sábado, 29 de maio de 2010

AMOSTRA DA IMPOSTURA TUCANA

sexta-feira, 28 de maio de 2010

ELEIÇÃO SE GANHA NO VOTO

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Oliver Stone desanca o PIG



FOLHA DE SÃO PAULO – 27/05/2010




OLIVER STONE DIZ QUE LULA NÃO DEVE CONFIAR EM ELOGIOS DE OBAMA



O cineasta americano Oliver Stone (“Platoon”, “JFK”, entre outros) chega ao Brasil na segunda, 31, para lançar “Ao Sul da Fronteira”, documentário sobre sete presidentes da América Latina – com destaque para o venezuelano Hugo Chávez, de quem é admirador. Por telefone, de seu escritório, em Los Angeles, Stone falou à coluna:



Folha – Como é Chávez?



Oliver Stone – Ele é muito acolhedor e amoroso. As notícias sobre ele nos EUA têm sido muito negativas, porque ele mudou as regras. Fez coisas que nenhum outro, exceto Fidel] Castro, havia feito. Ele tem feito coisas novas, assim como Nestor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil. Como Cristina Kierchner diz no filme, as pessoas que estão no poder na América do Sul têm o semblante do povo que as elegeu. Hugo Chávez é um soldado e obviamente tem algumas das faolhas de um soldado. Lula é um sindicalista e tem algumas das falhas de um sindicalista. Mas ambos representam uma grande mudança. E eu espero que dê certo. Porque é o desejo de controlar o seu próprio destino, de ser levado a sério, de não ser ignorado.



O filme é pró-Chávez?



Não é pró-Chávez. Apenas mostra honestamente o que ele está fazendo e o que estão dizendo sobre ele. Não é um documentário longo que vai defender tudo, é uma “roadtrip”. Se fosse pró-Chávez, ele teria três horas a mais.



O presidente Hugo Chávez tenta controlar a mídia na Venezuela…

[Interrompendo] Não mesmo. 80% da mídia na Venezuela é privada, dirigida por ricos que falam mal do governo. Chávez brigou pela liberdade de expressão. Alguns canais e revistas convocaram greves e chamaram as pessoas para um golpe de Estado em 2002. Em meu país, se você fizer isso, sua licença [de TV] será retirada.



Há relatos de jornalistas sobre a pressão do governo.

Estou falando do que vi e ouvi. O governo respeita a liberdade de imprensa, exceto nos casos em que a mídia desrespeita a lei ou tenta um golpe. Aí as licenças das empresas de comunicação não são renovadas. A maioria das TVs do país é dirigida por lunáticos, caras de direita que perderam seu poder quando Chávez nacionalizou o petróleo. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.



O sr. desaprova algo no governo de Chávez?

Ele comete erros assim como qualquer outro governo do mundo. Mas 75% votaram nele em 2006. Nos EUA, a votação de Obama não chegou nem perto. Você não tem ideia de quão pobre era a Venezuela antes de Chávez. Parte por causa do neoliberalismo praticado, inclusive, no seu país, o Brasil. Washington e o FMI não têm interesse, de coração, nas pessoas. Chávez, Lula, Kirchner, [o boliviano Evo] Morales têm. E pagam o preço sendo criticados por pessoas que têm dinheiro e controlam a mídia.



No filme, Lula diz que só quer ser tratado com igualdade. Ele está sendo?

Por quem?



Por líderes do mundo.

Não. Ele e os outros líderes da América do Sul ainda são ignorados. Eu admiro muito o Lula. Ele fez uma coisa nobre indo ao Irã. Ele está tentando manter a sanidade, manter suas posições. Os americanos e europeus acreditam que podem controlar o mundo. Lula representa uma terceira via, de quem não quer a guerra, um caminho fora dessa loucura. Os EUA costumam dizer que Chávez é a má esquerda e Lula, a boa. Isso é nonsense. Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.



Ele disse que Lula é “o cara”.

Eu não confiaria nos EUA. Os americanos sempre jogaram com os brasileiros desde que pudessem controlá-los. Apoiaram o golpe militar no país em 1964. O Brasil sempre esteve no bolso de trás dos EUA, mas agora eles têm que ser mais espertos. Sabem que não podem controlar o Brasil. E Lula é muito importante. Ele se dá com Chávez, com os Kirchner, e com a Colômbia, o Peru e o México, que são aliados dos Estados Unidos.



E Obama?

Nós estamos tentando. Ele é um homem racional, ético, mas faz parte de um grande sistema. Se ele não estivesse lá, estaria John McCain ou Sarah Palin. Você prefere eles? Eu não. Mas, em relação à América Latina, Obama está jogando o mesmo jogo. A reação americana ao golpe em Honduras foi típica.



O sr. vai fazer um documentário sobre o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad?

Não estou pensando nisso no momento. Houve um problema de comunicação. Eu quis fazer o filme, e ele [Ahmadinejad] não quis. Quando ele quis, eu estava fazendo o filme “W”, sobre George W. Bush. (LÍGIA MESQUITA)



“Obama apoiou Lula até quando ele cruzou a linha.”



“A maioria das TVs da Venezuela é dirigida por lunáticos de direita. É uma das imprensas mais histéricas que já vi.”

OLIVER STONE




Do Blog da Cidadania.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

PARA DESCONTRAIR...

O DRAMA DE ANGÉLICA
Alvarenga e Ranchinho.

AS COMPARAÇÕES PERIGOSAS

Um candidato à presidência da República (ou aqui na Alemanha ao posto de Primeiro Ministro) que entrasse numa igreja – de qualquer religião – e dissesse que quem fuma é contra Deus, seria destituído de sua candidatura, nem que seja por tomar seu Santo Nome em vão.

Flávio Aguiar

Normalmente detesto esse tipo de comparação: “ah, aqui na Europa as coisas são assim e assadas; já no Brasil...”. Em geral esse tipo de comparação se estriba em tudo que é preconceito contra a nossa terra, e é coisa de quem se acha “cosmopolita”, e “civilizado em terra tupiniquim...”. E por aí vai. Mas às vezes esse tipo de comparação se torna inevitável.

Vou fazer algumas, tomando por base a Alemanha, falando de certas coisas e outras loisas que pensei, depois de ler sobre atitudes e declarações que me fazem pensar que seus autores estão na situação em que se julga o Visconde de Valmont, n’As ligações perigosas, de Choderlos de Laclos, que, ao considerar sua vítima, Madame de Tourvel, acha que está diante de uma página em branco, o que lhe permite fazer tudo o que lhe aprouver: “O que a sra. me propõe? Seduzir uma jovem que nada viu, nada conhece, que, por assim dizer, me será entregue sem qualquer defesa”... (Carta de Valmont à Marquesa de Merteuil).

1) As coisas.

Um candidato à Presidência da República (ou aqui ao posto de Primeiro Ministro, dito Chanceler) que entrasse numa igreja – de qualquer religião – e dissesse que quem fuma é contra Deus, seria destituído de sua candidatura, nem que seja por tomar seu Santo Nome em vão. Seria indicado como candidato à porteiro da mesma igreja, para deixar de falar besteira e aprender um pouco de humildade.

Um candidato que dissesse a um jornal, peremptoriamente, que “com Fulano do país tal não meu reunirei nunca, nem jamais o convidaria para nos visitar”, levaria uma chamada da direção do partido, além de cair no descrédito generalizado. Provavelmente seria enviado por três semanas ao Iraque ou à Coréia do Norte, para aprender a reunir-se com quem quer que seja em qualquer circunstância, aprender novas línguas e arejar a cabeça.

