terça-feira, 31 de janeiro de 2012

BRASIL CUBA.



CUBA, MÍDIA E  HIPOCRISIAA  Folha desta 3ªfeira dedica meia página da Ilustrada a entrevista com ilustre escritora cubana desconhecida. Sem piscar, nem engasgar, lá pelas tantas, Zoé Valdés, que vive em Paris, afirma que o regime de Fulgência Batista era mil anos luz melhor que o de Fidel Castro. Passemos. Na 'totalitária' Cuba uma Comissão de Direitos Humanos convocou ontem uma coletiva de imprensa internacional, livremente realizada (será que na sempre poupada Arábia Saudita isso seria possível?). Colocou à disposição dos jornalistas a viúva de um suposto dissidente morto após greve de fome. O  motivo original da prisão, reconhecido pela viúva, não foi político, mas uma briga de casal, que levou  sua mãe a pedir socorro aos vizinhos e estes à polícia. Nota da União Patriótica Cubana, de oposição, admite que o  'estreitamento de laços' do suposto dissidente com a UPC só teria ocorrido após a prisão. No mínimo nebuloso, este é o caso em torno do qual a mídia demotucana tentou transformar a visita oficial da Presidenta Dilma a Havana num constrangimento diplomático. O jornal O Globo, como se sabe um veículo de impecável tradição democrática, reclama, também na edição desta 3ª feira, que a entrevista coletiva da viúva teve a  participação da imprensa oficial cubana, cujas perguntas provocaram, digamos assim, ruídos na narrativa conservadora do caso. Carta Maior defende a democracia em todas as latitudes e considera incompatível o socialismo sem soberania popular, mas não compactua com a hipocrisia midiática que subestima a inteligência do leitor e menospreza a História.
(Carta Maior; 3ª feira; 31/01/ 2012

Uma pitada de polêmica

Já que fomos excomungados mesmo, vamos chutar o balde!

