segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

“Capitalismo com características brasileiras”.


Publicado em 23/12/2013

“CAPITALISMO COM
CARACTERÍSTICAS BRASILEIRAS”

As mudanças físicas, na Geografia, tem o efeito de um choque de átomos.
Um Nacionalismo rejuvenescido pela soberania popular


“Socialismo com características chinesas” é uma das frases que definem Deng Xiaoping – e a China.

Assim como Mandela não virou tucano – só faltou fazerem-lhe branco de olhos azuis –, a China e Deng não se tornaram capitalistas.

São comunistas.

Como foi Mandela.

Aqui, há uma certa dificuldade de entender que o Brasil não é mais tamanho “P”, como no Governo do Príncipe da Privataria.

O tamanho “P”, “P” de “tirar o sapato, serve à ideologia colonizada, que pretendia eternizar a subalternidade do Brasil – com as mesmas peripécias ideológicas com que tentaram embranquecer o militante da luta da armada conhecido como Mandiba e retirar a “característica” comunista do regime chinês.

O Brasil agora é do tamanho “G”.

Na Big House é difícil entender isso, porque, também, há duas pragas que assolam o país.

Primeiro, é o “são-paulo-centrismo”,  em vias de extinção.

São Paulo não pensa o Brasil, dizia o mestre Fernando Lyra – clique aqui para ler “o importante é o rumo”.

A outra praga é a hegemonia dos “economistas” sobre nas reflexões  sobre o Brasil.

Não se estuda mais de Política – não essa politiquinha congressual, de Brasília (outra praga !) – , História, Geografia, Demografia, Filologia, como recomendava Giambattista Vico, que, por acaso estudou em Nápoles e, não, em Chicago.

Como dizia o Lord Keynes, não há Economia sem História.

Mas, aqui, como se sabe, Keynes não chega nem perto da Urubóloga.

Diante dessas deficiências estruturais, o Brasil tem uma certa dificuldade de entender o que se passa à sua volta, muito além do superávit fiscal do Delfim e da calvície do Renan.

O ansioso blogueiro recorre em sua ajuda ao Saul Leblon, que acaba de escrever breve – como recomenda a linguagem da blogosfera – obra-prima, ao explicar por que o minúsculo Aécio Never não tratou do pré-sal quando lançou seu “programa”.

Não tratou, porque o pré-sal e a nova base de produção de energia do Brasil criaram um país do tamanho “G”, que os neolibelês (*) não conseguem captar.

Ou, deliberadamente, tentam ocultar.

Disse Leblon:

“… a omissão  fala mais do que consegue esconder.

O pré-sal, sobretudo, avulta como o fiador das linhas de resistência do governo em trazer a crise   global para dentro do Brasil, como anseia o conservadorismo.

Um dado resume todos os demais: estima-se em algo como 60 bilhões de barris os depósitos acumulados na plataforma oceânica. A US$ 100 o barril, basta fazer as contas para concluir:  o Brasil não quebra porque passou a dispor de um cinturão financeiro altamente líquido expresso em uma fonte de riqueza sobre a qual o Estado detém controle soberano.

A agenda mercadista não disfarça o mal estar diante dessa blindagem, que  esfarela a credibilidade do seu diagnóstico de um Brasil aos cacos.”
Nessa mesma linha – quais medidas definem um tamanho “G” – o ansioso blogueiro vai buscar o discurso que a Presidenta Dilma fez em Ipojuca, no lançamento da plataforma P-36:

“Como este (Atlântico Sul) tem muitos outros estaleiros pelo Brasil afora. Nos vamos ter muita contratação daqui pra frente. Só este ultimo campo de Libra  precisa de 12 a 18 plataformas, mais para 18 do que para 12 … O Brasil vai se transformar, necessariamente, no maior produtor de plataformas de petróleo do século XXI. A gente tem de pensar grande, do tamanho do Brasil”.


Para se deter em algumas noticias recentes.

A compra dos Gripen e seu impacto no conjunto de uma indústria de Defesa para proteger o pré-sal.

As duas concessões da BR-163, que vai de São Paulo a Vilhena em Rondônia e a Santarém no Pará.

O terminal de carga de Rondonópolis.

A concessão de Ferrovia FICO, que sairá de Campinorte, em Goiás, atravessa Lucas do Rio Verde e segue até Rondônia.

Para falar um pouco de Lucas do Rio Verde, que o ansioso blogueiro visitou recentemente – como visitou Sinop e Rondonopolis.

