domingo, 2 de março de 2014

GOLPE NA UCRANIA = Facistas no poder.

A reação da Rússia na Ucrânia

Por JNS

- "Русские долго запрягают, но быстро едут" é um ditado russo que diz:
- "Os russos demoram para selar o cavalo, mas, depois que montam, andam depressa."
Ao longo dos últimos dias, os eventos na Ucrânia entraram em rápida aceleração e houve vários eventos simultâneos. Em Kiev, os líderes da insurgência assumiram controle total do Parlamento e imediatamente aprovaram leis que revogam o status de língua oficial para o idioma russo.

Os líderes políticos foram à Praça Maidan para obter a aprovação dos membros propostos para o novo governo. Exatamente como ordenou Victoria Nuland, a secretária-assistente de Estado dos EUA, Iatseniuk ficou com o cargo de primeiro-ministro.
Na própria Praça Maidan, aparecem profundas diferenças entre partes, que agora se opõem entre elas, da multidão. O neonazista líder das "forças de segurança Maidan" e um dos fundadores do Partido Liberdade, Andrei Parubii, tornou-se chefe do Conselho de Segurança. O líder do Setor Direita (Pravy Sektor) neonazista, Dmitri Iarosh, é agora Delegado-chefe do Conselho de Segurança. O resto do novo governo é, na sua maioria, de apoiadores do ex-presidente Yushchenko, em outras palavras: leais agentes dos EUA.
O novo regime dissolveu a polícia antitumultos e, assim, liquidou a última força que restava ainda capaz de manter a lei e a ordem nas regiões controladas pelos insurgentes. Agora reina a lei das gangues, nua e crua. A moeda está em queda livre. Iatseniuk diz que são necessários $35 bilhões imediatamente, para evitar um calote. A dívida total é de $170 bilhões.
Nas áreas controladas pelo novo regime, estão acontecendo "expropriações" (roubos e assaltos) por toda a parte; a rua é governada pelos bandidos. Yanukovich foi retirado da Ucrânia por forças da segurança russas (mais sobre isso, adiante). O Parlamento do Tartaristão e o Congresso Mundial dos Tártaros apelaram aos tártaros da Crimeia, basicamente para parar à merda toda (disseram isso em termos mais polidos). Honra e glória, à sabedoria dessas duas organizações!
Homens armados, não identificados, tomaram o prédio do Parlamento da Crimeia às 4h da madrugada, só para assegurar que, dessa vez, os membros eleitos daquele Parlamento pudessem entrar e reunir-se. Uma bandeira russa foi hasteada no topo do prédio do Parlamento. O governador de Carcóvia, Mikhail Dobkin, renunciou ao cargo, para concorrer à presidência da Ucrânia, nas eleições de 25 de maio.
O Parlamento da Crimeia assumiu as funções do governo central e anunciou um referendo sobre o futuro da Crimeia, marcado para 25 de maio. O recém-eleito prefeito de Sebastopol reuniu-se com o Comandante-em-chefe da Frota do Mar Negro. Os dois declararam que não será tolerada nenhuma violência, seja de que tipo for.
Novas milícias populares de defesa formaram-se na Criméia, com número estimado entre 5 mil e 15 mil membros, organizados em brigadas. Estão controlando todas as principais estradas e no momento estão filtrando o tráfego de quaisquer "visitantes" provenientes das áreas controladas pela insurgência. Membros importantes do Parlamento russo visitaram a Criméia para manifestar apoio à população local e reunir-se com parlamentares da Criméia.
Na Rússia, as opiniões estão divididas sobre o que fazer. Vladimir Zhirinovksy e seu partido LDPR dizem que a Rússia deve ficar de fora e não dar um único rublo aos ucranianos. Os comunistas querem que a Rússia leve a questão ao Conselho de Segurança da ONU. O Partido "Só Rússia" (mais "moderado") está manifestando pleno apoio ao povo da Criméia e diz que a Rússia tem de intervir e ajudá-lo. Feitas as contas, a tomada do governo por neonazistas em Kiev parece estar despertando uma mistura de desgosto e fúria, que pressionará o Kremlin para que faça alguma coisa.