Eu aqui, Polaco completamente Doido e pirado, gosto muito de escrever. Gosto tanto que escrevo quase todo dia. Se escrevo bem ou mal, não vem ao caso, o caso é que escrever me serve como uma válvula de escape, uma catarse. Gosto muito de escrever sobre religião e principalmente as presepadas e incoerências da igreja católica. Só não o faço com mais freqüência, em respeito a meu irmão, Paulinho, um dos seis leitores deste blog e também um cara que, apesar de ser “modernoso,” não aprecia muito as críticas ao catolicismo e ao suposto deus criador de tudo.
Paulinho, dessa vez não dá para segurar, se não quiser ficar puto mais uma vez, pare por aqui.
Como já deu para perceber ao longo de todo este ano de existência do blog, o cara que posta textos aqui é um polaco, além de polaco é doido sim, comprovadamente doido. Um polaco doido, criado no Bairro Santa Cândida, na cidade de Curitiba e que viveu a maior parte de sua vida ao lado e participando ativamente das atividades da igreja católica apostólica romana.
Fui Batizado, comungado, crismado. Já fui coroinha, participei de grupos de oração e debates, conheço razoavelmente bem as “sagradas” escrituras, participei de inúmeros retiros espirituais e conheço também muitos dos dogmas da doutrina católica.
É claro que nunca participei destas atividades por vontade própria, desde muito cedo a família impunha esta participação nas atividades da igreja e “deusolivre” se o polaco aqui faltasse um final de semana da missa, era capaz da vovó ter um chilique.
Ah! Se a vovó estivesse viva e soubesse que seu netinho virou comunista e ateu, provavelmente me deserdaria mais uma vez.
Nestes tempos de “pseudo-cristão” conheci os mais variados tipos de fiéis:
Existem aqueles carolas cegos que acreditam em tudo que o padre ou pastor prega sem nunca questionar, são os mais facilmente enrolados e quase todos debandaram e tornaram-se crentes neo-pentecostais.
Existem os carolas bunda-moles, eles se questionam sobre as doutrinas da igreja e este questionamento já mostrou que é muito improvável a existência do deus phodão, mas na dúvida e com o medo de arder no mármore do inferno eles aceitam como cordeirinhos todas as doutrinas da igreja.
Existe o carola torcedor, para ele a única religião que presta é a dele e todos os outros estão fudidos, não importa no que os outros crêem ou como vivem, se não acreditarem no mesmo que ele,vão agüentar uma eternidade no inferno. (tenho um amigo assim que me excluiu de todos os círculos por causa deste textozinho que mandei para ele)
E tem o carola Maria-vai-com -as-outras, como gado, só seguem o movimento da maré.
Ainda existem fiéis fiéis, dizimistas e crentes incondicionais das doutrinas de Roma, mas eles são muito raros e estão em avançado processo extinção.
Nestes anos de convivência com católicos ainda aprendi muitas coisinhas muito mais interessantes.
Os ban ban bans da comunidade, aqueles cristãos acima de qualquer suspeita, líderes da comunidade e maiores fieis seguidores de Cristo adotavam posturas não tão “cristãs” na vida em comunidade.
Não foram raras vezes que vi senhoras da caridade embolsando as melhores prendas doadas para os bingos e mais de uma vez, vi a bicicleta ou o Atari doado para a rifa ou bingo ir parar nas mãos do filhote da senhora de caridade.
Ou então o assalto no caixa da quermesse ou festa da padroeira para bancar o cachorro-quente e o refrigerante da patotinha ou o cinema com a moçada.
As bolas, redes e equipamentos esportivos que seriam doados para a caridade, que misteriosamente iam parar nas mãos do grupo de jovens da igreja.
Grupo de jovens que era um caso a parte. Era para ser um grupo de jovens cristão, com foco no conhecimento, na caridade e no benefício e inclusão de todos os jovens cristãos da região, não apenas em benefício dos filhotes dos ban ban bans. Na prática, era um grupo excludente onde os membros estavam lá apenas para “pegar” as mais bonitinhas e humilhar os excluídos. Eu fiz parte disso e me arrependo profundamente por isso.
E o vigário que tinha conhecimento de todas estas falcatruas, não dizia e nem fazia nada, apenas fazia vistas grossas para estas atividades não “tão” cristãs.
É evidente que esta época  ajudou a formar meu caráter e hoje sou um ex-católico, ateu e com sérias tendências comunistas. Não um comunista que defende a linha stalinista ou as ditaduras da China ou da Coréia do Norte, estas são deturpações do ideal comunista, um verdadeiro ideal comunista prega a igualdade entre todos os cidadãos do mundo e onde não existam diferenças entre sexos, raça, cor, origem, preferência sexual ou religião. Um ideal onde a pessoa é medida por aquilo que ele ou ela é e não, por aquilo que possui, pelos bens de consumo ou dinheiro que tem. Um ideal que coloca em primeiro lugar sempre a pessoa e a dignidade humana e não o capital e a capacidade de enriquecimento.
Portanto, nem fiquei tão chocado com o vídeo do padre Paulo Ricardo afirmando que todos aqueles que de alguma maneira apóiam ideais comunistas são automaticamente excomungados. Ou seja, se você votou em Lula ou Dilma já foi excomungado. Se você deseja uma sociedade mais justa e igualitária, também já foi excomungado.
Ser excomungado pela igreja católica é ser expulso da comunidade católica, o excomungado não pode mais freqüentar os espaços da igreja, não pode mais receber nenhum dos sacramentos e perde completamente a sua ligação com deus, que é exercida pela igreja e pelos padres. Ser excomungado é uma das condenações mais pesadas da igreja.
Ora, é mais do que lógico que ele e outros tantos defendam estes pontos de vista, afinal a igreja católica e todas as outras igrejas e religiões são instituições que dependem do estado e do cidadão para sobreviver.
Os nativos do Brasil viviam muito bem em suas comunidades sem classes sociais, sem posses e sem propriedade até que os europeus chegaram por aqui com seus padres a tira-colo.
Se a igreja Católica Apostólica Romana não tivesse se vendido ao fascismo de Mussolini, ao nazismo de Adolf Hitler e depois ao neoliberalismo de Thatcher e Reagan, teria sobrevivido como instituição religiosa durante desenrolar de todo século 20?
Não, tenho certeza que não.
A igreja romana trocou o apoio de seus fieis a Mussolini, pelos benefícios do tradado de Latrão. A igreja romana apoiou e ocultou as atrocidades do regime Nazista e esteve a lado de Hitler até seus últimos momentos (os dois últimos pedidos de Hitler foram os sacramentos do matrimônio e da extrema-unção). O muro de Berlin só caiu, levando consigo a União Soviética, graças ao trabalho do Papa João Paulo II.
Então, mesmo sendo ateu e apesar de ter o benefício da dúvida sobre a existência, ou não, de um criador, um deus onipotente e onisciente que reserva o paraíso a seus escolhidos. Quero mais que o padre Paulo Ricardo, o Santo Ofício e o Papa que escreveu que todos os comunistas e simpatizantes são automaticamente excomungados, vão todos para a puta que os pariu.
Se existe mesmo um deus phodão, criador de tudo, onipotente, onisciente e onipresente, que determina quem vai ou não para o inferno, eu não tenho nenhum receio em convidar este padreco o  santo ofício e o papa para irem todos comer um delicioso container de bosta!
E faço isso com a consciência limpa, sem nenhum receio de responder por isso numa improvável vida além vida!

Polaco Doido

Sem muita pretensão, um pouco de tudo

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

E POR FALAR EM ALCKMIN...







Ao menos ele pinta?


Seria cômico se não fosse trágico.