Um candidato que saísse propalando que a União Européia é uma farsa (já que a sua moeda está mais enrolada que corda de fumo em porta de venda antiga, e tem país mais perdido do que cusco em procissão), que desejaria “flexibiliza-la” e ao Euro, para permitir mais “acordos bilaterais”, seria enviado para fazer um estágio em Bruxelas como tradutor, para ver se consegue desflexibilizar a sua língua, e dizer coisas mais precisas e necessárias, do que sem pé nem cabeça.

Um candidato que dissesse sem mais aquela, aquele ou aquilo, que vai criar um novo ministério redundante, numa hora de crise financeira mundial e de responsabilidade fiscal, simplesmente para agradar o âncora e os ouvintes de um programa de rádio policialesco, e depois, para compensar, anuncia que vai fechar a sua secretaria de governo que procura projetar o futuro do país, seria mandado para um estágio como síndico de prédio, a projetar como será o bairro dali a alguns anos, para aprender a fazer previsões e provisões.

E por aí vai...

Falemos agora sobre

2) As loisas

Uma jornalista que, sem qualquer comentário ou sem ressalvas, repetisse a “brincadeira” de um prócer partidário, dizendo que a massa que se reúne na sua convenção é uma “massa cheirosa”, seria destacada dali para frente para fazer a cobertura de uma fábrica de sabão, para ver o que é uma “massa cheirosa”. O prócer seria nomeado zelador da estrebaria do Jóquei Clube.

Já a enviada especial ou editor que criasse ou aceitasse uma manchete como “Primeiro Ministro turco rouba a cena de Lula” ao anunciar o acordo de Teerã, seriam ambos enviados a curso de boas maneiras, para aprender o que é protocolo diplomático, antes de anunciar bobagens desse tamanho.

Por outro lado, o mancheteiro de algo como “EUA atropelam acordo de Lula”, falando do acordo de Teerã, teria de digitar 500 vezes, sem recorrer à tecla de reprodução ou edição, “Vou aprender a chamar as coisas pelo seu nome”.

E o jornalista que, em qualquer circunstância, em qualquer espaço, mesmo que os dois estivessem trancados sozinhos num elevador sem microfone e com a câmera desligada, dissesse à Chanceler Ângela Merkel que “a senhora é uma má Chanceler mas é uma boa pessoa”, e ainda saísse escrevendo isso depois, por mais engraçadinho e simpático que ele ache que estivesse sendo, seria enviado pela direção do jornal para um estágio no cafezinho do edifício da Chancelaria, para se dar conta do que significa o palavra “decoro”.

Aquele outro que escreveu que algo como um acordo internacional – seja qual for – assinado pela chefa de estado daqui que “isso não vale o papel em que foi assinado”, seria destacado para carregar pessoalmente as bobinas do papel para a redação, para verificar o quanto vale o peso do papel em que seus artigos serão impressos.

E por aí se vai, caros e caras leitores e leitoras. Muitos expressivos colunistas de quanta redação brasileira, se fosse aqui, estariam trabalhando em tablóides vagabundos e sensacionalistas. Bom, vai ver que o lugar que eles escrevem são tais e quais.

O que quero dizer, que fique bem claro, é que uma coisa é uma coisa, e uma loisa é uma loisa. Crítica é crítica: é coisa séria, mesmo quando feita com bom humor. E que essa linguagem impune do deboche, da avacalhação, do desrespeito, só existe no clima de impunidade e arrogância que uma parte da nossa mídia convencional – e logo a que se quer hegemônica – se auto-atribui.

Para completar: se algum chefe de qualquer coisa em alguma redação dissesse que cabe à imprensa fazer o papel de oposição, porque a oposição está “fragilizada”, ou seja, numa democracia, não vale o peso do seu papel, levaria tal esculacho de seus chefes e dos outros jornais, que nunca mais sairia piando loucuras como essa.

Chega. O nosso país, com seus problemas, o nosso povo, com suas dificuldades, é terra e gente boas. E onde esse planta naquele, dá. Agora, tem cada coisa e loisa...

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Não verás Lula nenhum

Brasília, eu vi


Blog de Leandro Fortes

18/05/2010


Não verás Lula nenhum

Posted by Leandro Fortes under Imprensa




É verdade, mas só na Time, no Le Monde, no El País e na BBC de Londres...



Em linhas gerais, Luís Fernando Veríssimo disse, em artigo recente, que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de, no presente que se apresenta, um presidente da República tão popular como Luiz Inácio Lula da Silva ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira. Em suma, Veríssimo colocou em perspectiva histórica uma questão que, distante no tempo, contará com a vantagem de poder ser discutida a frio, mas nem por isso deixará de ser, talvez, o ponto de análise mais intrigante da vida política do Brasil da primeira década do século XXI.



A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar o força histórica do momento e suas conseqüências para a consolidação daquilo que se anuncia, finalmente, como civilização brasileira. O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado, fruto de uma incompreensão histórica que só pode ser justificada pelo distanciamento dos donos da mídia em relação ao mundo real, e da disponibilidade quase infinita de seus jornalistas para fazer, literalmente, qualquer trabalho que lhe mandarem os chefes e patrões, na vã esperança de um dia ser igual a eles.



Assim, enquanto a imprensa mundial se dedica a decodificar as engrenagens e circunstâncias que fizeram de Lula o mais importante líder mundial desse final de década, a imprensa brasileira se debate em como destituí-lo de toda glória, de reduzí-lo a um analfabeto funcional premiado pela sorte, a um manipulador de massas movido por programas de bolsas e incentivos, a um demagogo de fala mansa que esconde pretensões autoritárias disfarçadas, aqui e ali, de boas intenções populares. Tenta, portanto, converter a verdade atual em mentiras de registro, a apagar a memória nacional sobre o presidente, como se fosse possível enganar o futuro com notícias de jornal.



Destituídos de poder e credibilidade, os barões dessa mídia decadente e anciã se lançaram nessa missão suicida quando poderiam, simplesmente, ter se dedicado a fazer bom jornalismo, crítico e construtivo. Têm dinheiro e pessoal qualificado para tal. Ao invés disso, dedicaram-se a escrever para si mesmos, a se retroalimentar de preconceitos e maledicências, a pintarem o mundo a partir da imagem projetada pela classe média brasileira, uma gente quase que integralmente iletrada e apavorada, um exército de reginas duartes prestes a ter um ataque de nervos toda vez que um negro é admitido na universidade por meio de uma cota racial.



Ainda assim, paradoxalmente, uma massa beneficiada pelo crescimento econômico, mas escrava da própria indigência intelectual.

terça-feira, 11 de maio de 2010

CAMARADA SERRA-BIRUTA DE AEROPORTO

11 de maio de 2010 às 0:02


Leandro Fortes: O camarada Serra

De Leandro Fortes, no Brasília Eu Vi



Ao se declarar um homem de esquerda, durante entrevista na CBN, o ex-governador José Serra deve:



1) Ter caído em desgraça na revista Veja;



2) Ter caído em desgraça no Instituto Millennium;



3) Ter caído em desgraça na Fiesp;



4) Ter caído em desgraça no Clube Militar;



5) Ter caído em desgraça na ANJ;



6) Ter caído em desgraça nos blogs de esgoto;



7) Ter caído em desgraça na TFP;



8) Ter caído em desgraça na UDR;



9) Ter caído em desgraça na CNA;



10) Ter caído em desgraça na CNI;



11) Ter caído em desgraça no DEM;



12) Ter caído em desgraça em Higienópolis;



13) Ter caído em desgraça nas Organizações Globo;



14) Ter caído em desgraça na Febraban;



15) Ter caído em desgraça no PSDB.



Então, fico imaginando quem, afinal, deverá votar em José Serra, o Vermelho:



1) Os 30 mil pernambucanos beneficiados pela plataforma de indústria naval fixada no estado como parte do PAC?



