quarta-feira, 18 de julho de 2012

Como se manipula a informação


Como se manipula a informação

 

Não é de hoje que vários pensadores sérios estudam o mecanismo 
da manipulação da informação na mídia de mercado. Um deles, 
o linguista Noam Chomsky, relacionou dez estratégias sobre o tema.
Na verdade, Chomsky elaborou um verdadeiro tratado que deve ser 
analisado por todos (jornalistas ou não) os interessados no tema tão em 
voga nos dias de hoje em função da importância adquirida pelos 
meios de comunicação na batalha diária de “fazer cabeças”.
Vale a pena transcrever o quinto tópico elaborado e que remete 
tranquilamente a um telejornal brasileiro de grande audiência e em 
especial ao apresentador.
O tópico assinala que o apresentador deve “dirigir-se ao público como 
criaturas de pouca idade ou deficientes mentais. A maioria da 
publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, 
argumentos, personagens e entonação particularmente infantil, 
muitas vezes próxima da debilidade, como se o espectador fosse uma
pessoa de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta 
enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil”.
E prossegue Chomsky indagando o motivo da estratégia. Ele mesmo 
responde: “se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 
12 anos ou menos, então, por razão da sugestão, ela tenderá, 
com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida
 de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos”.
Alguém pode estar imaginando que Chomsky se inspirou em William 
Bonner, o apresentador do Jornal Nacional que utiliza exatamente a
 mesma estratégia assinalada pelo linguista.
Mas não necessariamente, até porque em outros países existem 
figuras como Bonner, que são colocados na função para fazerem 
exatamente o que fazem, ajudando a aprofundar o esquema do 
pensamento único e da infantilização do telespectador.
De qualquer forma, o que diz Chomsky remete a artigo escrito há 
tempos pelo professor Laurindo Leal Filho depois de ter participado 
de uma visita, juntamente com outros professores universitários, a uma 
reunião de pauta do Jornal Nacional comandada por Bonner.
Laurindo informava então que na ocasião Bonner dissera que em 
pesquisa realizada pela TV Globo foi identificado o perfil do telespectador
 médio do Jornal Nacional. Constatou-se, segundo Bonner, que “
ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas 
e pouca familiaridade com siglas como o BNDES, por exemplo. 
Na redação o personagem foi apelidado de Homer Simpson, um 
simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma 
das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão do mundo” 
E prossegue o artigo observando que Homer Simpson “é pai de 
família, adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo 
cerveja, é preguiçoso e tem o raciocínio lento
Para perplexidade dos professores que visitavam a redação de 
jornalismo da TV Globo, Bonner passou então a se referir da seguinte 
forma ao vetar esta ou aquela reportagem: “essa o Hommer não vai 
entender” e assim sucessivamente.
A tal reunião de pauta do Jornal Nacional aconteceu no final do ano de 
2005. O comentário de Noam Chomsky é talvez mais recente.
 É possível que o linguista estadunidense não conheça o informe 
elaborado por Laurindo Leal Filho, até porque depois de sete anos 
caiu no esquecimento. Mas como se trata de um artigo histórico, que
 marcou época, é pertinente relembrá-lo.
De lá para cá o Jornal Nacional praticamente não mudou de estratégia e
 nem de editor-chefe. Continua manipulando a informação, como 
aconteceu recentemente em matéria sobre o desmatamento na 
Amazônia, elaborada exatamente para indispor a opinião pública 
contra os assentados.
Dizia a matéria que os assentamentos são responsáveis pelo 
desmatamento na região Amazônica, mas simplesmente omitiu o fato 
segundo o qual o desmatamento não é produzido pelos assentados e 
sim por grupos de madeireiros com atuação ilegal.
Bonner certamente orientou a matéria com o visível objetivo de 
levar o telespectador a se colocar contra a reforma agrária, já que, na 
concepção manipulada da TV Globo, os assentados violentam o meio 
ambiente.
Em suma: assim caminha o jornalismo da TV Globo. Quando 
questionado,  a resposta dos editores é acusar os críticos de 
defenderem a censura. Um argumento que não se sustenta.
A propósito, o jornal O Globo está de marcação cerrada contra o 
governo de Rafael Correa, do Equador, acusando-o de restringir a
 liberdade de imprensa. A matéria mais recente, em tom crítico, 
citava como exemplo a não renovação da concessão de algumas 
emissoras de rádio que não teriam cumprido determinações do contrato.
As Organizações Globo e demais mídias filiadas à Sociedade 
Interamericana de Imprensa (SIP) raciocinam como se os canais de 
rádio e de televisão fossem propriedade particular e não concessões 
públicas com normas e procedimentos a serem respeitados.
Em outros termos: para o patronato associado à SIP quem manda ]
são os proprietários, que podem fazer o que quiserem e bem 
entenderem sem obrigações contratuais.
No momento em que o Estado fiscaliza e cobra procedimentos, 
os proprietários de veículos eletrônicos de comunicação saem em 
campo para denunciar o que consideram restrição à liberdade de imprensa.
Os governos do Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina estão no 
índex do baronato midiático exatamente porque cobram obrigações 
contratuais. Quando emissoras irregulares não têm as concessões
renovadas, a chiadeira do patronato é ampla, geral e irrestrita.
Da mesma forma que O Globo no Rio de Janeiro, Clarin na 
Argentina, El Mercurio no Chile e outros editam matérias com o 
mesmo teor, como se fossem extraídas de uma mesma matriz midiática.


Mário Augusto Jakobskind
No Direto da Redação
 

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