 "Nocturno Maritime" pintado por Hitler foi arrematado por 42 mil dólares

Janio de Freitas acusa PM-SP de censurar imprensa

PINHEIRINHO 

Não é a primeira coluna em que Janio de Freitas critica o governo Alckmin pela reintegração de posse na comunidade Pinheirinho. Ele já o fez em texto publicado no dia 26, no qual se recusa inclusive a chamar a operação de “reintegração de posse”. Prefere chamá-la de crime e abuso de poder.
Na coluna de hoje, porém, Freitas acusa a PM de censurar a imprensa, e me espanta (“me espanta” é só figura de retórica, claro…) que uma denúncia desse porte tenha demorado tanto tempo para ser noticiada, e não tenha repercutido em outros periódicos e na TV aberta.
Erramos, erraram
Por Jânio de Freitas, na Folha
Por motivo obscuro, a restrição à imprensa em Pinheirinho ficou alheia às narrativas da “barbárie”
As fotos e vídeos de Pinheirinho que horrorizaram com o que a própria presidente da República chamou de “barbárie” (do que se espera, portanto, alguma providência de governo) foram obtidos apesar da proibição, pela PM, de entrada de jornalistas na área da ação policial. Por algum motivo obscuro, que pode ser, por exemplo, a grande e permanente preocupação com restrições à imprensa em outros países, sejam ou não verdadeiras, o impedimento ao trabalho dos repórteres em Pinheirinho ficou alheio às narrativas da “barbárie”.
A censura policial tornou-se notícia no quinto dia depois de imposta, na quinta página do caderno “Cotidiano” da Folha, em trabalho bem realizado por Jean-Philip Struck.
Além das armas de ataque físico e da arma ilegal que é a censura, a PM paulista armou-se também com a mentira. Em diferentes ocasiões, foi dito que à imprensa estava “dada liberdade total” para a cobertura de Pinheirinho, na expressão reproduzida por Struck. O mesmo disseram, inclusive, autoridades do governo paulista.
O coronel Manuel Messias, da PM, mentiu com gravidade ao menos duas vezes em curta entrevista. Dissera que a PM só usou gás lacrimogêneo contra os moradores de Pinheirinho, o que era mentira. Foi refutado por uma repórter da CBN, com a referência a tiros de borracha e consequentes feridos. Messias retrucou, com certo deboche, que esses tiros fazem “só vermelhidão”, o que é mentira. Ferem, e podem fazê-lo com muito perigo a depender do lugar atingido. Conviria a Messias acautelar-se, para não se tornar coronel de mentira.
Pinheirinho se tornou um divisor de águas na política de São Paulo, e talvez do Brasil. De fato, possivelmente há vários casos similares acontecendo ou sendo gestados no país. Mas a magnitude de Pinheirinho, com seis mil pessoas, a urgência brutal, a truculência sem sentido, deram ao episódio um caráter simbólico. Possivelmente, o tema entrará nas campanhas políticas deste ano e dos próximos.
É triste constatar que o PSDB, não tendo outra alternativa senão defender o seu trágico equívoco, terá de mergulhar ainda mais fundo num conservadorismo radicalizado, agressivo e baixo nível.
Bom reiterar que não se trata de “cumprir a lei”. O absurdo da situação está na ausência de planejamento do governador e do prefeito para com o destino dos moradores. O prefeito inclusive se apressou em dar passagens para que os mesmos “voltassem” para seus estados. A impressão que temos é que o PSDB não considera o pobre um cidadão com plenos direitos. Os pobres são tratados como se fossem uma espécie de sub-raça de imigrantes ilegais e leprosos, um povo “inimigo”.
A consciência de Elio Gaspari pesou. Arrependido do artigo que publicou semana passada, em que acusa a politização do caso Pinheirinho sem mencionar os abusos em termos de direitos humanos, o jornalista hoje se digna a fazer algumas críticas pertinentes ao prefeito da cidade:
SAIU MAIS CARO
A área ocupada pelos invasores do Pinheirinho, equivalente a 180 campos de futebol, corresponde a menos da metade da propriedade da massa falida da qual o financista Naji Nahas era sócio. O município de São José dos Campos poderia ter negociado uma mudança no Plano Diretor da cidade, alterando as exigências de ocupação da área. Feito com toda transparência possível, esse mecanismo permitiria a doação da gleba conflagrada e sua consequente urbanização.
Como se pode ver, Pinheirinho mereceu o repúdio de praticamente todo o setor progressista da sociedade brasileira, invadindo a grande mídia com a mesma força que o livro Privataria Tucana. Talvez seja exagero afirmar que a mídia, mais uma vez, foi pautada pelas redes sociais e pela blogosfera. Mas a influência das redes já é pública e notória.
Para se ter uma ideia de como a ação do governo paulista vem provocando revolta, dê uma espiada nesse vídeo postado ontem no youtube, onde se vê manifestação popular contra Andrea Matarazzo, realizada também ontem, durante a inauguração de um museu.
Pesquei esse texto no blog do PHA, que explica a situação:
Defesa
Em nota distribuída pela assessoria de imprensa da Secretaria mais tarde, Matarazzo, disse que “lamenta a agressão sofrida durante a entrega do maior museu de arte contemporânea da América Latina”. De acordo com a nota, “no final da cerimônia, um pequeno grupo de manifestantes tentou impedi-lo (Matarazzo) de sair do local jogando objetos, com intimidação pessoal, hostilizando não apenas o Secretário, como visitantes e convidados, alguns deles idosos”.
“Era um momento de festa para a cidade, (…) jamais esperava que politizassem o evento e não há como encarar o que ocorreu de outra forma: foram atos de truculência”, escreveu o secretário na nota. “Fui agredido fisicamente durante a manifestação e esse é o limite da democracia, ninguém pode tirar o direito do outro de ir e vir, era apenas isso que eu tentava fazer”, continuou.
Segundo Matarazzo, “essas pessoas (manifestantes) não têm a mínima noção do que é cidadania”.”
Primeira constatação: houve um declínio no número de moradores do Pinheirinho: o Estadão fala somente em duas mil pessoas (sempre ouvi falar que em torno de 6 mil pessoas habitavam o Pinheirinho).
Não contente com a notícia do Estadão, fui ao youtube ver se havia algum vídeo postado lá. E havia!!
O vídeo está no endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=LbCGoYXgoU4
Pelo que pode ser visto no vídeo:
- O Andrea Matarazzo não foi agredido;
- Não vi objetos sendo atirados sobre o Secretário do Alckmin.
- Não vi pessoas idosas sendo impedidas de ir e vir
Pois é, o Matarazzo agora está criminalizando um singelo protesto de cunho totalmente humanista e desinteressado, de pessoas manifestando sua contrariedade e revolta em relação à violência do governo do estado contra mulheres, crianças, idosos e pessoas em situação financeira vulnerável.