2) Os 60 milhões de brasileiros beneficiados pela distribuição de renda catalisada pelo Bolsa Família?



3) Os 32 milhões de brasileiros que saíram da condição de miseráveis à de consumidores?



4) Os 1,2 milhão de trabalhadores que recebem um salário mínimo que pulou de 60 dólares, da Era Tucana, para 200 dólares, no governo Lula?



5) Os trabalhadores sem-terra perseguidos no interior de São Paulo?



6) Os familiares dos motoboys assassinados pela PM paulista?



7) O delegado Protógenes Queiroz?



8) O juiz Fausto De Sanctis?



9) Os comunistas?



10) Os eleitores de Dilma Rousseff?



E, finalmente, alguém pode me explicar como é que um sujeito de esquerda pode aparecer todo sorridente numa foto ao lado da senadora Kátia Abreu? Seria um caso clássico de infiltração esquerdista nas hostes ruralistas?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"VOCÊS É QUE SÃO OS CARAS"

A ENTREVISTA DE LULA AO "EL PAÍZ"

O presidente Luís Inácio Lula da Silva manteve uma longa conversa com o jornalista Juan Luis Cebrián, do diário espanhol El País. A reportagem, publicada na edição deste domingo, 9, pode ser vista aqui, na língua de Cervantes. Ou a seguir, traduzida pelo Miguel do Rosário, do blog Óleo do Diabo.


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“Tem que mudar a ONU. Se continuar assim, não servirá ao governo global.”

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“Prefiro carnaval à guerra.” Pousa sua mão de operário sobre meu joelho, num gesto de cumplicidade, de camaradagem, de evidente franqueza, porque essa é a sua força e a sua convicção, a de comportar-se como é, como verdadeiramente lhe vêem os brasileiros, “sou um deles, um como eles”, vem de onde eles vêm, fala como eles falam, “não sou um estranho no ninho”, e até chegar ao poder se vestiu como eles se vestem, “ainda que trabalhei durante vinte e sete anos com um macacão, nunca me senti à vontade; com dois meses de gravata não tive dificuldade em acostumar-me a ela, é um belo adereço”. Me vêm à mente a reflexão de Sancho Panza sobre como será seu reinado sobre uma ilha, “vistam-me como quiserem, que de qualquer maneira que esteja vestido serei Sancho Panza” porque a batina não faz o cura, e Lula é Lula qualquer que seja seu traje, “me comunicaram que teria de ir de fraque ao jantar no palácio com o rei da Espanha, mandei dizer a Juan Carlos que eu não usava isso e aqui no Brasil muitos me criticaram, que falta de elegância!, de capacidade de exercer a presidência!, até que o rei me chamou, venha como queira, de terno e gravata, porque não quero ser visto como um estranho em meu povo, o que acontece é que a liturgia do poder está toda preparada para te distanciar do povo, quando és candidato caminha ao ar livre, cumprimentando as pessoas, mas uma vez que chega a presidente te botam num carro blindado e nunca mais vês o rosto dos cidadãos”.

Me pergunto a que se parecem mais as greves, se a guerras ou a carnavais. Luiz Inácio Lula da Silva estreou sua carreira política em mobilizações populares, na agitação das ruas e na luta nas portas de fábrica em defesa dos direitos dos trabalhadores. Quase um milhão e meio de operários foram a greve, liderados por ele, durante o ano de 1979, e a partir dessa data este corajoso dirigente sindical empreendeu uma carreira política cheia de altos e baixos que o levariam, um quarto de século depois, à presidência da república. “É notável que nem eu nem o meu vicepresidente, um empresário de êxito, tenhamos diploma universitário”, assinala com certo tom de orgulho que irrita a oposição pela ambigüidade que essa mensagem pode representar em um país em que a educação é uma meta fundamental do governo e empenho necessário para acabar com as desigualdades e a pobreza. Mas o que ele deseja transmitir é que a democracia funciona no Brasil, que não os méritos profissionais, acadêmicos ou de qualquer outro gênero, e sim a vontade dos eleitores o que é decisivo para chegar ao poder. Um poder que Lula não terá mais, ao menos formalmente, a partir do próximo mês de dezembro, após oito anos de exercício no cargo, do qual sai cercado de tal popularidade que alguns esperam vê-lo levitar a qualquer momento, como fazia o gorila de Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão, só que a base de ingerir café brasileiro, que ele consome a cada instante com avidez, em vez de xícaras de chocolate.

O momento mais extraordinário do poder é o período entre o dia da vitória e a possessão. Logo se vê que as coisas não são tão fáceis, que se está diante de uma série de obstáculos. Eu teria motivos de sobra para dizer que a mim o poder me deu mais alegrias que tristezas, porque poucas vezes na história do Brasil aconteceram coisas tão importantes como durante o meu governo, mas continuarem lamentando pelo que não pude fazer, a reforma do Estado, por exemplo. Não fomos capazes de lhe dar maior agilidade; desde que tomamos uma decisão até executá-la, topa-se com quinhentos obstáculos em nome da democracia. Está o Congresso Nacional, com suas duas câmaras, a administração pública, os sindicatos, a justiça, as questões ambientais, onde as Ongs são muito ativas... Ou seja, que passam dois ou três anos antes que um projeto se cristalize. Faz falta um consenso que nos permita eliminar tantas dificuldades e atrasos. Não podemos renunciar à fiscalização, mas tampouco é aceitável usá-la para impedir que se façam as coisas que o Brasil necessita.”

Seu pragmatismo, sua cordialidade, seu bom senso, tudo nele me lembra o governador de Barataria. Quase oito anos após ocupar o principal cargo da república, suas maneiras pessoais, seu método de trabalho, seu ar decidido e astuto são os mesmos do Lula jovem que, fugindo da burocracia sindical, reunia-se às tardes no bar da Tia Rosa em São Bernando do Campo, onde ele ainda mantém sua residência familiar. Ali, com seus companheiros de luta, um grupo de amigos antes de ser um comitê organizado, preparavam, entre um copo e outro, as mobilizações em defesa de melhores salários para os trabalhadores. Nenhuma ideologia alimentava suas ações, que em seguida foram apoiadas, todavia, por movimentos católicos de base. “O PT não existiria sem a ajuda de milhares de padres e comunidades cristãs do Brasil, deve muito ao trabalho da Igreja, à teologia da libertação, aos sacerdotes progressistas. Tudo isso contribuiu para minha formação política, a construção do PT e a minha chegada ao poder. Minha relação com a Igreja católica foi e continua sendo muito forte, mas somos um país laico, tratamos todas as religiões com respeito”.

Interrompe-o por um momento Gilberto Carvalho, seu chefe de gabinete, “este era seminarista, ia ser padre, mas abandonou para entrar no PT, para construir comigo”, e despacha alguns assuntos à sombra de um crucifixo gigantesco que preside sua mesa de trabalho, enquanto eu imagino que alguns militantes da época a agitação política era também uma espécie de sacerdócio. A influência religiosa (“esta é a Igreja mais progressista da América Latina, provavelmente do mundo”) é evidente também no tratamento das leis de aborto no Brasil, ainda que o presidente busca manter equidistância. O Vaticano “tem uma atitude muito conservadora sobre o ponto. No Brasil, o aborto está proibido, salvo em caso de estupro da mãe. Eu, como cidadão, sou contrário ao aborto, e não creio que haja nenhuma mulher que seja favorável a ele porque gera um grande sofrimento a quem o pratica. Mas como chefe de Estado penso que se trata de uma questão de saúde pública. Devemos proteger as meninas que decidem abortar por si mesmas metendo-se agulhas no útero e coisas assim. O Estado tem obrigação de atender a essas pessoas”.

