Moro e a república ultra-tucana do Paraná
6 de dezembro de 2014 | 10:18 Autor: Miguel do Rosário
A “República do Paraná”, que investiga a corrupção na Petrobrás, se revela, cada vez mais, um núcleo ultra-tucano.
Vejamos.
Os delegados federais da Lava Jato são tucanos tão descarados queoperam nas redes xingando Lula, o governo, e dando loas a Aécio Neves.
Até os réus presos, por supostamente pagarem propina a servidores da Petrobrás, são quase todos tucanos. Vide o caso deste último, executivo da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, mencionado no último post.
O cidadão passou décadas mamando nos governos do PSDB, sabe-se lá com que tretas, aproveitando-se inclusive de ligações familiares, visto que seu primo, Marcos Mendonça, é um tucano de alta plumagem que sempre ocupou altos cargos em governos tucanos.
Aí o cara é pego num esquema da Petrobrás, e resolve delatar quem? O PT, é claro.
O outro réu que decidiu fazer delação premiada, Alberto Youssef, é um tucano das antigas. Fez-se na vida lavando dinheiro e operando sempre para o PSDB. Foi preso e condenado inclusive por isso. Aceitou a delação premiada, jogou a culpa nos outros, foi solto e correu de volta para o mundo do crime. Como é tucano, e tucano pode tudo, o juiz lhe deu outra chance de entrar no jogo da delação.
Seu advogado, Antonio Augusto Lopes Figueiredo Basto, tinha uma sinecura no governo do Paraná, do PSDB.
A Globo e Basto fizeram até tabelinha, para combinar uma narrativa bem legal, contra o PT, naturalmente.
E quem Youssef resolve delatar? O PT, óbvio.
Agora descobrimos que a própria família do juiz Sergio Moro é ligada ao PSDB.
Segundo apurado pelo site Poços 10, com apresentação de provas, sua esposa, a senhora Rosângela Wolff de Quadros Moro, presta assessoria jurídica ao governo do Paraná.
Para a coisa ficar ainda mais estranha, o escritório de sua esposa presta serviços à Shell, petrolífera estrangeira concorrente da Petrobrás.
Num mundo perfeito, onde as pessoas soubessem separar totalmente o público e o privado, não haveria nada demais.
Mas o mundo não é perfeito. E a operação Lava Jato se revela profundamente politizada.
É evidente que Sergio Moro está cercado por um antipetismo raivoso: no governo, na classe a qual pertence, na sua categoria profissional, no seio da família, na empresa da esposa, na grande mídia.
É muito difícil ser imparcial num ambiente assim.
O Brasil vive um “bolivarianismo” às avessas.
Acusa-se, injustamente, o chavismo de controlar as instituições democráticas para que estas trabalhem em prol do governo.
Aqui as instituições, ao invés de trabalharem em harmonia com o governo eleito, se esforçam para derrubá-lo.
Moro faz um jogo perigoso; ao determinar o que vaza e o que não vaza dos depoimentos, permite que aqueles mesmos que ele, como juiz, considera suspeitos, influenciem a agenda política nacional.
Esse é o maior absurdo.
Deixar bandidos pautarem a agenda política da sétima economia do mundo.
Depoimentos de delação premiada são sigilosos justamente para evitar o que está acontecendo. Acusações falsas, manipulação por parte dos delatores, assassinatos de reputação; enfim, todos os riscos inerentes à delação premiada.
Eu queria saber outra coisa.
Gerson Camarotti, da Globo, ainda não explicou o post que publicou no dia do penúltimo debate da campanha presidencial na TV.
Camarotti informou que Alvaro Dias, senador tucano do Paraná, e Aécio Neves, candidato do PSDB, tinham recebido a íntegra dos depoimentos de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, que incriminavam a cúpula do PT.
A informação era auto-acusatória.
O desespero do PSDB e da Globo lhes fez perder a prudência. Ora, então era assim? A Justiça do Paraná entrega aos tucanos tudo que eles querem? Ou seria pior? A Globo fazendo o jogo sujíssimo de Aécio, ameaçando Dilma e o PT com um blefe?
Era blefe e jogo sujo da Globo porque se o PSDB tivesse algo quente teria dado à Veja ou Globo antes da eleição. Uma coisa concreta poderia lhe garantir a vitória naquele momento.
Poderia… A democracia tinha outros planos para o Brasil, graças a Deus.
Eu queria ver, no entanto, a Operação Lava Jato como um marco importante para o país, a oportunidade de mudarmos a cultura de corrupção iniciada há muito tempo e consolidada durante o regime militar, período no qual as atuais empreiteiras formaram uma espécie de cartel.
As mesmas empreiteiras, aliás, que sempre bancaram a mídia.
Ditadura, empreiteiras, mídia, filhos dos mesmos pais: a corrupção e o autoritarismo.
Se conseguirmos controlar os impulsos golpistas da mídia e do judiciário, que estão fazendo de tudo inclusive para melar a investigação, para depois gritarem pizza!, novamente botando a culpa no governo, a Lava Jato pode dar bons frutos.
A Petrobrás, por exemplo, criou algo que deveria ter feito há tempos. Uma diretoria especializada em detectar corrupção na estatal. A estatal, porém, continua desprezando iniciativas criativas de comunicação. O blog está lá, inerte, confuso e feio.
Dinheiro para investir em publicidade na mesma mídia que lhe acossa dia e noite, isso não falta.
Não eximo o governo e o PT de suas responsabilidades perante a corrupção. Só não concordo que a resposta seja derrubar a presidente ou paralisar o governo.
Falta o governo, através do Ministério da Justiça, fazer o que faz a Suécia, modelo neste sentido: criar núcleos de monitoramento anticorrupção para cada grande obra em andamento no país.
Quando tivermos um Ministro da Justiça, poderíamos pensar em alguma coisa assim.
A presidenta ou alguém do governo também poderia vir a público e nos refrescar a memória acerca de todas as ações que o governo já tomou e pretende tomar para combater a corrupção no país.
O silêncio do governo é enervante. Não pode contratar um porta-voz?
Apesar de tudo isso, não acredito em golpe. Nossa tradição conciliatória, que às vezes nos irrita tanto, por prolongar situações tensas por um longo período, também tem suas vantagens. O instinto golpista sossegará em breve.
Seria paranoia, além disso, achar que todas as instituições, cada uma em sua totalidade, estariam tomadas pelo golpismo, ou pelo ódio ao governo.
Não é assim, felizmente.
A maioria das pessoas, dentro das instituições, mesmo aquelas críticas ao governo, e ao PT, ainda tem suficiente bom senso para entender que o Brasil precisa de um mínimo de estabilidade institucional para poder avançar.
Em 2018, haverá outra eleição, e a oposição já provou a si mesma que pode ganhar.
É ingenuidade achar que a oposição vai deixar de bater no governo. Faz parte do jogo.
Apenas exigimos que a democracia e os direitos humanos sejam respeitados.
Que a justiça seja prudente, sábia e imparcial.
Que o combate à corrupção seja sincero, e não um subterfúgio para driblar a vontade popular.
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