A VELHA MARMITA RANÇOSA DA MÍDIA BRASILEIRA


Por Cristóvão Feil

O jornal britânico Financial Times, uma das bíblias do neoliberalismo, caiu na real e está fazendo uma série de matérias sobre a crise estrutural do capitalismo, se dando a liberdade de cogitar que estamos experimentando o limiar de um novo sistema de produção, mesmo não se sabendo ao certo aonde iremos. 
Esse não é qualquer jornal. O FT é uma publicação que circula desde 1888, tem uma tiragem diária de 2,1 milhões de exemplares, circula em 140 países e tem agências editoriais em 50 países.
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Corte rápido.
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O diário paulistano O Estado de S. Pauloestampou em suas páginas, no dia 23 de janeiro último, um artigo do ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, em que ele afirma que os altos ganhos salariais são um dos fortes fatores da atual crise econômica da eurolândia. Pronto, sobrou para os assalariados! É inacreditável que a essa altura da crise alguém ainda atribua a mesma motivações que não as das finanças hipertrofiadas, o descontrole do crédito e a desregulação geral da atividade econômica, em especial a liberdade de ação dos grandes capitais bancários na Europa e no mundo todo. 
Observem que enquanto um jornal de reputação internacional – podemos questionar a sua afiliação político-ideológica – trata da crise de forma direta, frontal e corajosa, o outro, um jornal provinciano como o Estadão, insiste em manter um séquito de especialistas em produzir vianda requentada, como se fora algo fresco e atual, para assuntos tão relevantes como a crise do capitalismo. 
Essa é a grande dificuldade da mídia brasileira: servir marmita rançosa como se estivesse oferecendo peixe fresco grelhado sobre folhas tenras. O problema não é o proselitismo de direita tout court, o problema é o proselistismo de direita, proferido por velhos funcionários da ditadura civil-militar (como Maílson e tantos outros) envolto no papel engordurado do palpite manjado, da opinião pessoal e interessada travestida de vontade geral e republicana.
Prestem atenção: a mídia está coalhada de indivíduos, colunistas, apresentadores, leitores de telepromter e outros quetais que estão ali para expressarem as vozes dos seus donos (ou dos seus patrões e dos amigos dos seus patrões). Entretanto, querem representar o papel de porta-vozes do universal, do democrático e do espírito de nosso tempo.
Ainda bem que eles são péssimos atores e atrizes. 
Coisas da vida.

POSTADO POR CLOACA NEWS 

PSDB : EXEMPLO DE JUSTIÇA SOCIAL

sábado, 28 de janeiro de 2012

Record dá aula na Globo, no Pinheirinho: repórter chora.





A TV Globo cresceu louvando um chamado padrão globo de qualidade, a busca da perfeição estética (porque de conteúdo, haja deformação).

No jornalismo, o repórter deve ser o observador e narrador na notícia, evitar virar notícia e não ser envolvido por ela para não perder o objetividade. Mas a TV Record deixou quebrar essa regra uma vez, e ficou de parabéns.

O repórter Mauro Wedekin foi cobrir a volta das famílias que foram catar, para vender como reciclagem, os destroços de suas casas, demolidas no Pinheirinho, em São José dos Campos.

Lá ele se sensibilizou com a tristeza, culminando com uma criança sentada num bloco de concreto, olhando para aquela cena de terra arrasada, onde ali era sua casa. O repórter não conseguiu narrar o que via até o fim. Embargou a voz, deu um nó na garganta, e tentou sair de cena, distanciando da câmara para limpar as lágrimas e se recompor. A câmara gravou tudo.

A edição, em vez de seguir o padrão globo de qualidade, e cortar a cena, ou gravar de novo, mostrou exatamente o que se passou ali, não cortando nada, quando o repórter desabou emocionalmente. Parabéns para a Record e para Wedekin. Mostrou humanidade num lugar que precisa de humanidade. E aquelas cenas fez a gente, telespectadores, chorar junto.

Curiosidade do destino:

Boni, ex-todo poderoso da Globo, e um dos que implantaram o padrão globo de qualidade, é dono da TV Vanguarda, de São José dos Campos, afiliada que tem produzido as reportagens sobre o Pinheirinho para a Globo nacional.