Para os progressistas europeus, que adoram a Lula, uma declaração deste gênero pode resultar decepcionante, tanto como a que ele já fez muitas vezes no sentido de que não se considera de esquerda. “Minha trajetória, meu perfil político, minha vida no sindicato, a criação do PT, me caracterizam, desde logo, como um esquerdista. Mas o próprio PT é uma novidade na esquerda mundial. Nasceu contra todos os dogmas dos partidos marxistas-leninistas, que obedeciam fielmente à Rússia ou China. No início era algo parecido a uma torcida de futebol; um grupo de trabalhadores que, junto ao movimento social, a Igreja Católica, e alguns intelectuais que havia acreditado e participado da luta armada, decidiram criar um partido político. Não tínhamos então um programa definido e eu nunca gostei que me enquadrassem, menos ainda ao assumir a presidência. Um chefe de Estado não é uma pessoa, é uma instituição, não tem vontade própria todo santo dia, tem que levar a cabo os acordos que sejam possíveis. Aprendi isso no poder e creio que foi bom para o Brasil. Não pode ser que eu goste de um presidente porque é de esquerda e de outro não, por ser direitista. Me dei bem com Aznar, e me dou bem com Zapatero; tenho que me relacionar com Piñera, do Chile, da mesma forma que com Bachelet. No exercício do poder sou um cidadão, como diria?, multinacional, multiideológicos, não?”

Com seus olhos brilhantes, inquietos, reclama minha aprovação para esse pragmatismo, e se transforma instantaneamente num agitador de torcida de futebol; levanta-se, senta-se, volta a se erguer, sorri primeiro, logo se derrama, te olha no olho, busca a proximidade, o carinho, sou apenas um brasileiro, um cidadão desse país capaz de contagiar pela alegria, de esse país com trezentos dias de sol por ano, desse país imenso, autossuficiente, pacífico, “do qual estamos tratando de eliminar cinqüenta ou sessenta anos de atraso, de desconfiança, anos em que ninguém queria investir aqui. E por isso estamos construindo um capitalismo moderno, o Estado de bem estar. Quando entrei no governo, o Brasil não tinha crédito, não tinha capital de trabalho, nem financiamento, nem distribuição de renda. Que raios de capitalismo era esse? Um capitalismo sem capital. Resolvi então que era preciso primeiro construir o capitalismo para depois fazer o socialismo; é preciso distribuí-lo antes de fazê-lo. Se o Brasil não tem nada, não há nada para distribuir, e os empresários tem que saber que é preciso pagar salários um pouco maiores para que as pessoas possam comprar os produtos que fabricam. Isto é o que dizia Henry Ford em 1912”.

Estamos em plena campanha eleitoral e Lula aproveita para fazer propaganda de seu partido, deixando escapar críticas duras, provavelmente injustas, a seu antecessor, o socialdemocrata Fernando Henrique Cardoso, tempo atrás companheiro seu na luta contra a ditadura e com o qual agora não se mostra em absoluto generoso. Mas o milagre brasileiro começou precisamente com Cardoso, um professor respeitado e um democrata exemplar, que saneou as contas públicas e venceu a inflação. Lula faz um balanço diferente. “Hoje só o Banco do Brasil tem mais crédito que todo o país quando eu cheguei ao poder. De modo que quando eu deixar a presidência, teremos criado mais de 14 milhões de postos de trabalho em oito anos. Só a China e a Índia podem competir com uma realidade assim”. Pergunto se isso é um triunfo do capitalismo e logo ele se apressa a esclarecer que é um triunfo de seu governo “porque teve coragem de enfrentar a crise, em vez de se queixar: fazendo investimentos, destravando a atividade de setores chave da economia, empreendendo muitas obras públicas. Se o Brasil mantém nos próximos cinco anos uma política fiscal e monetária séria, investiementos e controle da inflação, tem tudo para se transformar numa potência respeitada no mundo. Se a economia continuar crescendo entre 4,5% e 5,5%, em 2016 pode ser a quinta economia mundial”.

Não sei se descubro vestígios de herança portuguesa nessa fantasia um pouco hiperbólica do presidente, que o faz distanciar-se por momentos da sisuda prudência de Sancho para assemelhar-se mais à loucura idealista de Don Quixote, porque enquanto Lula fala, as pesquisas, lá fora, continuam dando como provável vencedor, ainda que por margem apertada, à José Serra, candidato do PSDB, partido de Cardoso. “Ganhe quem ganhar, ninguém fará nenhum disparate; o povo quer andar para frente e não voltar atrás. Mas permita-me dizer que não vejo a possibilidade de que percamos as eleições”. Muitos pensam que, se assim acontecesse, não seria por mérito de Dilma, a candidata do PT, uma ex-guerrilheira e política competente, mas sem o carisma que eleições presidenciais pedem, e sim pelo formidável apoio que lhe empresta o próprio Lula, cuja personalidade impregna tudo de lulismo, “sim, já sei que muita gente, para justificar-se, diz que não gosta do PT, gosta do Lula; gente da direita, claro. Isso acontece com outros líderes políticos, Felipe González, por exemplo. Normalmente as figuras públicas estão menos ideologizadas que os partidos, e temos capacidade individual de congregar em nosso entorno gente que de nenhuma maneira se sentem próximas de nossas formações. Mas não creio que exista um ‘lulismo’, prefiro acreditar que vamos fortalecer a democracia e os partidos políticos saberão se organizar e ser fortes”.

Em qualquer caso, parece descontada a continuidade da política econômica, que Lula salvaguardou desde o princípio nomeando um antigo militante do partido de Cardoso presidente do Banco Central. A conseqüência dessas políticas foi a prosperidade que permite situar o país entre as potências emergentes agrupadas em torno do que se conveniou chamar BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Junto a eles, Lula fez valer a sua voz afirmando sua independência como protagonista de uma política internacional singular e inclassificável. Está seu país no caminho de se tornar uma superpotência? Poderia sê-lo sem possuir – é o único dos BRIC nesta circunstância – uma arma atômica? “A Constituição proíbe as atividades nucleares para fins não pacíficos, quer ver?”, aponta com sua mão mutilada o artigo 21, inciso 23, “o presidente não decide em questões nucleares, é o Congresso, e não temos interesse em ser uma potência militar se não é do tamanho da nossa soberania. Necessitamos de Forças Armadas adequadas para garantir a segurança do povo, manter uma política de defesa respeitável. Não queremos invadir nenhum país, mas tampouco queremos que nos invadam...”, interrompo-o, entre irônico e risonho, invadir o Brasil me parece difícil, presidente, uma tarefa quase titânica, e ele impassível, “não se pode menosprezar a loucura de alguns seres humanos, é preciso se cuidar”. Cuidar de quem? Não creio que seja Chávez (“um homem muito inteligente, ainda que às vezes comete equívocos, e ele o sabe”) nem Evo (“um retrato de seu povo, ninguém o representa melhor que ele; no assunto do petróleo, entendi que o Brasil tinha que pagar melhor à Bolívia, não briguei com Evo, porque ele tinha direito”), nem Colômbia, Argentina ou Uruguai (“o Brasil trabalhou muito com eles para consolidar a democracia em sua plenitude. Temos que gerar uma política de confiança. A doutrina usada pelas grandes potências era considerar o Brasil como inimigo da América Latina a grande ameaça; nós estamos destruindo essa visão negativa e demonstrando que, ao contrário, podemos ser seu grande aliado”).

