sexta-feira, 13 de março de 2015

Um nacionalista esclarecido

Um nacionalista esclarecido, por Antônio Ribeiro

 *ANTÔNIO RIBEIRO
Um nacionalista cultiva a alma coletiva de um povo, uma identidade construída ao longo de séculos de experiências históricas, de conflitos, de vitórias, de derrotas, de sofrimento e de superação. A nação é formada pelos antepassados e pelas gerações futuras. O sentimento patriótico é o que dá melhor forma à nação, que lhe dá os contrastes mais discerníveis. Nação e pátria são, pois, conceitos com uma relação muito intensa.
Sou nacionalista.
Não exalto o Estado, e sim o povo brasileiro, principalmente os mais humildes que, a duras penas, conserva a cultura ancestral. Como nacionalista, mas não xenófobo e muito menos racista, compreendo a necessidade das pessoas procurarem melhores condições de vida noutros países onde estas são oferecidas, eu próprio se tivesse que o fazer, faria.
Pesquisei, e cheguei até meu hexavô.
Ele nasceu na Bahia no século XVIII. Seus ascendentes deveriam ser baianos ou de qualquer outro estado do nordeste, à época a região mais evoluída do Brasil, como será, outra vez, no futuro.
Meu bisavô e avô eram baianos.
Meu pai, mineiro.
Eu, meus irmãos e meus primos, paulistanos.
Meus netos são de vários lugares: do interior paulista, brasilienses, mineira, paulistana. Há uma com dupla cidadania. Nasceu nos Estados Unidos, mais precisamente em Rockville, estado de Maryland.
Provavelmente se eu houvesse nascido há cinco séculos seria brasileiro.
Um baiano “quinhentão” a me opor aos paulistanos “quatrocentões”, atualmente sem eira nem beira, mas plenos de preconceitos próprios da pequena burguesia – o máximo que são nos dias correntes.
Adoro o Brasil, e detesto aqueles preconceituosos que pretendem desqualificar brasileiros de origem nordestina. A maioria é composta de imbecis, sóciopatas, sem a menor qualidade plausível.
Não sou um major Policarpo Quaresma, personagem imortal de Lima Barreto. Mas, sou extremamente patriota, e fiel adorador do Brasil, de sua gente, sua cultura popular e suas coisas.
Entre o maracatu, samba, frevo, forró, baião, xaxado e o rock, fico com nossos ritmos e sons.
Opto pela galinha ao molho pardo ou com quiabo e angu, arroz carreteiro, arroz com galinha, feijão tropeiro, tutu, couve, torresmo e farofa, barreado, feijoada, baião de dois, cuscuz, vatapá, acarajé, etc., a um tartare de sumon ou veau la veche quit rit, sauce tomate.
Há mulheres belas em todos os lugares, mas prefiro as brasileiras.
Ao invés do orientalismo europeizado do catolicismo ou dos preconceitos do pentecostalismo ianque, prefiro o candomblé brasileiro, que não existe em outros países.
O que me irrita neste país são as pessoas da elite branca, desafinados batucadores de panelas Le Creuset, que estes moradores dos “bairros nobres” adquirem em Miami, La Habana rica.
Mas, o povo brasileiro, é maravilhoso!
Embora nacionalista, solidarizo-me com a luta dos povos pela libertação. Então me coloco diametralmente contra os descendentes dos antigos bucaneiros, escravocratas e colonialistas que continuam a espezinhar várias nações nos dias atuais.
Sou um espécime raro de nacionalista, porque carrego nas entranhas o germe do internacionalismo.
*Antônio Ribeiro é jornalista

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