Dilma e a reforma da gestão pública


Por Daniel Miyagi

De O Estado de S. Paulo

Dilma quer reforma gerencial como nova marca

Presidente pretende construir uma bandeira depois da 'faxina' que marcou seu primeiro ano de governo e pediu à sua equipe foco na gestão do Estado
LU AIKO OTTA, VERA ROSA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo 
O governo de Dilma Rousseff terá como bandeira a reforma do Estado. Foi o que ela explicou em detalhes à sua equipe ministerial, reunida na última segunda-feira. Não se trata, porém, de discutir o tamanho da máquina pública, como se fez no passado recente, quando ganharam força teses sobre o enxugamento estatal. O que Dilma quer é foco na gestão.
"Não tem essa história de Estado mínimo. Isso é uma tese falida, usada pelos tupiniquins. O Estado tem de ser eficiente", costuma dizer a presidente.
A reforma que Dilma tem em mente é gerencial. É fazer com que a máquina administrativa funcione e devolva ao cidadão os serviços pelos quais ele paga. "Isso é revolucionário", definiu. É com essa estratégia que a presidente quer construir uma "marca" de governo depois da "faxina" que derrubou sete ministros no ano passado, seis deles alvejados por denúncias de corrupção.
Dilma está convencida de que o surgimento da nova classe média vai demandar cada vez mais serviços públicos de qualidade.
No diagnóstico da presidente, esse grupo de pessoas saídas da pobreza não fará como a classe média tradicional, que praticamente prescindiu do Estado, recorrendo a escolas particulares, planos de saúde e previdência privada. "Não se iludam! Essas pessoas não vão deixar de procurar escolas públicas nem o SUS e o INSS", argumentou ela.
Na primeira reunião ministerial do ano, Dilma expôs o que espera da equipe para não tropeçar na gestão, como ocorreu no primeiro ano de governo, marcado por crises políticas e pela queda no volume de investimentos do setor público, em grande parte por causa de problemas gerenciais. Obcecada por metas, ela cobrou desempenho dos auxiliares e avisou que, de agora em diante, todos serão avaliados pelos resultados apresentados a cada seis meses.
Exemplo. Alguns órgãos já estão adiantados no processo e fizeram exposições sobre seus sistemas de acompanhamento. O do Ministério da Previdência permite dizer, com atualização a cada 15 minutos, quantas pessoas pegaram senha nos postos do INSS e aguardam atendimento. O da Educação mostra o andamento de construção de creches em cada prefeitura.
Os aeroportos são monitorados 24 horas por dia por câmeras cujas imagens chegam até o gabinete da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Outras áreas, como Saúde e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), vão ganhar sistemas de controle semelhantes. O Ministério do Planejamento criou um escritório que vai se ocupar da reforma gerencial de vários órgãos do governo.
"Serão medidas de grande impacto na vida dos cidadãos", prometeu o secretário executivo adjunto da pasta, Valter Correia. A maior parte das mudanças deriva de sugestões apresentadas pela Câmara de Gestão, presidida pelo empresário Jorge Gerdau.
Independentemente disso, a Casa Civil está estruturando um sistema que será periodicamente alimentado de informações por todos os ministérios.
Na prática, ela foi novamente turbinada e começa a reassumir todas as funções de gerência, no mesmo modelo da época em que Dilma comandou a pasta, de 2005 a 2010. Com dificuldades para deslanchar, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, será monitorado pela Casa Civil.
Um ano depois de instalados, os quatro fóruns temáticos de gestão do governo não funcionaram e Dilma decidiu encerrá-los. No lugar deles é que entrará o sistema de monitoramento online dos programas, coordenado pela Casa Civil.

Por marcelosoaressouza

Do iG

Dilma escala Gerdau para cobrar ministros

Megaempresário tem conversado com ministros e monitorado eficiência das pastas

Preocupada com os problemas de gestão da administração federal, a presidente Dilma Rousseff decidiu acelerar o processo de adoção de um modelo empresarial para tentar desemperrar a máquina pública e dar um upgrade no atendimento prestado ao público. A estratégia de guinada em direção a um novo modelo prevê conversas do megaempresário Jorge Gerdau com diversos ministros, revisão do funcionamento das pastas por uma consultoria privada, definição de metas e prazos e fiscalização em tempo real dos projetos e gastos públicos. 
Foto: Agência EstadoAmpliarO empresário Jorge Gerdau
Esse planejamento estratégico, no entanto, esbarra em problemas como o tamanho da equipe herdada de Luiz Inácio Lula da Silva, com 38 ministros, e a força de partidos aliados, que montaram verdadeiros feudos políticos nas pastas que conduzem, aparelhando áreas vitais para o atendimento à população.
Alguns exemplos claros mostram que essa estratégia já foi acelerada dentro do governo. Presidente da Câmara de Gestão e Competitividade do governo, Jorge Gerdau tem conversado com ministros, entregando uma espécie de lista de metas e sugestões para que as pastas melhorem o desempenho. Ele sugeriu a redução de pastas, mas, sem que o governo tivesse força política para conseguir isso, a tática mudou para o monitoramento mais próximo dos ministérios.
Para que esse movimento avance, o governo sabe que um dos principais nós a ser desatado está na partidarização de cargos nos ministérios e autarquias. A estratégia a ser adotada por Dilma é de amenizar o impacto dessas indicações políticas. Em vez de vetar as indicações políticas ou extinguir ministérios, o Planalto definirá objetivos e resultados que poderá cobrar dos ministros. Ou seja, a maneira escolhida por Dilma para blindar sua gestão do xadrez político que precisa jogar para dispor de maioria no Congresso vai na linha de melhorar a relação do Estado com a população, fazendo a máquina funcionar sem importar quem comanda o ministério.

sábado, 28 de janeiro de 2012

De um judeu israelense

De um judeu israelense


“O que posso dizer é que os judeus que vivem nos países árabes e no Iran, vivem melhor do que os judeus que vivem em Israel”



Recebo a visita de um leitor “judeu israelense”.

As aspas são para ressaltar que a expressão é dele mesmo.

Muito simpático e falante está no Brasil em visita a parentes, meus amigos e leitores do blog.

Trazia alguns exemplares da Folha de S.Paulo, Estadão, O Globo e Revista Veja.

Queria saber qual era a minha opinião sobre “esse tipo de mídia”.

Ele nem esperou a resposta e foi logo dizendo que jamais vira um comportamento tão unânime da mídia.

-São mais radicais que a mídia israelense em relação à Questão Palestina, falou. Essa mídia me lembra o comportamento da mídia nazista durante a perseguição aos judeus.

