voto, que bem podia ser substituída por um conselho dos ricos, porque são eles que, afinal, têm razão porque têm dinheiro.

Os oráculos da pilantragem

Mauro Santayanna
 A Comissão Européia acusou, formalmente, na semana passada, os bancos HSBC, Crédit Agricole e JP Morgan, de promover acordos, por debaixo do pano, para manipular a taxa interbancária EURIBOR – que afeta diretamente o custo dos empréstimos para os tomadores.
 Do golpe, participavam também o Barclays, o Societé Generále, o Royal Bank of Scotland, e o Deutsche Bank, já condenados, pelo mesmo crime, em dezembro, a pagar multa de mais de um bilhão de euros.
   
O Deutsche, maior banco da Alemanha, teve de ser capitalizado em 8 bilhões de euros, esta semana, para  para não quebrar. O Banco Espírito Santo, de Portugal, também a ponto de quebra, foi acusado, pela KPMG, de graves irregularidades em suas contas. E o Crédit Suisse foi condenado a pagar 2.6 bilhões de dólares à justiça dos EUA, por favorecimento ao desvio de divisas e à sonegação de impostos. 
 
Para Bertold Brecht, era melhor fundar um banco que assaltá-lo. E Bernard Shaw lembrava que não há diferença entre o pecado de um ladrão e as virtudes de um banqueiro.
 
O mundo muda. Hoje, uma diferença de menos de 2% separa o peso das seis maiores economias emergentes das seis maiores economias “desenvolvidas” e as reservas em mãos do primeiro grupo quase triplicam as do segundo.
 
Mas, no Brasil, continuamos ouvindo, como se fossem oráculos, a opinião dos banqueiros estrangeiros, que só estão em nosso país para organizar a espoliação sistemática de nossas riquezas e do nosso mercado.
 
Lá fora, a opinião pública chama essa gente de banksters (foto) unindo em uma só palavra o termo bankers(banqueiro) e gangsters (bandidos). 
 
Aqui, o que diz um representante deles – que estão quebrando ou são acusados de crimes em seus países de origem – é sagrado.
 
Independente de quem estiver no poder no governo, o Brasil, se quiser continuar atraindo dinheiro externo, precisa estabelecer instrumentos próprios de defesa da imagem do país lá fora, criando, como se está projetando fazer com os BRICS, agências próprias de qualificação, bancos de fomento, fundos de reserva, etc.
 
Até mesmo porque a credibilidade das principais agências de qualificação que existem hoje está tão baixa, no exterior, quanto a dos bancos, aos quais tantas vezes se aliam e protegem, para enganar e pilhar países e correntistas.    
 
É preciso que aprendamos a não dar ouvidos aos enganosos oráculos da pilantragem.
 
Assim como no Brasil, na China os maiores bancos são estatais, e a dependência de capital externo no mercado financeiro é – até por uma questão estratégica – marginal e quase irrelevante.
 
A diferença que existe entre nós e eles – prestes a se transformar na maior economia do planeta – é que, no Brasil, a opinião de instituições externas, acusadas de envolvimento em duvidosos episódios e nas últimas crises internacionais, orienta e pauta as ações do governo, e vai para a primeira página dos jornais.
 
Em lugares como Pequim e Xangai, o país, os empreendedores e os consumidores, estão se lixando, redondamente, para a opinião dos bancos ocidentais.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha de meu país

