Publicado em 13/09/2013
“LUIZ GUSHIKEN VIVE !”
Ele foi um dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores
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Morreu na noite dessa sexta (13), no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, um dos principais líderes do Partido dos Trabalhadores, o ex-ministro da SECON, Luiz Gushiken, 63 anos.
Gushiken lutava há 12 anos contra um câncer de intestino. Hoje, depois de mais um sangramento intestinal, Gushiken não resistiu.
Bancário e sindicalista em de São Paulo, Gushiken foi fundador do PT e um dos organizadores da CUT.
Filho de imigrantes japoneses, de família humilde e numerosa – sete filhos – nasceu em 1950, na cidade de Oswaldo Cruz, no interior de São Paulo.
Ao chegar em São Paulo, no final da década de 60, Gushiken ingressou na escola de administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas. Também estudou filosofia na USP.
Com 19, presta concurso, e ingressa no BANESPA, banco do estado de São Paulo. A essa altura, já estava imerso na luta sindical e contra a ditadura.
Na USP, fizera parte da corrente Liberdade e Luta (LIBELU – organização Trotskista) e da Organização Socialista Internacionalista.
Durante as décadas de 70 e 80, fez parte da direção do sindicato dos Bancários de São Paulo.
Gushiken participou de todas as campanhas presidências do ex-presidente Lula.
Mensalão:
Gushiken teve papel central na defesa dos fundos de pensão contra os prejuízos causados pelo acordo com poderoso grupo financeiro envolvido com a privatização das teles.
Foi alvo de campanha implacável na mídia, com denúncias frequentes – e jamais comprovadas – sobre o uso das verbas da Secom.
Gushirken foi incluído na AP 470 pelo ex-procurador Geral Antonio Fernando de Souza.
Depois de aposentado, Antonio Fernando foi trabalhar na Brasil Telecom, empresa cujo controlador estava em disputa com os Fundos de Pensão defendidos por Gushiken.
Já no começo do julgamento do Mensalão, o próprio MPF pediu a exclusão do nome de Gushiken do processo.
A defesa do ex-ministro, no entanto, pediu para que o nome de Gushiken fosse mantido na ação penal 470, para que sua inocência fosse provada e publicada pela Justiça.
A certa altura do julgamento, o Ministro Lewandowski, fez um verdadeiro desagravo a Gushiken, criticando a Procuradoria por sonegar informações que seriam indispensáveis a defesa do ex-ministro.
Gushiken deixa a mulher Elizabeth e três filhos.
Murilo Silva, editor do Conversa Afiada.
Em tempo: Homenagem de José Genuíno, publicado em seu perfil no facebook:
HOMENAGEM DE GENOINO A LUIZ GUSHIKEN (08/05/1950 – 13/09/2013)
Gushiken, você vive eternamente e permanentemente em nossos corações. Seu exemplo de vida, coragem e luta estará sempre presente, principalmente nesses momentos difíceis em que a gente vive.
Quero abraçar seus familiares, seus amigos, seus companheiros e companheiras, e gritar: Gushiken vive!
José Genoino
HOMENAGEM DE GENOINO A LUIZ GUSHIKEN (08/05/1950 – 13/09/2013)
Gushiken, você vive eternamente e permanentemente em nossos corações. Seu exemplo de vida, coragem e luta estará sempre presente, principalmente nesses momentos difíceis em que a gente vive.
Quero abraçar seus familiares, seus amigos, seus companheiros e companheiras, e gritar: Gushiken vive!
José Genoino
Em tempo2: Difícil é constatar que o PiG – de tantas acusações infundadas contra o Gushiken – noticia o falecimento sem, ao menos, um pedido de desculpas. Uma pena. Alisson Matos, editor do Conversa Afiada.
Em tempo3: O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo:
GUSHIKEN, A MÍDIA E A JUSTIÇA: UMA PARÁBOLA DO PAÍS QUE TEMOS
O que os anos recentes de um dos grandes líderes sindicais das décadas de 1970 e 1980 contam sobre o Brasil de hoje.
Montaigne escreveu que o tamanho do homem se mede na atitude diante da morte, e citava como exemplos Sócrates e Sêneca.
Os dois morreram serenamente consolando os que os amavam. Sócrates foi obrigado a tomar cicuta por um tribunal de Atenas e Sêneca a cortar os pulsos por ordem de Nero.
Meu pai jamais se queixou em sua agonia, e penso sempre em Montaigne quando me lembro de sua coragem diante da morte, confortando-nos a todos.