Me perguntou se os jornalistas brasileiros aprendem História na escola ou se cursam faculdade.

Digo que não adianta perder tempo com os jornalistas porque escrevem o que escrevem não por falta de conhecimento, mas por medo de perder o emprego.

E também porque alguns são ideologicamente nazistas ou simpatizantes.

A conversa durou algumas horas. Tratamos do sionismo, do fundamentalismo cristão que aos poucos vai se alastrando pelos Estados Unidos e Ocidente, do Iran, das divergências entre sunitas e xiitas, da enganosa “Primavera Árabe” e, claro, da Síria, onde vivem alguns parentes seus.

-Até agora não tiveram problemas, ele disse, mas se Israel ou os Estados Unidos invadirem o país, ninguém vai estar salvo.

E finalizou a nossa conversa.

-O que posso dizer é que os judeus que vivem nos países árabes e no Iran, vivem melhor do que os judeus que vivem  em Israel. 

Veja bem que eu disso os judeus e não os sionistas

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VIVER NO RIO

UMA CRÔNICA PARA O FIM DE SEMANA  




Eu podia dizer que tenho saudade do Rio da minha infância, 1960, 60 e poucos. O bonde. Os cinemas da Praça Saens Peña. A rua de paralelepípedos onde a gente jogava bola descalço, escalavrando os pés. Os restaurantes do centro onde às vezes eu almoçava com meu pai: o Rio Minho, quando ele estava abonado; o Dirty Dick, quando estava mais ou menos; a Casa Americana, quando a grana era curta. E a vida era assim como um brinquedo novo.

Eu podia dizer que tenho saudade do Rio da minha adolescência, final dos anos 60, início dos anos 70. E de fato eu era um descobridor insaciável da urbe, perambulando pelo Centro Velho, amanhecendo na praia de Ipanema, aprendendo as linhas de ônibus de Copacabana, andando a pé pela Tijuca, subindo as ladeiras da Gávea. E a vida era uma laranja madura, como aquelas que vendiam na entrada do Maracanã.

Eu podia dizer que tenho saudade do Rio dos anos 80. Levar os filhotes para conhecer o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Passear no Jardim Botânico, na Floresta da Tijuca, na Quinta da Boa Vista, no Jardim Zoológico. Conhecer as melhores bandas de rock no Circo Voador. Rodar todos os sebos para comprar livros mais em conta. Ir na noite da Lapa quando a Lapa não era moda. E a vida era que nem a cidade, cheia de atrações.

Mas não.

Saudade, saudade mesmo, eu tenho do Rio dos anos 1910, 1920,  por aí. Quando a Rio Branco era a recém aberta Avenida Central, com todos aqueles prédios belíssimos com jeitinho parisiense. Quando o Morro do Castelo ainda guardava os mistérios da cidade seiscentista. Quando a praia do Flamengo era chique, a enseada de Botafogo era limpíssima e Copacabana, um areal. Quando João do Rio exercia a arte de flanar. Quando os Oito Batutas tocavam no Cine Odeon.

Sei lá. Um dia um forde bigode me pega à meia-noite, sentado meio perdido na ladeira do Largo da Misericórdia, e me leva a passear pelo Rio antigo.
    
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A " Política Social" do PSDB





Alckmin faz o "Minha Cova, Minha Vida" para o Pinheirinho: 72 anos de espera para ter a casa própria

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A coisa é pior do que havíamos avaliado aqui, quando os tucanos, governador Alckmin e o prefeito Eduardo Cury (São José dos campos), anunciaram ontem a "solução final" para os desalojados do Pinheirinho.

Todos terão direito à uma cova a 7 palmos debaixo da terra.

Casa, só no dia de São Nunca.

São José dos Campos tem uma fila de espera da casa própria de 28 mil inscritos. E o ritmo de construção da administração tucana é de 387 casas populares por ano na cidade.

Nesse ritmo, basta os desalojados do Pinheirinho esperarem 72 anos. Muitos nem estarão vivos até lá.

Isso é Alckmin. Isso é Eduardo Cury. Isso é o PSDB fazendo "política social".





É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.

Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
(João Cabral de Melo Neto)

HORA DO RECREIO

Felipe Lima
Felipe Lima /


José Carlos Fernandes

Dos perigos do vento encanado

  • a

Houve uma época em que a maior causa dos problemas de saúde era o vento encanado, desbancado apenas pela aids, como brinca Carlos Heitor Cony. Em segundo lugar vinham os gases. De modo ser raro um quintal que não tivesse um pé de alecrim cheiroso, cujo chá tem um admirável poder expectorante, despertando a flatulência qual a fúria dos vulcões. Pergunte à sua avó.
Suspeito que mesmo com toda a ciência não nos libertamos dessas duas crenças, entranhadas em nossas almas e ventres. Do vento encanado nos protegemos fugindo das janelas ou substituindo-as por infames cortinas de vidro, pelas quais os arquitetos terão de dar contas a Deus. Quanto aos gases, copio e colo aqui a teoria de uma amiga: as pessoas gostam tanto de andar de carro porque ao volante podem soltar “puns” à vontade, o que lhes resolve parte dos problemas. Imagine a Visconde de Guarapuava parada às 19 horas do rush. Milhares de condutores solitários. Buzinas para despistar. Em segredo, fazem o quê?