Assim sendo... E o Kremlin? Parece que está usando uma estratégia de resposta em várias etapas, que serão colocadas em andamento, simultaneamente:
Ao retirar Yanuk do país e permitir que se refugiasse na Rússia, o Kremlin deixou claro que o presidente legitimamente eleito da Ucrânia estará fisicamente disponível para desafiar qualquer e todas as decisões do novo governo, do Parlamento controlado pelos insurgentes e do governo nacionalista fascista. É evidente que Yanuk está politicamente morto, mas, em termos da legislação vigente, continua a ser extremamente poderoso e ator importante que tem de ser mantido vivo.
O (agora ex-) governador da Carcóvia, Mikhail Dobkin, fez "discreta" viagem à Rússia e voltou com a decisão de renunciar ao cargo de governador, para concorrer à presidência.
À primeira vista, a ideia de participar de eleições controladas pelos fascistas pode parecer estúpida, mas repense: em primeiro lugar, no caso totalmente improvável de uma eleição que seja pelo menos 50% decente, ele quase com certeza será eleito (a maioria dos ucranianos não apoia os fascistas).
Segundo, se a eleição for "manipulada", Dobkin, candidato, poderá questioná-la.
Terceiro, pelo simples fato de concorrer, ele pode forçar a imprensa controlada pelos fascistas (sobretudo a TV) a dar-lhe tempo de televisão para responder à propaganda nacionalista fascista. Assim, tudo considerado, é um movimento astucioso.
Para a Criméia, assunto está resolvido: em maio, se tornará estado independente. Esse estado terá alternativas abertas e, se, por algum milagre inesperado e basicamente impossível, Dobkin for eleito presidente, a Criméia pode aceitar um ‘status quo ante’ [lat. ‘estado em que as coisas estavam antes’], mas com o claro entendimento de que aquele será um arranjo federativo do qual a Criméia poderá separar-se a qualquer momento. Se algum dos nacionalistas for "eleito", nesse caso a Criméia romperá todos seus laços com a Ucrânia e se unirá economicamente com a Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão e Armênia, como estado independente.
A Rússia usará a força para defender a Crimeia se for necessário. A solução preferível é ajudar as autoridades locais a defenderem-se, elas mesmas, fornecendo, se necessário, fundos, armas, expertise, inteligência e etc.. Mas em praticamente todos os casos, nada disso será necessário, simplesmente porque tudo isso pode ser fornecido pela Frota do Mar Negro, com base ali mesmo. No máximo, os ucranianos nacionalistas podem mandar para lá as mercenários que já usaram em Kiev.
Por outro lado, a Frota do Mar Negro pode mobilizar a 810ª Brigada Independente de Infantaria Naval, o 382º Batalhão Independente de Infantaria Naval e, até, o 102º Destacamento Independente Spetsnaz da Marinha [emblema, na imagem], o que significa algo entre 1.300-1.400 soldados de elite, todos eles oficiais super treinados, com longa experiência de combates, apoiados por artilharia, força aérea, blindados, etc.. A expectativa é que as autoridades locais e as forças policiais (inclusive os Berkut da polícia antitumulto local e as milícias populares de defesa) serão suficientes para conter qualquer "visitante" da insurgência que apareça por lá, sem precisar de qualquer ajuda da Frota do Mar Negro. Em resumo: a insurgência ucraniana jamais controlará a Criméia.
Leste da Ucrânia
É onde as coisas ficam muito mais nebulosas. O palpite é que o Kremlin está adotando uma atitude de "esperar para ver" em relação ao leste da Ucrânia, esperando pelo que aconteça num nível local. O princípio básico por trás da política do Kremlin é "só ajudamos os que se ajudem eles mesmos e façam por merecer nossa ajuda". A Criméia é exemplo perfeita dessa abordagem. Fato é que os nacionalistas têm forte presença em Carcóvia, Dniepropetrovsk ou Poltava. Assim sendo, o desenlace aí é muito mais difícil e delicado de antever.
Aqui, a política correta é autoevidente: primeiro, deixar que ocorra a luta entre facções e eles passem a comandar a já arruinada economia real; eles que descubram até onde conseguem sobreviver movidos só a hinos nacionalistas e gritos de "Бий жидів та москалів - Україна для українців" (Fora, judeus e russos, Ucrânia para os ucranianos). A União Europeia e os EUA que compareçam com os $35 bilhões para pagar por mais essa "revolução colorida" e evitar um calote; e, depois, eles que deem jeito de administrar esse novo regime "popular pró-ocidente".
Então, quando o dinheiro deles acabar, é esperar que recorram ao Kremlin e peçam ajuda. Aí, basicamente, se tratará de "comprar a parte deles para tirá-los do negócio", item a item, fábrica a fábrica, político a político, oligarca a oligarca, região por região.
A Rússia NADA deve aos nazistas odiadores de russos. E nada lhes dará gratuitamente. Os nacionalistas ucranianos tentarão retaliar, sobretudo com ataques aos gasodutos russos que atravessam a Ucrânia, mas essa estratégia inviável, ferirá, em primeiro lugar e mais fundo, a Europa; e, afinal, a Rússia construirá dois gasodutos que não estão projetados passar pela Ucrânia. Eventualmente, a Ucrânia acabaria por romper com o ocidente.
Quanto à China, já está processando judicialmente o novo regime por quebra de contratos comerciais (ou, pelo menos, já há notícias disso, em algum dos noticiáriosi). A China seguirá a Rússia, neste caso.
A menos que ocorra um milagre, haverá muita violência nas províncias do leste da Ucrânia. No ponto em que estão as coisas hoje, não haveria qualquer intervenção militar russa para proteger a população que fala o idioma russo, que terá de defender-se, sozinha. A Rússia garantirá: (a) apoio político, (b) financeiro e, possivelmente, (c)  uma quantidade limitada de apoio secreto.
Quanto aos EUA e a OTAN, não deverão intervir militarmente. Haverá MUITA propaganda anti-Rússia, muita propaganda pró-nacionalistas fascistas, milhões de dólares norte-americanos continuarão a encher as burras dos líderes do golpe, mas, mais cedo ou mais tarde, os EUA e seus fantoches europeus terão de se conformar ante a evidência de que fracassaram: não expulsaram a Frota do Mar Negro da Crimeia; e a Crimeia se encaminhará na direção da Rússia: será o tiro pela culatra, da "revolução colorida" que EUA e União Europeia implantaram em Kiev.
Mas em nenhum caso, os EUA e a União Europeia reconhecerão qualquer tipo de autoridade pró-Rússia em nenhuma parte da Ucrânia. Por isso é possível que o país rache, como a Geórgia ou as duas Coréias. Isso não tirará o sono, nem da Criméia e nem da Rússia – EUA e União Europeia que tenham sua própria versão do Kosovo, só para variar.

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