Me veio isso ontem à mente ao ler no twitter a notícia de Luís Gushiken morrera aos 63 anos. Depois desmentiram, mas ficou claro que ele vive seus dias finais num quarto do Sírio Libanês, com um câncer inexpugnável.
Soube que ele mesmo se ministra a morfina para enfrentar a dor nos momentos em que ela é insuportável, e para evitar assim a sedação.
Li também que ele recebe, serenamente, amigos com os quais fala do passado e discute o presente.
A força na doença demonstrada por Gushiken é a maior demonstração de grandeza moral segundo a lógica de Montaigne, que compartilho.
Não o conheci pessoalmente, mas é um nome forte em minha memória jornalística. Nos anos 1980, bancário do Banespa, ele foi um dos sindicalistas que fizeram história no Brasil ao lado de personagens como Lula, no ABC.
Eu trabalhava na Veja, então, e como jovem repórter acompanhei a luta épica dos trabalhadores para recuperar parte do muito que lhes havia sido subtraído na ditadura militar.
Os militares haviam simplesmente proibido e reprimido brutalmente greves, a maior arma dos trabalhadores na defesa de seus salários e de sua dignidade. Dessa proibição resultou um Brasil abjetamente iníquo, o paraíso do 1%.
Fui, da Veja, para o jornalismo de negócios, na Exame, e me afastei do mundo político em que habitava Gushiken.
Ele acabaria fundando o PT, e teria papel proeminente no primeiro governo Lula, depois de coordenar sua campanha vitoriosa.
Acabaria se afastando do governo no fragor das denúncias do Mensalão. E é exatamente esta parte da vida de Gushiken que me parece particularmente instrutiva para entender o Brasil moderno.
Gushiken foi arrolado entre os 40 incriminados do Mensalão. O número, sabe-se hoje, foi cuidadosamente montado para que se pudesse fazer alusões a Ali Babá e os 40 ladrões.
Gushiken foi submetido a todas as acusações possíveis, e os que o conhecem dizem o quanto isso contribuiu para o câncer que o está matando.
Mas logo se comprovou que não havia nada que pudesse comprometê-lo, por mais que desejassem. Ainda assim, Gushiken só foi declarado inocente formalmente pelo STF depois de muito tempo, bem mais que o justo e o necessário, segundo especialistas.
Num site da comunidade japonesa, li um artigo de um jornalista que dizia, como um samurai, que Gushiken enfim tivera sua “dignidade devolvida”.
Acho bonito, e isso evoca a alma japonesa e sua relação peculiar com a decência, mas discordo em que alguém possa roubar a dignidade de um homem digno com qualquer tipo de patifaria, como ocorreu. A indignidade estava em quem o acusou falsamente e em quem prolongou o sofrimento jurídico e pessoal de Gushiken.
O episódio conta muito sobre a justiça brasileira, e sobre, especificamente, o processo do Mensalão. A história há de permitir um julgamento mais calmo, e tenho para mim que o papel do Supremo será visto como uma página de ignomínia.
Gushiken não foi atropelado apenas pela justiça. Veio, com ela, a mídia e, com a mídia, o massacre que conhecemos.
Um caso é exemplar.
Uma nota da seção Radar, da Veja, acusou Gushiken de ter pagado com dinheiro público um jantar com um interlocutor que saiu por mais de 3 000 reais. A nota descia a detalhes nos vinhos e nos charutos “cubanos”.
Gushiken processou a revista. Ele forneceu evidências – a começar pela nota e por testemunho de um garçom – de que a conta era na verdade um décimo da alegada, que o vinho fora levado de casa, e os charutos eram brasileiros.
Mais uma vez, uma demora enorme na justiça, graças a chicanas jurídicas da Abril.
Em junho passado, Gushiken enfim venceu a causa. A justiça condenou a Veja a pagar uma indenização de 20 mil reais.
O tamanho miserável da indenização se vê pelo seguinte: é uma fração de uma página de publicidade da Veja. Multas dessa dimensão não coíbem, antes estimulam, leviandades de empresas jornalísticas que faturam na casa dos bilhões.
Não vou entrar no mérito dos leitores enganado, que construíram um perfil imaginário de Gushiken com base em informações como aquela do Radar. Também eles deveriam ser indenizados, a rigor.
Gushiken enfrentou, na vida, a ditadura, as lutas sindicais por seus pares modestos, a justiça e a mídia predadora.
Combateu — ainda combate — o bom combate.
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