As “teúdas e manteúdas” dos romances de Jorge Amado são sempre janeleiras, com seios arfantes, flor na têmpora e prontas para o desfrute. E a mulher destrambelhada? Seca cabelo na janela, mesmo sabendo que pode adoecer por causa disso. Cá entre nós, acho injusto com as janelas tomá-las por perigo à saúde pública e à moralidade. Tudo bem – delas os suicidas se atiram, dali despencam bitucas de cigarro seguidas de uma cuspida, mas difícil quem não tenha uma boa lembrança vivida em roda das ventanas.Como não quero criar picuinhas entre a indústria automobilística e os gastroenterologistas, vou me ater às janelas fechadas, à prova de ares insalubres e de conversa fiada. Exato. Nesses quentes trópicos, ficar à janela está associado também a doenças sociais, como mexerico e perda de tempo. É um prenúncio de vadiagem. Repare.
Conto duas das minhas. Há muitos anos, peguei semana de chuva na Praia Grande, na Baixada Santista. Entediados, veranistas se plantavam nas janelas, esperando sol. De repente, um deles começou a entoar “Sonhos”, de Peninha, no que foi seguido por um coro informal do HSBC brotado das quitinetes: “Mas não tem revolta não, eu só quero que você se encontre, ter saudade até que é bom...” Foi lindo que nem O casamento do meu melhor amigo, quando o elenco canta “I say a little pray for you” num restaurante. Ai, ai.
A segunda história se deu em Ribeirão Preto, cidade paulista de temperaturas senegalesas e persianas escancaradas. Altas horas, eu ouvia da cama a música que vinha do bar ao lado: “Fio de Cabelo”, um clássico que decorei. Toquem no meu velório, por favor. Daquela mesma janela um colega de seminário descobriu o amor. Manhã bem cedo, 25 graus, com tudo aberto para a fresca, ele dava religiosamente “bom dia” a uma Ana que, deuses, ficava no ponto do ônibus, diabolicamente a um metro da vidraça. O padre bem nos tinha avisado dos perigos do vento encanado.
Não debochem – janela é questão digna das Nações Uni­­das. A urbanista norte-americana Jane Jacobs dedica ao assunto algumas páginas do seu incrível livro Morte e vida de grandes cidades. Já na década de 1960, ela percebia que áreas de edifícios sem janelas voltadas para as ruas tendiam a ser menos comunitárias e mais violentas. O que ninguém olhava, ninguém cuidava. De modo que em nome da paz mundial vale a pena se pôr no batente vez em quando, mesmo que seus vizinhos o tomem pelo voyeur Jeff de Janela indiscreta.
Como me disse um dia a fotógrafa Lina Faria, em Curitiba a gente só vê mesmo é velhinhos na janela. De resto, é tudo cortina branca, como manda o condomínio. Vai ver o vento já não lhes mete medo. Sortudos. Em perspectiva, acompanham a sinfonia de freadas e sirenes, mas também babéis de casais de namorados, crianças a caminho da escola, maridos saltimbancos, o anônimo varredor de rua, a venda de entorpecentes, quiçá algum assalto.
Eis a vida. Que os olhos desses veteranos me alcancem na hora em que eu mais precisar.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Privataria, pancadaria e disputa de ideias

Privataria, pancadaria e disputa de ideias


Por Gilberto Maringoni, na Carta Maior
Vamos combinar: a administração Alckmin atingiu seu objetivo. Desocupou a força o bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, desalojando cerca de seis mil pessoas. Através de uma guerra de liminares, contornou um imbróglio de competências jurídicas e legalizou a brutalidade contra setores pobres da população (mais uma vez). Fez um cálculo político: estamos a nove meses das eleições, tempo suficiente para que cenas de mães correndo com filhos nos braços, policiais espancando crianças e incêndios e tratores dando cabo de moradias sejam esquecidas pelo eleitorado. No jargão da Polícia Militar, a operação foi um sucesso.
Mas o governo do Estado de São Paulo parece estar perdendo a batalha de comunicação. O presidente interino do PSDB, Alberto Goldmann, acusa o golpe de forma clara, em nota oficial de seu partido. Logo de saída, ele ensaia um ataque:
“O cumprimento da decisão judicial fez com que o PT movimentasse todos seus tentáculos políticos e sua máquina de desinformação, com o intuito de atingir três metas: culpar o Governo do Estado pelo fato, caracterizar como de extrema violência a intervenção policial no local e se apresentar como paladino da justiça social, fazendo falsas promessas e criando expectativas irreais para os moradores do local”.
Goldman tenta reduzir o caso a uma querela político-partidária. “Todos os tentáculos” se refere, obviamente, à impressionante difusão que o caso ganhou nas redes sociais e em toda a internet, não apenas por possíveis petistas, mas por gente cujo elo de ligação maior era o espanto com o ocorrido.
No fim do texto, o dirigente tucano tenta eximir seu governo de qualquer responsabilidade:
“O governo de São Paulo agiu em cumprimento de determinação do Judiciário, e a operação foi comandada diretamente pela Presidência do Tribunal de Justiça paulista”.
Tudo certo. Nada aconteceu por vontade do governador. Houve apenas o cumprimento de uma decisão “técnica” e “racional” para que as coisas voltassem à sua ordem natural. Algo impessoal e asséptico.
Não é com ele
O PSDB exibe aqui a mesma defensiva que pauta a agremiação quando o assunto é a política de privatização dos anos 1990. Ao longo daquela década, os líderes do PSDB – como bem mostra Amaury Ribeiro Jr. em “A privataria tucana” – posavam exultantes ao lado dos martelinhos dos leilões com os quais eram vendidas as estatais.
Passada a euforia, após a abrupta desvalorização do real em 1999, o partido mostrou-se hesitante e mesmo envergonhado para defender a acelerada alienação do patrimônio público nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Isso ficou claro nas campanhas presidenciais de 2006 e 2010, quando os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra foram acuados por Lula e Dilma Rousseff, que repetiram o tema até constranger seus oponentes. O atual governador de São Paulo chegou a ostentar na TV um ridículo jaleco salpicado de logotipos de estatais para demonstrar seu amor às empresas públicas. (É bem verdade que para isso, o PT, que agora defende a privatização de aeroportos, lançou mão de eficiente cara de pau diante do eleitorado. Tudo bem, faz parte do show).
As privatizações se constituem em outro caso claro de vitória operacional que se transformou em derrota política.
Amaury Ribeiro Jr. assinalou isso em um concorrido debate para o lançamento de seu livro na tarde desta quarta (25), no Fórum Social Temático, em Porto Alegre. “Fiquei me perguntando por que um livro sobre as privatizações, um tema da macroeconomia, vendeu tanto e sensibilizou tanta gente em todo o Brasil”, disse ele logo de início. Em seguida, emendou: “É porque a venda das estatais afetou a vida de milhares de pessoas, não apenas daquelas que trabalhavam e foram demitidas das companhias, mas daquelas que acreditaram nas promessas de que o país melhoraria com os leilões”.