Sentir vergonha do próprio país é coisa de gente sem-vergonha

Sugerido por Osvaldo Ferreira
Da Istoé
Marcelo Zero*
Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha do meu país.
Não sinto vergonha dos 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair daquilo que Gandhi chamava de a "pior forma de violência", a miséria.
Agora, eles podem sonhar mais e fazer mais. Tornaram-se cidadãos mais livres e críticos. Isso é muito bom para eles e muito melhor para o Brasil, que fica mais justo e fortalecido. E isso é também muito bom para mim, embora eu não me beneficie diretamente desses programas. Me agrada viver em um país que hoje é um pouco mais justo do que era no passado.
Também não sinto vergonha dos 42 milhões de brasileiros que, nos últimos 10 anos, ascenderam à classe média, ou à nova classe trabalhadora, como queiram.
Eles dinamizaram o mercado de consumo de massa brasileiro e fortaleceram bastante a nossa economia. Graças a eles, o Brasil enfrenta, em condições bem melhores que no passado, a pior crise mundial desde 1929. Graças a eles, o Brasil está mais próspero, mais sólido e menos desigual. Ao contrário de alguns, não me ressinto dessa extraordinária ascensão social. Sinto-me feliz em tê-los ao meu lado nos aeroportos e em outros lugares antes reservados a uma pequena minoria. Sei que, com eles, o Brasil pode voar mais alto.
Não tenho vergonha nenhuma das obras da Copa, mesmo que algumas tenham atrasado. Em sua maioria, são obras que apenas foram aceleradas pela Copa. São, na realidade, obras de mobilidade urbana e de aperfeiçoamento geral da infraestrutura que melhorarão a vida de milhões de brasileiros. Estive no aeroporto de Brasília e fiquei muito bem impressionado com os novos terminais e com a nova facilidade de acesso ao local. Mesmo os novos estádios, que não consumiram um centavo sequer do orçamento, impressionam. Lembro-me de velhos estádios imundos, inseguros, desconfortáveis e caindo aos pedaços. Me agrada saber que, agora, os torcedores vão ter a sua disposição estádios decentes. Acho que eles merecem. Me agrada ainda mais saber que tido isso vem sendo construído com um gasto efetivo que representa somente uma pequena fração do que é investido em Saúde e Educação. Gostaria, é claro, que todas as obras do Brasil fossem muito bem planejadas e executadas. Que não houvesse aditivos, atrasos, superfaturamentos e goteiras. Prefiro, no entanto, ver o Brasil em obras que voltar ao passado do país que não tinha obras estruturantes, e tampouco perspectivas de melhorar.
Tranquiliza-me saber que o Brasil tem um sistema de saúde público, ainda que falho e com grandes limitações. Já usei hospitais públicos e, mesmo com todas as deficiências do atendimento, sai de lá curado e sem ter gasto um centavo. Centenas de milhares de brasileiros fazem a mesma coisa todos os anos. Cerca de 50 milhões de norte-americanos, habitantes da maior economia do planeta e que não têm plano de saúde, não podem fazer a mesma coisa, pois lá não há saúde pública. Obama, a muito custo, está encontrando uma solução para essa vergonha. Gostaria, é óbvio, que o SUS fosse igual ao sistema de saúde pública da França ou de Cuba. Porém, sinto muito orgulho do Mais Médicos, um programa que vem levando atendimento básico à saúde a milhões de brasileiros que vivem em regiões pobres e muito isoladas. Sinto alívio em saber que, na hora da dor e da doença, agora eles vão ter a quem recorrer. Sinto orgulho, mas muito orgulho mesmo, desses médicos que colocam a solidariedade acima da mercantilização da medicina.
Estou também muito orgulhoso de programas como o Prouni, o Reuni, o Fies, o Enem e os das cotas, que estão abrindo as portas das universidades para os mais pobres, os afrodescendentes e os egressos da escola pública.
