A imprensa tem dedicado um espaço ridiculamente pequeno ao fato mais espantoso desta campanha eleitoral, um fato que as pesquisas de intenção de voto escancaram vez após outra. O eleitorado parece que pretende eleger mesmo Dilma Rousseff para o cargo de presidente da República. E em primeiro turno.
Qualquer um que preste atenção à política, por menos que seja, fica espantado com esse fato, admitindo ou não. A eleição da candidata do PT, se ocorrer, será, acima de tudo – até dos seus adversários diretos na disputa eleitoral –, contra a vontade da grande imprensa brasileira.
A bem da clareza, o autor destas mal traçadas linhas deve esclarecer o que entende por “grande imprensa”. A rigor, são os principais jornais, revistas e meios de comunicação eletrônicos (rádio, tevê e internet).
Mas por que esse fenômeno só ocorre em relação à “grande” imprensa? Afinal de contas, blogs, sites, rádios, tevês comunitárias – e até comerciais –, jornais e revistas de menor porte vêm ganhando cada vez mais credibilidade entre o seu público.
A escassez de explicações da grande imprensa para o fenômeno de ter suas recomendações eleitorais subliminares ignoradas deixa ver, antes de mais nada, um destaque ridiculamente tímido para um fato escandalosamente evidente, o que esclarece por que cada vez menos gente lhe dá crédito, sobretudo quando o assunto é política.
E quando tais explicações aparecem, vêm revestidas da mais pura conversa mole para boi dormir. Colunistas, editorialistas, analistas, articulistas, âncoras de telejornais e assemelhados que figuram na folha de pagamento desses grandes meios de comunicação, desandaram a insultar a sociedade por esta não lhes estar seguindo as orientações eleitorais.
Talvez devessem ser (ainda mais) explícitos quanto à mensagem que desejam passar ao público. Pelo menos é o que parecem pensar esses “formadores de opinião” ao irem aumentado – em vez de diminuir – a aplicação de uma medicina que julgam adequada à desinformação ou à debilidade moral de que pensam que padece a sociedade ao não pretender votar majoritariamente em José Serra.
A grande imprensa, porém, está mais para traficante do que para médico. Não se dá conta de que a droga que vem inoculando no eleitorado, a doses cada vez maiores e mais freqüentes, como toda droga vai fazendo efeito cada vez menor com o passar do tempo, simplesmente porque o paciente acaba criando resistência, ou anticorpos.
Os poucos cidadãos que visitam tão profundamente a grande imprensa a ponto de encontrarem nela explicações para o seu insucesso em convencer os brasileiros a votarem no candidato do PSDB a presidente, só encontram insultos como o de que não entenderam as denúncias que visam a candidata do PT por terem “baixa escolaridade”, ou o de que preferem se vender aos badulaques que este governo lhes permite comprar a votarem no “super-ético” e “ultra-competente” candidato tucano.
Então vale a pena verificar a última pesquisa Datafolha, publicada hoje (16 de setembro) em um dos braços dessa “grande imprensa”, no jornal Folha de São Paulo. Por essa pesquisa, Dilma Rousseff tem 51% das intenções de voto e Serra, 27%. Depois das novas denúncias, a petista subiu um ponto percentual e o tucano ficou onde estava.
Sobre esse dado, os “formadores de opinião” dizem que se deve ao “fato” de que são todos ignorantes subornados pelo Bolsa Família. Todavia, lendo um pouco mais a pesquisa, percebe-se que não é bem assim.
Entre os que têm nível superior de instrução, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a maioria absoluta dos mais instruídos e informados não deu a menor bola para o que a grande imprensa vem tentando lhe vender.
Dos eleitores que essa imprensa considera aptos a votar por terem curso superior e que não vão mais votar em Dilma– e que, antes da campanha de denúncias pré-eleitorais contra a petista, afirmavam que pretendiam votar nela –, menos de 10% se deixaram seduzir pelo canto da sereia midiático.
Dizer que só os formados que pretendem votar em Serra foram capazes de compreender as denúncias, é palhaçada. A maioria dos que têm curso superior pretende votar em Dilma porque que não está dando a menor bola para as denúncias da grande imprensa, e não dá bola porque é justamente aquele cidadão mais informado, educado e atento que tem como perceber as manipulações, os favorecimentos escandalosos a Serra.
Algumas das muitas perguntas que a elite intelectual do país se faz sobre o noticiário:
•Será que é tudo perfeito em São Paulo a ponto de a imprensa não destacar praticamente nenhum aspecto negativo dos governos Serra no Estado e na capital paulista?
•Por que grandes tevês, rádios, jornais, revistas e portais de internet dão destaque às denúncias da Veja contra Dilma e escondem as denúncias da Carta Capital contra Serra?
•Por que tantas denúncias exatamente quando Dilma dispara nas pesquisas?
•Por que o PT sempre sofre acusações às vésperas de eleições?
São questões básicas que as pessoas se fazem enquanto se indignam com as acusações da grande imprensa de que só os ignorantes e desinformados pretendem votar em Dilma.
Pessoas preparadas, informadas, que estão a par de todos os fatos, sentem-se esbofeteadas e impotentes, pois algumas tomam iniciativa de escrever a jornais, por exemplo, para rebaterem essas mentiras, mas são sumariamente barradas, pois os espaços para cartas de leitores, nos jornais e revistas aliados de Serra, são dedicados, quase que exclusivamente, aos eleitores do tucano.
A grande imprensa vai censurando cada fato ou opinião de que não gosta diante da visão arguta do eleitorado mais escolarizado. Por conta disso, as intermináveis denúncias pré-eleitorais contra Dilma vêm produzindo efeito apenas entre uma escassa minoria entre os mais informados e instruídos. Uma minoria que se guia por preconceitos e não pela razão.
Deixar de votar numa candidata que representa tanto a continuidade que desejam brasileiros dos quatro cantos do país, dos dois gêneros, de todos os estratos sociais – com exceção dos mais ricos, que nem sempre são os mais instruídos e informados –, de todas as faixas de escolaridade e de todas as faixas etárias, só com provas.
Não se pode punir alguém por conta de acusações sem provas, ainda mais se feitas por seus inimigos políticos. Deixar de votar na candidata de Lula seria uma punição antecipada e irreversível. Portanto, injusta. É simples assim. E é por isso que ninguém está formando a opinião que a grande imprensa quer – porque não acredita nela.
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