Começa a campanha. Para vencer a eleição e para muito mais que isso
7 de julho de 2014 | 09:28 Autor: Fernando Brito
Começou ontem a campanha eleitoral.
Formalmente, porque ela já teve suas escaramuças desde o início do ano passado e, certamente, ainda está muito longe de ter suas batalhas finais.
Em maio, há exatos dois meses, este modesto (mas já rodado) blogueiro dizia que Dilma tinha atravessado o período mais decisivo de sua campanha a reeleição, uma espécie de Rubicão, em condições relativamente boas para outubro, porque enfraqueceram os sinais de que a disparada inflacionária do início do ano estava sendo contida.
E que a Copa seria bem sucedida, dissolvendo o clima de pessimismo doentio que a mídia havia conseguido injetar em boa parte do país.
Foram-se as duas principais apostas da oposição para, mesmo sem candidatos capazes de empolgar a população, aproveitar o enfraquecimento político do Governo Dilma nos últimos meses, que é uma realidade que só a cegueira nos faria deixar de reconhecer.
Claro que o arsenal conservador, embora quase sem munição neste momento, segue sendo perigoso pelo calibre da arma midiática com que é disparado.
E ainda teremos fatos e, sobretudo, factóides a serem produzidos.
E que, lamento, vão contrariar as esperanças da Presidenta, a campanha não se dará “em alto nível”, porque não demorará a vermos o ódio insano, a que nos acostumamos na internet, transbordar para todos os meios de comunicação.
O saldo desta campanha, se for a continuidade do projeto, iniciado em 2002, de afirmação de nossa soberania política e econômica e de inclusão crescente do povo brasileiro, já será imenso.
Mas é possível fazê-lo gigante, se ele nos levar, politicamente, para um início de segundo mandato focado na reforma política, que nos tire do aprisionamento da politica mesquinha e patrimonialista que sufoca não apenas o país, mas qualquer governo progressista que a população eleja, tornando-o refém de parlamentares e partidos muito mais interessados em seus esquemas e privilégios que em representar a vontade popular.
A reforma política, porém, tem de encontrar a forma de se apresentar de forma palpável à população como a abertura de uma porta do futuro, assim como a continuidade do governo Lula-Dilma impede a reabertura das portas do passado.
Essa é a reflexão que nos desafia, embora os olhos jamais devam se fechar para os tiroteios do dia-a-dia eleitoral e as necessidades de alianças e composições que assegurem a vitória ao campo popular.
A história está aí para nos inspirar.
Em 1950, em seu discurso de posse, Getúlio Vargas disse a famosa frase: “Hoje, estais com o Governo. Amanhã, sereis o Governo”.
65 anos depois, tomara que não seja apenas uma Copa do Mundo que esteja acontecendo aqui.
Quem sabe estamos vivendo a fase inicial de uma transformação da vida nacional onde os partidos e os políticos não sejam um “tampão” colocado sobre as aspirações nacionais e populares, para contê-los.
Dilma e Lula têm este desafio, o de dizer que não querem um governo apenas para continuar com o que é bom, mas para mudar as instituições políticas brasileiras.
Com isso, poderemos ter a abertura de um novo período em nossa história.
Sem isso, quase que certamente estaremos vivendo o fim de um ciclo importante, inesquecível, maravilhoso e histórico da vida brasileira.
Mas que terá, um dia de ser retomado para ser completado, como foi aquele em que o Brasil deixou de ser um país arcaico para começar a transformar-se numa sociedade de massas.
É certo que a história caminha por processos próprios. Mas também é certo que são os líderes que anteveem estes processos e se tornam os agentes de seu desenvolvimento e aceleração.
A mudança é filha do tempo histórico, mas dependem de quem as seja capaz de fecundar, com paixão, lucidez e fé.
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