Lucas produz 800 mil tonelada de soja por ano, 1 milhão e 500 mil de milho (vai produzir etanol de milho, já, já) e abate, na BRF, 300 mil aves por dia, e 4.750 suínos.

Ali também se criará um terminal de carga em torno da ferrovia FICO e da expansão da 163.

Outras ferrovias virão, assim como eclusas e os portos serão abertos, vencidas as resistências criadas em torno do que Garotinho, da tribuna da Câmara, chamou de Emenda Tio Patinhas.

As mudanças físicas, de cimento, tijolo, asfalto e trilho – isso tem um efeito de fissão nuclear, muito mais poderoso do que o “aumento da produtividade”, ou do “destravamento do gargalo”.

A reorganização do espaço físico impulsiona um átomo contra o outro, que gera um novo e mais amplo choque de átomos que, em cadeia, e em velocidade maior, produz energia, luz !

(Quem manda os economistas de São Paulo não estudarem  Física !)

A revolução da Geografia faz milagres.

Perguntem ao Abraham Lincoln por que ele preferiu fazer a ferrovia que liga Chicago a Sacramento na Califórnia, e, não, em direção ao Sul …

Não foi para acabar com um gargalo, porque nações não são garrafas.

A incorporação irreversível de pobres ao mercado de consumo, à carteira assinada e à universidade.

A redução da taxa de natalidade da mulher brasileira, que foi estudar e trabalhar.

A mulher brasileira hoje tem 1,9 filhos.

Tinha, 50 anos atrás, 6 !

O deslocamento da geo-economia do são-paulo-centrismo para o resto país – a renda do Rio passa a de São Paulo e a cidade de São Paulo investe a metade, per capita, do que investem Vitoria, Belo Horizonte e Rio.

São Paulo é o único lugar do Brasil onde não se vê guindaste.

(Boa parte da “crise” disseminada pelo PiG (**) advém dessa perda de substância do poder político de São Paulo: se Cerra, definitivamente – o ansioso blogueiro tem muitas dúvidas … – não for candidato, será a primeira vez, desde Dutra, que não haverá um paulista candidato a Presidente.)

O deslocamento do alinhamento estratégico do eixo Sul-Norte para o eixo Sul-Sul.

O Brasil já chega ao Pacífico por terra e será economicamente e politicamente um país bi-oceânico.

Essa misturança ideológica que os paulistas e os economistas impuseram ao Brasil resultou no esvaziamento dos princípios  do Nacionalismo.

Os colonizados da rua Oscar Freire, que sonham com Miami e acordam com o fedor do rio Tietê, não podem nem ouvir falar em Nacionalismo !

Isso é coisa de pobre !

De comunista !

É por isso que o ansioso blogueiro lamenta que o Brasil não tenha um Celso Furtado.

Como se sabe, Celso é o único economista brasileiro de curso internacional.

O pensamento neolibelês brasileiro, de Visconde de Cayru, Ruy Barbosa, Eugenio Gudin,  Roberto Campos, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, André Lara Resende e sua mais insigne representante, a Urubóloga, não passou da rua Dona Veridiana, em Higienópolis.

Falta um Celso para desenhar esse Brasil de tamanho “G”.

Celso explicou ao Brasil e ao mundo o que significava o “sub-desenvolvimento”.

E como derrotá-lo.

Celso teria plenas condições para entender o Brasil “G”.

Como observou o historiador Luiz Felipe de Alencastro, no prefácio da edição comemorativa dos 50 anos de “Formação Econômica do Brasil”, Celso seguia pela esquerda do keynesianismo – o investimento estatal como gerador de demanda – emprego !

Além disso, como nacionalista até dormindo!, Celso sonhava com a Integração, com um Brasil só, inteiro e soberano.

Com esses instrumentos teóricos de historiador, político, Ministro da Cultura – e economista, ao lado de Kaldor, Sraffa, Joan Robinson, Dobb e seu colega de sala em Cambridge, Amartya Sen – Celso teria condições de desenhar esse novo Brasil.

Irreversível.

Vencedor.

Que não cabe nos medíocres programas neolibelês.

Que jamais vão entender o que significa “capitalismo com características brasileiras”.

Porque não leram a “Formação Econômica” do Celso – na hora certa.

Celso daria ossos e músculos a um novo nacionalismo – rejuvenescido pela soberania popular.

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