O lulismo, se é que existe, tem suas raízes no sindicalismo, na luta como pressão e o acordo como resposta. “O chamado mundo desenvolvido tem que compreender que a geopolítica mudou. A democratização da África e o crescimento de países como China, Índia e alguns da América do Sul, sugerem uma nova dimensão. Eu não quero a guerra, sou um homem de diálogo, e na questão nuclear o Brasil tem uma política muito definida. Quero esgotar até o último minuto as possibilidades de um pacto com o presidente do Irã para que seu país possa continuar enriquecendo urânio, tendo nós a tranquilidade que ele só o usará para fins pacíficos. Meu limite são as decisões da ONU, a qual, aliás, pretendo mudar porque tal como está representa muito pouco. Por que o Brasil não é membro do Conselho de Segurança? Por que não é a Índia? Por que não há nenhum Estado africano? Se a ONU continua assim débil, sem representatividade, com países com direito de veto, nunca vai servir corretamente à governança global que precisamos”.

Felipe González disse que ex presidentes são como vasos chineses. Todo mundo em casa sabe que se trata de peças valiosas que valem a pena conservar, ainda que não necessariamente apreciam sua beleza e não sabem onde colocá-los: estejam onde estejam, sempre são um estorvo. A partir do próximo mês de dezembro, Luiz Inácio Lula da Silva, um dos políticos mais carismáticos, admirados e surpreendentes do último meio século, engrossará a coleção das grandes porcelanas. Os visitantes dos museus de cera venerarão sua imagem, como a de Lincoln, a de Mandela, a de tantos grandes nomes capazes de surge do nada. Cheio de vida, desbordante de idéias, não o imagino retirado em seu apartamento de São Bernardo, partilhando com seus vizinhos as nostalgias de qualquer tempo passado. “O melhor serviço que um expresidente pode prestar à república é ficar calado, deixar governar quem ganha as eleições e permanecer em silêncio”. Este silêncio resignado combina com Sancho, mas eu não o imagino para Lula, quando há tanto para denunciar, tanto para exigir, tanto para propor. Então, talvez se limite a estar ausente, ou distante. “Vou sair do governo havendo colhido um montão de políticas exitosas e quero partilhar essa aprendizagem, essa autêntica lição de vida, com países mais pobres da América Latina e África. Não sei se o farei através de uma fundação, porque em nenhum caso quero empreender nada que não esteja em consonância com o governo. Só quero transmitir aos demais a experiência que adquiri, porque os pobres não tem acesso aos governantes, os pobres não vão aos coquetéis, claro, e olha que não há político que ganhe eleição falando mal deles, pode insultar os banqueiros, os grandes empresários, mas os pobres... de nenhuma maneira, em campanha o pobre é a coisa mais extraordinária do mundo. Isso sim, uma vez que o candidato ganha a eleição ele vai terminar seu mandato sem reunir-se com um pobre uma única vez, só sabe que existem pelo que lê nos jornais, não há interação, não há vínculo. Eu, nos próximos Natais, quando minha gestão chegar ao fim, quero convidar de novo aos catadores de papel de São Paulo, há oito anos que me reúno com eles no palácio nessas datas (também o fiz com os sem-teto e os sem-terra), e comprovamos que essa gente não quer parar de catar papel, mas aspira uma existência mais digna, ou seja, que organizemos cooperativas, centenas delas em todo Brasil, financiadas pelo Estado, que as permitam trabalhar, centenas de milhares de pessoas, capazes de levar todos os dias para casa algo que começar, graças ao resultado de seu trabalho”.

Quando tudo isso acontecer, o palácio presidencial já terá sido reconstruído. De momento, Lula aloja-se em escritórios emprestados pelo Centro Cultural Banco do Brasil, enquanto os operários se esforçam para recuperar as estruturas danificadas do Palácio do Planalto, que não pode participar da celebração do cinqüentenário de Brasília. Mas no próximo dia 23 de dezembro, o presidente se despedirá dos catadores paulistas nos aposentos elegantes e sóbrios da sede do primeiro magistrado da nação. Talvez o faça pensando, como Sancho em sua partida, que “saindo eu nu como saio, não é preciso outro sinal para dar a entender que governei como um anjo”. Seguro estou, ao menos, que o cronista deste momento vindouro poderá relatá-lo novamente com as palavras de Cervantes: “abraçaram-no todos, e ele, chorando, abraço a todos, e os deixou admirados, tanto de suas razões como de sua determinação, tão resoluta e tão discreta”. É isso.

FOLHA DE SÃO PAULO - Um dos fundadores do PIG (Partido da Imprensa Golpista)






Mochila da Folha não tinha bomba



A Folha deste domingo fez uma ameaça terrorista de mentirinha. Mais uma. Estampou o seguinte manchetão alarmista na capa (clique sobre a imagem para vê-la por inteiro):






Lá fui eu, na página B3, devidamente vestido com roupas especiais do esquadrão antibomba. Encontrei, de fato, uma mochila parecida com aquela achada há pouco em Times Square. E, da mesma forma que em Nova York, continha apenas garrafas vazias de plástico.

Eu lembrei, afinal, que o governo Lula fez a reforma da previdência em 2003, pegando pesado com os funcionários públicos. Tão pesado que foi ali que vários parlamentares, ligados ao corporativismo estatal, abandonaram o PT. Na época, eu escrevia regularmente para a Novae, e tasquei um longo artigo intitulado As flores abortadas de Mao, um dos meus primeiros (e modestos) bestsellers virtuais, atacando a virulência egoísta do corporativismo.

Depois de tanto estardalhaço, o próprio jornal admite, lá no meio do texto, que o déficit da previdência do setor público em relação ao PIB pode "voltar aos patamares de seis anos atrás" e nos manda ver quadro em outra página. Diligentemente, fomos até a página indicada e nos deparamos com o seguinte quadro:



Um entrevistado, Otoni Guimarães, executivo do governo, explica que há anos em que podem ocorrer oscilações, "até por conta de uma geração que está se aposentando". Mas o fato é que, até 2020, o déficit da previdência do setor público em relação ao PIB ainda será menor do que em 2004. O próximo presidente (e aí está a mentira da manchete) receberá uma Previdência pública com déficit de 0,85% do PIB, um número muito melhor do que recebeu Lula em 2003, visto que em 2004, este marcava 0,98%.A Folha dá continuidade à sua campanha contra o setor público, e por aí encontramos as características ideológicas marcantes do tucanato. Pesquisas fundamentadas - que nunca são lembradas ou sequer publicadas pelos media - mostram que o setor público brasileiro é enxuto, ganha pouco e, na sua maioria esmagadora, entrou em serviço via concursos dificílimos. O problema principal do setor público está na Saúde, área por natureza crítica, que lida com terríveis sofrimentos humanos, demanda recursos gigantescos que nunca são suficientes, e que, para piorar, padece de uma relação federativa desequilibrada e conflituosa, com municípios, estados e União batendo cabeça entre si.


É importante entender, contudo, que o avanço industrial de um país não pode acontecer sem um quadro forte de funcionários públicos e neste caso "enxuto" não é o termo certo, e sim "suficiente". Em seu livro Ex-Leviatã, Wanderley Guilherme dos Santos mostra que os países ricos, como Inglaterra, EUA, França, Alemanha, tiveram que aumentar seus gastos com funcionalismo público, na medida em que suas economias se sofisticavam. Esse processo não é infinito. Há um ponto de equilíbrio, a partir do qual os gastos se estabilizam ou mesmo começam a declinar em relação ao PIB. Não tem porque no Brasil ser diferente.

Os dados trazidos pela Folha, ao invés de alarmismo, mostram essa tendência ao equilíbrio. Reparem que a partir de 2016, a previdência do setor público se estabiliza em torno de 0,92% do PIB; de 2017 a 2020, o percentual se mantém inalterado em 0,94%. O gráfico tende a sossegar e não o contrário.

A mochila da Folha, pelo visto, não tinha mesmo bomba nenhuma. Os turistas podem voltar a circular alegremente em Times Square.

# Escrito por Miguel do Rosário # Domingo, Maio 09, 2010

# Etichette: Economia, eleições 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

6 de maio de 2001 x 6 de maio de 2010.