Tenho uma sobrinha extremamente talentosa que mora no EUA e que conseguiu a façanha de ser aceita, com facilidade, nas três melhores universidades daquele país. Mas ela vai ter de estudar numa universidade de segunda linha, pois a família, muito afetada pela recessão, não tem condição de pagar os custos escorchantes de uma universidade de ponta. Acho isso uma vergonha.
Não quero isso para o meu país. Alfabetizei-me e fiz minha graduação e meu mestrado em instituições públicas brasileiras. Quero que todos os brasileiros possam ter as oportunidades que eu tive. Por isso, aplaudo a duplicação das vagas nas universidades federais, a triplicação do número de institutos e escolas técnicas, o Pronatec, o maior programa de ensino profissionalizante do país, o programa de creches e pré-escolas e o Ciência Sem Fronteiras. Gostaria, é claro, que a nossa educação pública já fosse igual à da Finlândia, mas reconheço que esses programas estão, aos poucos, construindo um sistema de educação universal e de qualidade.
Tenho imenso orgulho da Petrobras, a maior e mais bem-sucedida empresa brasileira, que agora é vergonhosamente atacada por motivos eleitoreiros e pelos interesses daqueles que querem botar a mão no pré-sal. Nos últimos 10 anos, a Petrobras, que fora muito fragilizada e ameaçada de privatização, se fortaleceu bastante, passando de um valor de cerca de R$ 30 bilhões para R$ 184 bilhões. Não bastasse, descobriu o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.
Isso seria motivo de orgulho para qualquer empresa e para qualquer país. Orgulha ainda mais, porém, o fato de que agora, ao contrário do que acontecia no passado, a Petrobras dinamiza a indústria naval e toda a cadeia de petróleo, demandando bens e serviços no Brasil e gerando emprego e renda aqui; não em Cingapura. Vergonha era a Petrobrax. Pasadena pode ter sido um erro de cálculo, mas a Petrobrax era um crime premeditado.
Vejo, com satisfação, que hoje a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outros órgãos de controle estão bastante fortalecidos e atuam com muita desenvoltura contra a corrupção e outros desmandos administrativos. Sei que hoje posso, com base na Lei da Transparência, demandar qualquer informação a todo órgão público. Isso me faz sentir mais cidadão. Estamos já muito longe da vergonha dos tempos do "engavetador-geral". Um tempo constrangedor e opaco em que se engavetavam milhares processos e não se investigava nada de significativo.
Também já se foram os idos vergonhosos em que tínhamos que mendigar dinheiro ao FMI, o qual nos impunha um receituário indigesto que aumentava o desemprego e diminuía salários. Hoje, somos credores do FMI e um país muito respeitado e cortejado em nível mundial. E nenhum representante nosso se submete mais à humilhação de ficar tirando sapatos em aeroportos. Sinto orgulho desse país mais forte e soberano.
Um país que, mesmo em meio à pior recessão mundial desde 1929, consegue alcançar as suas menores taxas de desemprego, aumentar o salário mínimo em 72% e prosseguir firme na redução de suas desigualdades e na eliminação da pobreza extrema.
Sinto alegria com esse Brasil que não mais sacrifica seus trabalhadores para combater as crises econômicas.
Acho que não dá para deixar de se orgulhar desse novo país mais justo igualitário e forte que está surgindo. Não é ainda o país dos meus sonhos, nem o país dos sonhos de ninguém. Mas já é um país que já nos permite sonhar com dias bem melhores para todos os brasileiros. Um país que está no rumo correto do desenvolvimento com distribuição de renda e eliminação da pobreza. Um país que não quer mais a volta dos pesadelos do passado.
Esse novo país mal começou. Sei bem que ainda há muito porque se indignar no Brasil.
E é bom manter essa chama da indignação acessa. Foi ela que nos trouxe até aqui e é ela que nos vai levar a tempos bem melhores. Enquanto houver um só brasileiro injustiçado e tolhido em seus direitos, todos temos de nos indignar.
Mas sentir vergonha do próprio país, nunca. Isso é coisa de gente sem-vergonha.
(*) Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela UnB 