Amaury certamente conhece uma pesquisa realizada em 2007 pelo jornal O Estado de S. Paulosobre o assunto. Ela constatava que “A maioria do eleitorado brasileiro (62%) é contra a privatização de serviços públicos”.
Poder de fogo
A chamada “batalha da comunicação” faz parte de uma aguda disputa de ideias na sociedade, difícil de ser levada adiante por conta da diferença do poder de fogo dos meios de comunicação. Ela pode expor de forma nítida que concepções ou projetos de sociedade cada setor deseja concretizar.
Provavelmente a ideia de Geraldo Alckmin é que os seis mil moradores do Pinheirinho, por não terem acesso à mídia, não causariam maiores problemas de imagem à sua gestão.
Desocupações sustentadas pela polícia ocorreram às dezenas antes, sem que houvesse eco na opinião pública. Além disso, não seria difícil vincular aos moradores a imagem de baderneiros, violadores do direito à propriedade e marginais. Para uma classe média conservadora, leitora de “Veja” e que detesta pobre, não haveria problema algum em descer o tacape nos miseráveis.
Nunca é demais lembrar que o massacre do Carandiru, que completa vinte anos no segundo semestre, foi saudado à época por largas parcelas da população, que chegou a eleger o comandante da operação como deputado estadual. E que investidas policiais contra os sem-terra sejam volta e meia aplaudidas por expressivos setores da opinião pública.
No caso atual, não apenas há imagens dramáticas, como há o fator internet. As cenas de espancamentos no Pinheirinho adquiriram quase que um caráter viral na rede. Disseminaram-se sem controle, colocando o governo estadual e a direção do PSDB na defensiva.
Não há ainda pesquisas sobre as impressões da população diante do caso. Pode ser que uma maioria ainda apoie a ação oficial. Mas o quadro tendencial é de desgaste crescente.
O conservadorismo tucano parece ter encontrado seus limites. Enquanto suas iniciativas no terreno da segurança pública conseguiam ser enquadradas no guarda chuva genérico de se garantir a “tranquilidade da população” ou de se manter a previsibilidade sobre a ação policial (“bandido bom é bandido morto”, “a lei tem de ser respeitada”, “polícia boa é polícia dura” etc.), tudo ia bem. Mas quando há excessos, que revelam ações desmedidas e causadoras de sofrimentos desnecessários, o apoio à truculência deixa de ser incondicional.
E é aí que se começa a perder a batalha de ideias.
Batalha de ideias? Em outros tempos a pendenga era chamada por seu nome correto: luta ideológica. Essa do Pinheirinho é das boas.
Truculência tem história
Só a título de curiosidade: a política higienista empreendida pelo governo do Estado no Pinheirinho e da prefeitura na Cracolândia tem antecedentes ilustres.
Em 1914, o então prefeito de São Paulo, Washington Luís (que viria a ser presidente da República, usou as seguintes palavras para justificar a violenta expulsão da população pobre da Várzea do Carmo para a construção do parque D. Pedro, no centro da capital:
“O novo parque não pode ser adiado porque o que hoje ainda se vê, na adiantada capital do Estado, a separar brutalmente do centro comercial da cidade os seus populosos bairros industriais, é uma vasta superfície chagosa, mal cicatrizada em alguns pontos e ainda escalavrada, feia e suja, repugnante e perigosa, em quase toda a sua extensão (…). É aí que, protegida pela ausência de iluminação se reúne e dorme, à noite, a vasa da cidade, numa promiscuidade nojosa, composta de negros vagabundos, de negras emaciadas pela embriagues habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, em todas as idades, todos perigosos (…). Tudo isso pode desaparecer sendo substituído por um parque seguro, saudável e belo. Denunciando o mal e indicado o remédio, não há lugar para hesitações, por que a isso se opõem a beleza, a higiene, a moral, a segurança, enfim, a civilização e o espírito de iniciativa de São Paulo.”
Tirando uma palavra ou outra, parece discurso proferido pelas atuais autoridades paulistas.