O Lula vai pendurar FHC no pescoço do Serra.

Carta Maior: O contraste entre o fim de dois mandatos

Dia 6 de maio de 2001:


a) Brasil vive crise dramática de energia e aguarda o pronunciamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso que anunciará o racionamento à Nação;


b) Folha Online: “Além de sofrer com o aumento das tarifas de energia elétrica, o brasileiro ainda terá de gastar mais dinheiro para acender uma vela, em caso de apagões”.


c) preço do produto será reajustado devido ao aumento de 5,5% no valor da parafina, vendida mais cara pela Petrobras desde o último dia 1º.


d) acidente com a plataforma P-36 que explodiu e afundou na Bacia de Campos dia 20-03, causando 11 mortes, reduziu produção nacional de petróleo em 84.000 barris/dia

e)Agência Nacional de Petróleo (ANP) afirma que acidente foi causado por ”
não-conformidades quanto a procedimentos operacionais de manutenção e de projeto” por parte da Petrobrás.

f) Folha On line: “Se os aumentos de tarifa não forem suficientes para reduzir o consumo de energia elétrica, brasileiros poderão ficar até quatro horas por dia no escuro”.


Dia 6 de maio de 2010:


a) governo anuncia o Plano Nacional da Banda Larga para garantir acesso de alta velocidade à Internet a 40 milhões de domicílios até 2014; a estatal Telebrás é capitalizada para assumir o comando da rede de transmissão.

b) Governo cria Eximbank para incentivar exportações e define incentivos fiscais com devolução rápida de tributos para alavancar vendas brasileirsas ao exterior;


c) Indústria de máquinas e equipamentos registra o melhor março da sua história este ano com faturamento de R$ 7,2 bilhões


d) IBGE: crescimento de 18% da produção industrial no 1º trimestre deste ano é a maior expansão trimestral desde o início da série histórica, em 1991.


e) Petrobrás prepara-se para realizar mega-capitalização destinada a investimentos da ordem de US$ 174 bilhões na exploração das reservas brasileiras do pré-sal, a principal descoberta de petróleo do mundo nas últimas décadas;


f) Oposição no Congresso boicota votação das regras do pré-sal que garantem soberania nacional no controle e exploração das novas jazidas;


g) Serra, ex- ministro da Saúde e do Planejamento Econômico de FHC, apresenta-se novamente como candidato anti-Lula à Presidência da República; tucano, agora, diz que vai resolver problemas da economia com ‘tesão’.



O acordo da anistia


Do Valor

Um acordo em que a ditadura resolveu tudo

Maria Inês Nassif

06/05/2010



Era o dia 22 de agosto de 1979. No plenário da Câmara, onde o Congresso se reuniria mais tarde para examinar a proposta de anistia do governo do general João Figueiredo – famoso por ter pedido para ser esquecido, depois de ter deixado o governo, e ter sido obedecido – 800 soldados à paisana ocuparam quase todos os 1200 lugares das galerias. Os manifestantes que ainda tentavam mudanças no projeto de anistia do governo – que perdoou só os crimes de sangue cometidos pelos próprios militares – ganharam os lugares de volta quase aos gritos. Às 14 horas, os soldados bateram em retirada.



As cadeiras no plenário para assistir ao espetáculo de imposição militar dos termos da anistia – que era mais auto-anistia do que qualquer outra coisa – talvez tenha sido a única conquista efetiva dos movimentos que se mobilizavam para restituir os direitos políticos dos adversários da ditadura. Desde o envio do projeto ao Congresso, em 27 de junho, até sua aprovação, 56 dias depois, imperou o ato de vontade dos militares, acatado pelos civis que formavam, no parlamento, uma maioria destituída de coragem e vontade.



Em tese de doutorado defendida em 2003 no Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), intitulada “Dimensões Fundacionais da Luta pela Anistia”, Heloísa Amélia Greco reconstitui, passo a passo, a aprovação da lei. O texto do projeto do governo foi enviado ao Congresso sem que ninguém da oposição consentida, o MDB, pelo menos oficialmente, tenha sido consultado. Na cerimônia convocada por Figueiredo, no Palácio do Planalto, para oficializar o envio do projeto, estavam presentes todos os ministros e toda a bancada de deputados e senadores do partido do governo, a Arena. O MDB boicotou a cerimônia para marcar uma posição contra um projeto que excluía setores importantes da oposição à ditadura de seus benefícios.



A Comissão Mista do Congresso Nacional que analisou a proposta foi escolhida a dedo. Dos 23 integrantes, 13 eram incondicionalmente fiéis ao governo. O presidente da Comissão, o arenista Teotônio Vilela, dissidente e partidário de uma anistia ampla, somente exerceria o seu voto no caso de empate, o que jamais aconteceu. O relator, Ernâni Satyro, seguiu à risca o roteiro traçado para ele. As emendas aceitas em seu substitutivo foram definidas no Ministério da Justiça, em reuniões com o ministro Petrônio Portela, o líder da maioria no Senado, Jarbas Passarinho, o líder da maioria na Câmara, Nelson Marchezan e o presidente do partido, José Sarney. Todas as votações da comissão cravavam um inevitável placar de 13 a 9.



Por maioria governista, entenda-se um Congresso plenamente constituído pelo Pacote de Abril do governo anterior, do presidente-general Ernesto Geisel. O pacote, baixado por força do AI-5, em 1974, criou os senadores biônicos (o terço do Senado escolhido indiretamente por colegiados estaduais) e redefiniu a composição da Câmara de forma a dar mais peso ao eleitorado do Norte e do Nordeste, regiões onde a Arena mantinha prestígio por meio de lideranças tradicionais de caráter patrimonialista. Produziu seus resultados na eleição de 1978. Em 1979, a Arena tinha 231 deputados, contra 189 do MDB; no Senado, eram 41 senadores arenistas – destes, 22 eram biônicos – e 26 pemedebistas.



O projeto do governo, aprovado pelo Congresso em 22 de agosto, foi uma obra solitária do governo militar, referendada por uma maioria parlamentar bovina, totalmente submissa ao poder. Mesmo o voto final do MDB ao substitutivo de Satyro não pode ser colocado na conta da concordância, ou da negociação – foi apenas o voto naquilo que sobrou. O substitutivo do MDB foi rejeitado no plenário, mesmo com a ajuda de 12 parlamentares arenistas; a emenda do deputado Djalma Matinho (Arena-RN), vista como uma opção menos pior que o projeto do governo, também foi rejeitada, mesmo com a ajuda de 14 dissidentes. O MDB entendeu que antes o substitutivo de Satyro do que nada – ainda assim, com a abstenção de 12 de seus 26 senadores e o voto contrário de 29 dos 189 deputados, que preferiram marcar posição contra a anistia limitada dos militares.



A anistia de agosto, aprovada pelo Congresso, perdoou torturadores. Beneficiou também os adversários do regime que pegaram em armas mas não tiveram sentença transitada em julgado. Os presos políticos condenados por luta armada, no entanto, cumpriram penas – depois reduzidas -, mas não foram anistiados. A ditadura designava os adversários que optaram pela luta armada como “criminosos de sangue”. Não consta que tenham considerado da mesma forma os que torturaram e mataram a mando do Estado.



A anistia foi essa. Na última hora, na promulgação da lei, o general Figueiredo vetou a expressão “e outros diplomas legais” – passaram a ser anistiados só os punidos por atos institucionais. O veto a quatro palavras excluiu do benefício os militares, os sindicalistas e os estudantes punidos por sanções administrativas, pelo decreto 477 e por outras determinações legais impostas pela ditadura.