OS ÓRFÃOS DE JOAQUIM BARBOSA

LEBLON: OS ÓRFÃOS
DE JOAQUIM BARBOSA

Órfão da toga justiceira, Arrocho Neves tenta vestir fantasia de justiceiro social.
O Conversa Afiada reproduz editorial de Saul Leblon, extraído da Carta Maior:

OS ÓRFÃOS DE JOAQUIM BARBOSA



Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma fantasia de justiceiro social, esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

por: Saul Leblon

Joaquim Barbosa deixa a cena política como um farrapo do personagem desfrutável que se ofereceu um dia ao conservadorismo brasileiro.

Na verdade, não era  mais funcional ter a legenda política associada a ele.

Sua permanência à frente do STF  tornara-se insustentável.

Vinte e quatro horas antes de comunicar a aposentadoria,  já era identificado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, como um fator de insegurança jurídica para o país.

A OAB o rechaçava.

O mundo jurídico manifestava constrangimento diante da incontinência autoritária.

A colérica desenvoltura com que transgredia  a fronteira que separa o sentimento de  vingança e ódio da ideia de justiça, inquietava os grandes nomes do Direito.

Havia um déspota sob a toga que presidia a Suprema Corte do país.

E ele não hesitava em implodir o alicerce da equidistância republicana que  confere à Justiça o consentimento legal,  a distingui-la dos linchamentos falangistas.

O obscurantismo vira ali, originalmente, o cavalo receptivo a um enxerto capaz de atalhar o acesso a um poder que sistematicamente lhe fora negado pelas urnas.
Barbosa retribuía a ração de holofotes e bajulações mercadejando ações cuidadosamente dirigidas ao desfrute da propaganda conservadora.

Na indisfarçada  perseguição a José Dirceu, atropelou decisão de seus pares pondo em risco  um sistema prisional em que 77 mil sentenciados desfrutam o mesmo semiaberto subtraído ao ex-ministro.

Desde o início do julgamento da AP 470  deixaria  nítido o propósito de atropelar o rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão midiática.

Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia sentenciado os réus  à revelia dos autos, como se viu depois,  sendo-lhe  maçante e ostensivamente desagradável submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.

O artificioso recurso do domínio do fato, evocado como uma autorização para condenar sem provas, sintetizou a marca nodosa de sua relatoria.

A expedição de mandatos de prisão no dia da República, e no afogadilho de servir à grade da TV Globo,  atestaria a natureza viciosa de todo o enredo.

A exceção inscrita no julgamento reafirmava-se na execução despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não hesitaria em colocar vidas em risco.

O  que contava era  servir-se da lei. E não servir à lei.

A mídia isenta esponjava-se entre o incentivo e a cumplicidade.

Em nome de um igualitarismo descendente que, finalmente, nivelaria pobres e ricos no sistema prisional,  inoculava na opinião pública o vírus da renúncia à civilização em nome da convergência pela barbárie.

A aposentadoria de Barbosa não apaga essa nódoa.

Ela continuará a manchar o Estado de Direito enquanto não for reparado o arbítrio a que tem sido submetidas lideranças da esquerda brasileira, punidas não pelo endosso, admitido, e reprovável, à prática do caixa 2 eleitoral.

Igual e precedente infração cometida pelo PSDB, e relegada pela toga biliosa, escancara o prioritário sentido da AP 470:   gerar troféus de caça a serem execrados em trunfo no palanque conservador.

A liquefação jurídica e moral de  Joaquim Barbosa nos últimos meses tornou essa estratégia anacrônica e perigosa.

A toga biliosa assumiu, crescentemente, contornos de um coronel Kurtz, o personagem de Marlon Brando, em Apocalypse Now, que se desgarrou do exército americano no Vietnã para criar  a sua própria guerra dentro da guerra.

Na guerra pelo poder, Barbosa lutava a batalha do dia anterior.

Cada vez mais, a disputa eleitoral em curso no país é ditada pelas escolhas que a  transição do desenvolvimento impõe à economia, à sociedade e à democracia.

A luta se dá em campo aberto.

Arrocho ou democracia social desenham  uma encruzilhada de nitidez crescente aos olhos da população.

A demonização do ‘petismo’ não é mais suficiente para sustentar os  interesses conservadores na travessia de ciclo que se anuncia.

Aécio Neves corre contra o tempo para recadastrar seu  apelo no vazio deixado pela esgotamento da judicialização da política.

Enfrenta dificuldades.

Não faz um mês, os centuriões do arrocho fiscal que o assessoram –e a mídia que os repercute–  saíram de faca na boca após o discurso da Presidenta Dilma, na véspera do 1º de Maio.

