O LUTO DO PSDB
Da Revista Samuel
Uma petição junto ao governo britânico pede que o enterro de Margaret Thatcher seja privatizado. Trata-se, evidentemente, de uma sarcástica crítica a sua gestão (1979-1990).
Thatcher foi, com o general Augusto Pinochet, que governou o Chile de 1973 a também 1990, a grande defensora do neoliberalismo. Os dois foram o modelo do modelo que até hoje domina boa parte do debate econômico.
Muita gente questiona o prefixo “neo” à palavra liberal. Mas o que diferenciava ao “neo” do liberalismo clássico? Sob o rótulo liberal, estavam identificadas uma série de políticas de respeito e proteção ao indivíduo. Algumas políticas liberais exigiam, inclusive, a participação do Estado, no sentido de “igualar os desiguais” – na educação pública, por exemplo.
No neoliberalismo, a grande função do Estado é garantir que a esfera econômica, exclusivamente, esteja livre para atuar. Ou seja, no novo liberalismo, longe de tentar, por vias tortas que fossem, igualar os desiguais, o papel do Estado é garantir que a desigualdade seja usada como instrumento econômico.
Por isso setores que namoram o socialismo (não, não estou falando de Obama) na esquerda americana aceitam o rótulo de “liberal”, enquanto um ditador com as mãos sujas de sangue como Pinochet é um neoliberal.
O caso do Chile é mais radical, mas Thatcher também ilustra bem esse poder de vida e de morte do Estado sobre o indivíduo, no sentido de preservar a “livre concorrência” dos fortes contra os fracos.
Privatizar um funeral significa levar às últimas consequências o neoliberalismo, ou seja, dizer simbolicamente que a sociedade não tem responsabilidade sobre a dignidade de ninguém, mesmo na morte. Foi essa lógica que Thatcher implementou no governo do Reino Unido e ajudou a exportar para o mundo a partir do momento que assumiu o posto de primeira-ministra.
Em 1981, Bobby Sands, um prisioneiro do IRA (Exército Republicano Irlandês), morreu após uma longa greve de fome, mesmo destino de outros nove companheiros. Sands havia sido eleito deputado, e, apesar da pressão internacional, Thatcher recusou-se a negociar com eles. Seu funeral foi acompanhado por 100 mil pessoas.
O funeral, público ou privado de Thatcher, vai conseguir reunir 100 mil carpideiras neoliberais?
Do Opera Mundi
Britânicos contrários às políticas da ex-primeira-ministra devem se reunir no próximo sábado na Trafalgar Square
A morte da ex-primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher na manhã desta segunda-feira (08/04), vítima de um derrame aos 87 anos, foi lamentada por seus colegas de partido e pela oposição trabalhista. Mas ativistas demonstraram toda sua decepção com as políticas da “Dama de Ferro” ao marcar uma festa para Trafalgar Square, centro de Londres.
Militantes anti-thatcheristas do movimento “Luta de Classes” (Class War) estão promovendo o evento. “Se você quer celebrar a morte da mulher mais odiada do Reino Unido, veremos você lá”, diz o convite. A festa deve acontecer no sábado com venda de posters e adesivos. “Traga champanhe, fogos de artifício, roupas de festa e venham”, afirma.
“Quem não estava lá nos anos 1980 e sofreu com a destruição do Reino Unido sob Margaret Thatcher nunca vai entender o ódio mortal que sentíamos por ela”, escreveu o jornalista e ativista Andy Worthington, que apoia a iniciativa da festa.
“Seus sucessores espirituais, [Tony] Blair e [David]Cameron/George Osborne continuaram com a destruição miserável da sociedade, mas ela quem começou - matando a indústria, promovendo a ganância como única medida da existência humana e retirando barreiras necessárias ao setor financeiro”, continuou.
A ideia da festa coincide com uma iniciativa do governo britânico de dar ao funeral de Thatcher uma cerimônia semelhante à da morte da Rainha Elizabeth e da Princesa Diana. Articulistas da imprensa britânica afirmam que a iniciativa pode causar uma série de distúrbios na cidade.
O Reino Unido passa por um longo período de austeridade e cortes em benefícios sociais. Um petição online contra a cerimônia já conta com mais de 5 mil assinaturas.
‘Direitista machona’
Um dos mais ferrenhos oposicionistas de Thatcher, o ativista de direitos humanos britânico Peter Tatchell afirmou que “lamenta, como seria com a morte de qualquer pessoa”. “Mas ela não mostrou qualquer empatia com as vítimas de suas políticas duras e cruéis”, escreveu.
De acordo com ele, defensor da causa LGBT, “Thatcher foi uma mulher extraordinária, mas principalmente pelos motivos errados”. “Ela emasculou o governo local e as liberdades civis. Ela quebrou a barreira do sexismo na política. “Mas fez muito pouco para os direitos da mulher. Uma direitista machona”, continuou Tatchell.
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