Este é, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF) em decisão proferida na semana passada, o “acordo histórico” feito pela sociedade brasileira: de um lado, a sociedade civil mobilizada em comitês que pleiteavam anistia ampla, derrotada; de outro, baionetas e maiorias forjadas por atos institucionais e Pacote de Abril. A autora da tese de doutorado cita, a propósito, uma frase do jornalista Aparício Torelly, o Barão de Itararé: “Anistia é um ato pelo qual os governos resolvem perdoar generosamente as injustiças e os crimes que eles mesmos cometeram”. Foi isso.



O Brasil vai sentar no banco dos réus da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos por conta dos crimes cometidos pela ditadura. A OEA pode condenar o país a anular a sua lei de anistia, a exemplo do que já fez com o Chile e o Peru, para punir os que torturaram e mataram. O STF que explique direitinho para a OEA esse complicado pacto em que a ditadura resolveu tudo sozinha.



Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

segunda-feira, 3 de maio de 2010

MERCOSUL: SERRA RECEBE “PUÑETAZO” NA ARGENTINA

Mejor joia que farsa


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Artigo publicado nesta sexta-feira, 30 de abril, no jornal argentino Página 12.



Por Martín Granovsky

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Los brasileños deberían escribir un libro y mandarlo para aquí: un manual para entender a José Serra. El candidato de oposición para las elecciones presidenciales de octubre dijo primero que el Mercosur es “una farsa”. Después pidió “flexibilizar el Mercosur”. ¿Cómo se flexibiliza una farsa? Misterio. Lo que queda claro, desde la Argentina, es que José Serra asocia el Mercosur con una valoración negativa. Para él, en cambio, sería positivo que Brasil firmase muchos tratados de libre comercio. Según Serra, Brasil no puede hacerlo, justamente, por culpa de las barreras que le impondría el Mercosur. Es decir que su horizonte de política exterior ideal luce muy sencillo: menos Mercosur y muchos TLC [Tratados de Livre Comércio].

El actual gobernador del estado de San Pablo acaba de tirar dos mitos al tacho. El primero es que nadie en Brasil discute la política exterior, que vendría demostrando una continuidad sin fisuras desde que Pedro I se proclamó emperador de una monarquía constitucional en 1822. El segundo es que la política exterior nunca forma parte de la política interna, y menos de una campaña electoral.

Según datos del Intal, el Instituto para la Integración de América latina, cuando en 2009 el comercio internacional se desplomó también bajaron las exportaciones brasileñas a la Argentina, Uruguay y Paraguay, los socios del Mercosur. Las exportaciones bajaron 27,2 por ciento y las importaciones bajaron 12,2 por ciento. Pero la mirada histórica con detalle es más interesante:

- En 2008, cuando la crisis internacional ya había comenzado, las exportaciones se habían incrementado en un 25,3 por ciento respecto del 2007 y las importaciones en un 28,5 por ciento.

- En medio de la peor crisis desde los años ’30, el valor del intercambio con el Mercosur fue de 28.935 millones de dólares en 2009. Casi igual a la cifra registrada en 2007, antes de la crisis: 28.978 millones de dólares.

O sea que la debacle mundial no fue una debacle regional. Serra podría decir que las cifras demuestran su posición: más comercio y menos arancel externo común. Pero, ¿así funciona el mundo? ¿O también el volumen de intercambio y las proporciones que representa el otro socio en el comercio exterior de cada país tienen un fuerte condimento de política internacional?

Ni Brasil ni la Argentina sufrieron el 2009 como Grecia. No sufren tampoco el 2010 de los griegos, caso paradigmático actual de un país obligado a seguir el camino de contracción fiscal y económica sufrida ya por los brasileños con Fernando Henrique Cardoso (FHC) y por los argentinos con Carlos Menem. Pero Grecia está lejos. Más cerca, México sufrió más la crisis porque el 80 por ciento de su intercambio depende de la relación comercial con los Estados Unidos, porque los migrantes a los Estados Unidos disminuyeron sus remesas a casa por falta de trabajo y porque las migraciones bajaron por la combinación de restricciones y políticas como la xenofobia de Arizona.

Brasil y la Argentina fueron menos golpeados por la debacle. En parte cada uno amortiguó el golpe por una política macroeconómica neodesarrollista que compensó la caída apostando a la reactivación y no al ajuste. Y en parte el hecho concreto es que no necesitaron de ningún TLC para seguir con su estrategia de comercio diversificado, entre ellos mismos, con otros socios de la región o con China.

El Mercosur no es el paraíso, en buena medida porque fue vaciado de política por la dupla FHC-Menem con ayuda de Domingo Cavallo, el ministro que adoraba las áreas de libre comercio y detestaba al Mercosur tanto como Serra.

El punto clave es que hoy el Mercosur representa uno de los distintos resultados concretos del armado político regional. Otro resultado es la Unasur, en construcción desde el 9 de diciembre de 2004, que agrupa a toda Sudamérica. Otro más es el Consejo de Defensa Sudamericano. Y la clave de la estabilidad sudamericana es la sólida relación entre la Argentina y Brasil, el vecino de la Argentina que representa la “B” del grupo BRIC junto a India, Rusia y China. No es poco: la región no presenta ningún conflicto limítrofe importante y revela una sintonía mayoritaria y un nivel de paz y previsibilidad que hoy son una rareza mundial. El compromiso alcanzado por los presidentes Cristina Kirchner y José “Pepe” Mujica de respetar el Tratado del Río Uruguay no borra ningún error de cada país en el pasado, pero marca un modo inteligente de recomponer el daño en las relaciones.

Cuando la palabra “farsa” aparece en medio de esta construcción imperfecta pero persistente conviene encender las luces de alerta. ¿Serra –como Eduardo Duhalde aquí con su crítica a los juicios por crímenes de lesa humanidad– eligió la espectacularidad para diferenciarse de Lula y de la candidata del PT Dilma Rousseff? Es probable, pero en su caso conviene tener en cuenta que siempre receló de la relación privilegiada con la Argentina. Si además ignora las construcciones institucionales colectivas, tal vez esté indicando que en su opinión los objetivos regionales deben disolverse en múltiples TLC particulares.

Pero la apuesta a favor del modelo de los TLC no serviría para amortiguar una crisis feroz. Tampoco es útil la receta para solucionar por medio de la negociación, como ya sucedió, tensiones políticas como las vividas en los últimos años en los casos de Bolivia, de Colombia, de Venezuela y de Ecuador, o para dar un horizonte de inclusión a Cuba con el primer encuentro de presidentes de América latina y el Caribe.

No son gestos retóricos. Cuanto más intensa sea la convivencia regional será más fácil para cada país negociar en un mundo turbulento. Sudamérica probó que puede mantener diferencias con los Estados Unidos, como cuando rechazó el área de Libre Comercio de las Américas, un tema que hoy parece archivado para todos, vaya a saber si también para Serra, y a la vez evitar la hostilidad infantil con Washington. Brasil y la Argentina, por tomar de ejemplo a los dos socios mayores del Mercosur, tuvieron una postura común frente a la deuda: se desengancharon del Fondo Monetario Internacional, aumentaron sus reservas, abandonaron el modelo adictivo de absorción de capitales y desconectaron la mecha común que unía a dos bombas, la deuda interna y la deuda externa. Los dos países plantean ahora reformas democratizadoras en el FMI y los otros organismos multilaterales. Y consiguieron que cada diferencia en el comercio quede limitada a un pequeño porcentaje de su intercambio bilateral (es menor al 10 por ciento del total) y pueda ser negociada sin escaladas políticas.

Con esta política Brasil y la Argentina crecieron y disminuyeron la indigencia y la miseria. Lo mismo hizo Uruguay con Tabaré Vázquez primero y ahora con Mujica, y eso intenta Paraguay con Fernando Lugo. El resultado no está tan mal, si se lo compara con épocas anteriores de recesión o, como en la primera etapa Cavallo-Menem, de crecimiento sin mayor justicia social ni aumento del empleo.