Criticavam acidamente o reajuste de 10%  aplicado ao benefício do Bolsa Família.

No dia seguinte, numa feira de gado em Uberaba, MG, o tucano ‘não quis assumir o compromisso de aumentar os repasses, caso seja eleito’, noticiou a Folha de SP (02-05).

‘De mim, você jamais ouvirá uma irresponsabilidade de eu assumir qualquer compromisso antes de conhecer os números, antes de reconhecer a realidade do caixa do governo federal”, afirmou Aécio à Folha, na tarde daquela sexta-feira.

Vinte e seis dias depois, o mesmo personagem, algo maleável, digamos assim, fez aprovar, nesta 3ª feira,  na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, uma medida que exclui limites de renda e tempo para a permanência de famílias pobres no programa (leia a reportagem de Najla Passos; nesta pág)

A proposta implica dispêndio adicional que o presidenciável recusava assumir há três semanas.

Que lógica, afinal, move as relações do candidato com o Bolsa Família?

A mesma de seu partido, cuja trajetória naufragou na dificuldade histórica do conservadorismo em lidar com a questão social no país.

Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma inverossímil fantasia de justiceiro social, desde logo esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

A farsa corre o risco de evidenciar seus limites  tão rapidamente quanto a anterior.

A ver.


Joaquim Barbosa, um antibrasileiro

O legado de Joaquim Barbosa, um antibrasileiro
Postado em 29 mai 2014
por : Paulo Nogueira
Uma saída que eleva o Brasil
Uma saída que eleva o Brasil
Se for confirmada a aposentadoria de Joaquim Barbosa para junho, chegará ao fim uma das mais trágicas biografias do sistema jurídico brasileiro.
O legado de Barbosa resume-se em duas palavras absolutamente incompatíveis com a posição de juiz e, mais ainda, de presidente da mais alta corte nacional: ódio e vingança. Foi a negação do brasileiro, um tipo cordial, compassivo e tolerante por natureza.
A posteridade dará a ele o merecido espaço, ao lado de personalidades nocivas ao país como Carlos Lacerda e Jânio Quadros.
Barbosa acabou virando herói da classe média mais reacionária do Brasil e do chamado 1%. Ao mesmo tempo, se tornou uma abominação para as parcelas mais progressistas da sociedade.
É uma excelente notícia para a Justiça. Que os jovens juízes olhem para JB e reflitam: eis o que nós não devemos fazer.
O que será dele?
Dificuldades materiais Joaquim Barbosa não haverá de ter. O 1% não falha aos seus.
Você pode imaginá-lo facilmente como um palestrante altamente requisitado, com cachês na casa de 30 000 reais por uma hora, talvez até mais. Com isso poderá passar longas temporadas em Miami.
Na política, seus passos serão necessariamente limitados. Ambições presidenciais só mediante uma descomunal dose de delírio.
Joaquim Barbosa é adorado por aquele tipo de eleitor ultraconservador que não elege presidente nenhum.
Ele foi, na vida pública brasileira, mais um caso de falso novo, de esperanças de renovação destruída, de expectativas miseravelmente frustradas.
Que o STF se refaça depois do trabalho de profunda desagregação de Joaquim Barbosa em sua curta presidência.
Nunca, desde Lacerda, alguém trouxe tamanha carga de raiva insana à sociedade a serviço do reacionarismo mais petrificado.
Que se vá – e não volte a assombrar os brasileiros.
Vi, em Trafalgar Square, a festa que os ingleses fizeram quando Maggie Thatcher morreu. Um sindicalista contou que abriu e tomou uma garrafa de uísque que guardara durante vinte anos para a ocasião.
Penso aqui comigo que muita gente no Brasil haverá de comemorar o fim de JB como juiz. Mentalmente me uno à festa.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