¿Qué farsa querrá montar Serra en Brasil? Con FHC y Menem, dos tipos divertidos cada uno a su modo, ambos países terminaron llorando. Y en la vida, para decirlo en brasileño, siempre es mejor la joia.

sábado, 1 de maio de 2010

Pensamento

"A democracia da direita se faz com o silêncio da esquerda."

HERANÇA GENÉTICA - Brizola Neto uma esperança.

Brizola Neto: Falando com a alma

por Luiz Carlos Azenha



Diferentemente da TV, com suas poses estudadas e o domínio do marketing eleitoral sobre o movimento de sombrancelhas dos políticos, a internet é um meio quente. Você estuda o cidadão a partir do conjunto da obra e, francamente, admira a coragem daqueles que colocam o interesse público acima dos projetos eleitorais. Nós, jornalistas, nunca devemos abandonar o ceticismo. Mas isso não implica desconhecer o talento daqueles que se entregam apaixonadamente a uma causa. Não conheço pessoalmente o deputado Brizola Neto. Seria injustiça atribuir a ele apenas a herança do DNA do velho Brizola. O pedetista tem demonstrado ser um jovem de seu tempo: antenado no mundo digital e, ao mesmo tempo, no tempo histórico. Ainda que você discorde do conteúdo, é impossível negar que o deputado se entrega de corpo e alma às ideias que defende. No mundo de hoje, em que cautela e covardia se confundem, em que antes de dizer alguma coisa os políticos consultam os marqueteiros, defender convicções políticas com paixão e inteligência é um achado:



O fio da história na ponta de nossos dedos

do deputado Brizola Neto, no Tijolaço



sexta-feira, 30 abril, 2010 às 13:11

Deformações ideológicas não se acabam do dia para a noite.



Vivemos, mais de uma década, sob a ditadura do pensamento único, do “politicamente correto”.



A paixão política passou a ser um “defeito”, aliás quase todas as paixões passaram a ser um defeito, um “fanatismo”.



Claro que não se está louvando aqui a irracionalidade, o sectarismo, a imbecilidade.



Mas a história humana é feita de paixão.



Ou será que não foi preciso paixão para os homens que deram a vida nas barricadas da Revolução Francesa, para que aquele país e o mundo pudessem gritar “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”?



Faltou paixão, aqui, aos Henriques Dias, negros, aos Felipes Camarão, índios, para lutarem em Guararapes ao lado do português João Fernandes, fundando o sentimento nacional?



Ou a Tiradentes, para enfrentar o cadafalso? A Getúlio, para a bala no coração?



O neoliberalismo pretendeu reduzir o desejo humano a um “negócio”, material ou sentimental, que deve trazer vantagens. Era a “lei de mercado” transposta para a existência do ser humano. Um verso de uma música dos Titãs, fora do contexto, servia de “hino” desta anulação da paixão: “eu só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.



A história das lutas sociais, das lutas que ao longo de milhares de anos, homens e mulheres de todas as partes do globo terrestre fizeram em busca da liberdade, da justiça, da dignidade, não importava muito. Era tempo perdido. Era o passado, e o passado, passou. Era “o fim da história” que o tal Francis Fukuyama, aquele historiador a quem a história já quase esqueceu, proclamava, sob o aplauso dos medíocres.



Virou algo “arcaico”, “jurássico”, anacrônico ter paixão pelo Brasil e pelo povo brasileiro.



Importante era ser certinho, arrumadinho, “preparadinho” e fazer “o dever de casa” direitinho, como os nossos comentaristas políticos e econômicos pregavam nos jornais e na televisão. Nenhuma atenção era dada a que este “dever de casa” vinha de professores de fora, que queriam ensinar-nos a ser como convinha a eles, não a nós mesmos.



Mas a história não acabou.



A realidade, o processo social, retornou, com suas voltas caprichosas e tantas vezes incríveis, o fio desta história.



Lula, o sindicalista que surgiu condenando Vargas, virou o estadista que repetiu seu gesto de banhar de petróleo sua mão e, mais ainda, praticou uma política de composição, tolerância e alianças como a do velho Getúlio, a quem chamavam de “pai dos pobres e mãe dos ricos”. Embora os pobres tenham ganho muito no Governo Lula, a verdade é que os ricos não perderam, não é? Está aí o lucro dos bancos que não nos deixa enganados.



Apesar disso, porém, como a Getúlio, a Jango, a Brizola, os ricos o odeiam. Odeiam não apenas porque ele vem da pobreza. Odeiam porque ele não a abandonou, não lhe virou as costas. As elites brasileiras só admitem a entrada dos pobres nos seus salões se for para servir-lhes obsequiosamente, como mucamas ou garçons.



A história seguiu, e o povo brasileiro viu, com Lula, que podia dirigir seu país. Viu mais: que este país, invadido economicamente, culturalmente e polticamente pelos “monitores” daqueles professores que lhe cobravam, ferozes, “o dever de casa” , não precisava ser como lhe diziam que deveria ser.



Eu vejo com tristeza muitos homens e mulheres das gerações mais velhas tornarem-se tíbios, medrosos, a encherem de vírgulas e concessões o que dizem, para deixar aceitáveis pela ditadura da mídia a verdade que já não sabem dizer de forma aguda e cortante.



Falta-lhes já a pureza e a sinceridade do menino que, na praça cheia, rasgou o véu do temor e da conivência gritando que o rei estava nu.



Com mais tristeza ainda vejo outros, que eram jovens abandeirados de paixões e amor a este povo se converterem em instrumentos de seus algozes, com a pífia desculpa de que os tempos são outros, quase a dizer que aquele mundo de opressão e dominação acabou. Talvez tenha acabado, sim, mas só para eles, não para as imensas massas humanas a que um dia disseram servir.



Não são todos, talvez não sejam sequer muitos, mas foi a eles que o sistema deu luz e notoriedade e fez aos outros temer não serem aceitos, acolhidos, amados, porque teimavam em ser, mesmo que por dentro e silenciosamente, o que eram.



Que lindas as supresas da história, porém.



Dos frangalhos de Brasil que a ditadura e, depois, a mediocriade e o entreguismo dos governos neoliberais nos deixaram, rebrotamos, como nos versos de Neruda sobre a Espanha destruída pela barbárie franquista: “mas de cada buraco da Espanha, sai Espanha, e de cada criança morta nasce um fuzil com olhos”.



Pois correndo o risco de parecer primário, poderíamos dizer que sai agora um fuzil com teclas. Esta nova “arma”, a internet, foi posta à prova, nestas semanas, em rápidas escaramuças: o clipe serrista da Globo e as manipulações difamatórias dos tucanos. Os tanques pesados da grande mídia continuam rolando, potentíssimos. Mas nós já podemos fustigá-los e fazer recuar.



Nós, os que estamos ainda no começo da caminhada, que temos o coração em chamas pelo Brasil, precisamos muito dos corações que nunca deixaram esta brasa apaixonada se apagar. Precisamos de sua sabedoria e de sua coragem, que certamente é maior que a nossa, pois já passou por batalhas mais longas e mais duras.



Somos soldados deste combate pelo povo brasileiro. Precisamos de comandantes que nos ajudem a lutar e vencer. A paixão e o amor não nos faltam.



Então, quem sabe, juntos, poderemos soprar as brasas que se reduziram pela descrença, pelas decepções, pelas derrotas e, finalmente, em nome de milhões de nossos irmãos que nada têm de rico, senão a esperança, em nome de um país que não quer mais viver na barbárie de uma condição colonial, possamos enfim dar ao Brasil o destino próprio que uma nação e um povo como o nosso merecem.