BRIZOLA, para LULA e DILMA

 Brizola, para Lula e Dilma

25 de maio de 2014 | 16:50 Autor: Fernando Brito
brizola
Nem toda inveja é ruim.
Há inveja das boas, como a que senti lendo este artigo de Rodrigo Vianna, publicado ontem à noite no seu Escrevinhador , que não apenas trata de questões que tenho levantado aqui: de como falham e falharam os governos Lula e Dilma em politizar e ideologizar, no melhor sentido , o processo de ascensão social.
“Dilma e Lula não travaram o combate simbólico, não mostraram de forma didática que 30 milhões de brasileiros saíram da miséria graças a políticas públicas. Esse salto gigantesco não veio (apenas) do esforço individual. É fruto da política. A mesma “política” esculhambada nas rodas de bar, nas ruas, nas telas e nos comentários-padrão de leitores de grandes portais da internet.”
Vianna também percebe o que eu tinha registrado aqui: o povão percebeu o altíssimo coeficiente eleitoral de denúncias, protestos e críticas ao governo, embora várias delas possam ter seus motivos.
E, para eu me roer desta inveja boa dele, Rodrigo, trazer o que era minha obrigação:  as lições que ouvi dúzias de vezes do velho Brizola, tal como as disse no encerramento de sua segunda campanha ao Governo do Rio:
“As pessoas sozinhas, apenas com seus valores originais de ser humano, no uso da razão e do bom senso, sozinhas, se defendem, constroem uma espécie de uma carapaça, de uma proteção entorno da sua mente, de seus valores culturais, daquilo que é original na nossa gente, esse povo assimila o que lhe interessa e se defende da pressão contra sua cultura, contra seus valores, contra seu pensamento autêntico.”
E de ele poder, com mais liberdade que eu, suspeitíssimo, se aventurar numa recomendação:
“O Brasil precisa de uma liderança que aponte caminhos. Dilma precisa ser a Dilma do Primeiro de Maio, e não a Dilma do omelete com Ana Maria Braga.
Dilma e Lula precisam ser mais Brizola… “
Leia (que maravilha!) o pensamento em crônica de Rodrigo Vianna:

Crônica de um povo que resiste ao “caos”

Rodrigo Vianna
Começo da noite numa quinta-feira friorenta em São Paulo. O barbeiro que cuida do que restou de meu cabelo recebe-me preocupado: “Rodrigo, o que tá acontecendo no Brasil?” E ele mesmo responde: “acho que estão querendo derrubar o PT”.
O barbeiro está ressabiado com a onda de violência e pessimismo. Além da barbearia, mantem um pequeno sítio no interior paulista – onde produz mel. Comprou, com financiamento do PRONAF, caminhonete nova para transportar o produto… Longe de ser petista, ele se tornou fã de Lula. E observa tudo, inclusive a onda midiática antiBrasil, como um apicultor observa suas abelhas: há muito zumbido, risco de picadas; mas é preciso produzir o mel.
Corte para 24 horas antes. A moça que faz a limpeza em casa pede pra ir embora mais cedo. “Está uma bagunça na zona sul, Seu Rodrigo. O terminal de ônibus está fechado. Esse povo não tá contente com nada?”. Ela faz planos de abrir um pequeno comércio com o marido. Não leva uma vida maravilhosa. Longe disso. Mas sabe avaliar o que era o Brasil há 10 anos. E o que é hoje.
Conto isso tudo para meu filho, de 18 anos. E ele diz que o garçom – que o atendia dia desses num boteco em São Paulo -  também mostrava desconfiança diante do “caos” que emana das telas e das ruas: “isso aí é jogada política, pra mudar de governo na eleição.”
Sim, o povão está começando a fazer sua leitura dos fatos… Como dizia Brizola (clique aqui, para relembrar o discurso memorável do velho Leonel, durante campanha no Rio, em que ele dizia como enfrentar a Globo e seus aliados): 
“As pessoas sozinhas, apenas com seus valores originais de ser humano, no uso da razão e do bom senso, sozinhas, se defendem, constroem uma espécie de uma carapaça, de uma proteção entorno da sua mente, de seus valores culturais, daquilo que é original na nossa gente, esse povo assimila o que lhe interessa e se defende da pressão [midiática] contra sua cultura, contra seus valores, contra seu pensamento autêntico.”
 Novo corte. Recolho umas camisas sociais, e sigo até a lavanderia perto de casa. A placa salta da vitrine: ”precisa-se de ajudante”. Lá dentro, fila de clientes. O atendimento é gentil e eficiente: típico do povo brasileiro (entre numa lavanderia em Paris ou Londres, e compare).
Mal-humorada é a elite que compra as camisetas da Ellus… A marca – acusada de usar trabalho escravo – estampa em suas camisetas: “abaixo este Brasil atrasado”.
Penso na taxa de desemprego no Brasil (abaixo de 5%), enquanto sigo para outro bairro. Tento parar o carro num estacionamento lotado. Nova placa: “precisa-se de manobrista”. Converso com o rapaz que me atende: “tá faltando gente pra trabalhar?” E ele: “o patrão subiu até o salário inicial, acho que agora vai conseguir um pra me ajudar aqui com os carros”.
Volto a minhas conjecturas. Quem só convive em círculos de classe média deve acreditar que o Brasil está à beira do caos. A classe média está com raiva, muita raiva. E a cobertura midiática reflete essa raiva. Insufla a raiva, dissemina a raiva.
Parte do povão acaba contaminada pelo clima de “caos”. Mas outra parte, enorme, observa tudo com muita inteligência – feito o garçom, a moça da limpeza ou o meu barbeiro. Matreiro, ele encerrou a conversa na quinta-feira com uma piscadela: ”eles querem derrubar a mulher do Lula [assim ele chama a Dilma], mas a gente está entendendo bem o que tá acontecendo…”
Essa desconfiança com o que se vê nas telas da TV, e essa impressionante resistência ao bombardeio midiático são a explicação para que Dilma siga com 40% dos votos em meio ao clima de “pega, esfola e mata”.
Dilma e Lula não travaram o combate simbólico, não mostraram de forma didática que 30 milhões de brasileiros saíram da miséria graças a políticas públicas. Esse salto gigantesco não veio (apenas) do esforço individual. É fruto da política. A mesma “política” esculhambada nas rodas de bar, nas ruas, nas telas e nos comentários-padrão de leitores de grandes portais da internet.
Fiz essa pergunta a Lula, na entrevista aos blogueiros há pouco mais de um mês. “Por que o PT abriu mão do combate simbólico?” E ele: “combate simbólico? mas minha eleição e a de Dilma já são o símbolo”.
O operário-presidente. A mulher-presidente. Símbolos poderosos, de fato… Talvez isso também explique porque uma parte gigantesca da população brasileira permaneça   impermeável à onda de ódio e pessimismo.
Mas é um erro contar apenas com a resistência e a capacidade de análise do povão brasileiro. Ele parece ter compreendido que não há (ainda) um outro projeto para o país. E que a turma sem projeto quer botar fogo no que conseguimos construir a duras penas…
O povão resiste. Mas é preciso oferecer novo projeto: com mais mudança, mais democracia, mais justiça.
O Brasil precisa mudar mais. E não voltar a ser o paraíso dos mervais, jabores, aécios, armínios e dos patéticos que amam a Ellus e detestam o povo brasileiro.
O Brasil precisa de uma liderança que aponte caminhos. Dilma precisa ser a Dilma do Primeiro de Maio, e não a Dilma do omelete com Ana Maria Braga.
Dilma e Lula precisam ser mais Brizola… Aliás, no mesmo discurso citado acima, o líder trabalhista explicava didaticamente:
“A causa deles é tão ruim, é tão miserável, é tao infeliz, que com tudo isso [o aparato midiático] na mão, eles não conseguem pressionar praticamente a ninguém.”
Obrigado, Rodrigo, por ter me dado esta bendita inveja.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Pasadena ganha dois prêmios internacionais!


Enviado por  on 26/05/2014 –
Quando começaram as denúncias contra Pasadena, eu pensava que se tratava de uma refinaria desativada, um elefante branco que a Petrobrás tinha adquirido por engano. Depois ficamos sabendo que ela funcionava. Foi uma grata surpresa! A Petrobrás demorou semanas para dar uma informação tão básica.
Em seguida, descobrimos que ela dava lucro! Não pela Petrobrás, mas por uma repórter incauta da Folha, enviada especial à Pasadena. A matéria dela ficou apenas no site, nunca foi publicada na edição impressa e nenhum outro jornal repercutiu. O texto dizia que Pasadena estava obtendo boas margens de lucro.
A Graça Foster depois afirmou, na primeira vez que compareceu ao Senado, que a refinaria vinha dando lucro, mas não deu detalhes. Na segunda vez que compareceu ao senado, Graça falou em US$ 58 milhões de lucro líquido no primeiro bimestre de 2014. Não disse mais nada. Mudou de assunto.
O site da Petrobrás, no entanto, jamais divulgou o histórico de faturamento e lucro da refinaria.
E agora sabemos que Pasadena acaba de ganhar dois prêmios importantes nos Estados Unidos: um de segurança industrial, outro de segurança no trabalho. A informação foi dada, em primeiro lugar, por Sérgio Gabrielli, na última vez que esteve no senado. Aliás, Gabrielli fez uma brilhante exposição sobre Pasadena, explicando porque ela estava num excelemente momento, aproveitando-se da descoberta do petróleo de xisto na região.
Ou seja, a refinaria que a nossa imprensa vinha chamando de “sucata” vem dando lucro e ganhando prêmios!
Agora é que a CPI da Petrobrás vai pro buraco de vez.
Semana passada, após a fala de Nestor Cerveró sobre Pasadena, o Valor, que vem perdendo seu equilíbrio e se alinhando aos outros jornais na campanha contra Dilma, publicou uma reportagem engraçada, que iniciava com a frase “nada”. É que, como Cerveró, não atacou Dilma, a reportagem então dizia que a sua fala não valeu nada. Para o Valor, o depoimento de Cerveró só valeria se contivesse ataques à presidenta.
É muita cara de pau.
Confira o texto publicado no blog Fatos e Dados.
*
Refinaria de Pasadena recebe prêmio de segurança nos Estados Unidos
A Refinaria de Pasadena (PRSI) recebeu, na última quinta-feira (15/05), duas premiações durante a Conferência Anual da American Fuel and Petrochemical Manufacturers (AFMP – Associação Americana do Setor de Combustíveis e Petroquímica). Nossa refinaria foi contemplada pela excelência de seus resultados em segurança industrial com os prêmios “Award for Safety Achievement” (Prêmio pela Conquista em Segurança), por 365 dias sem acidentes com afastamento, e “Meritorious Safety Award” (Prêmio Meritório em Segurança), por 365 dias sem acidentes reportáveis com empregados próprios.
Além da Refinaria de Pasadena, três empresas contratadas da PRSI foram premiadas na Conferência: The Mundy Company, Ohmstede Services e HydroChem LLC, que receberam o prêmio “Contractor Award for Meritorious Safety Performance” (Premiação Meritória ao Contratado por Desempenho em Segurança), por terem trabalhado mais de 20 mil horas na refinaria sem acidentes reportáveis.
A AFPM foi criada em 1961, com o nome National Petroleum Refiners Association (NPRA – Associação Nacional de Refinadores de Petróleo). Em 2012, tornou-se American Fuel and Petrochemical Manufacturers – AFPM, e realiza, anualmente, a premiação entre as mais de 300 empresas associadas nos Estados Unidos.
A PRSI, localizada na cidade de Pasadena, no Texas (EUA), tem capacidade de refino de 100 mil barris por dia. A unidade tem localização privilegiada, num dos principais centros de petróleo e derivados dos Estados Unidos.
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Para enterrar de vez a oposição, a Petrobrás poderia ter a bondade de nos fornecer ao menos algumas fotos novas de Pasadena. Isso ajudaria a defender a estatal contra os ataques especulativos daqueles que querem transformá-la em bucha de canhão para a oposição entreguista.
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