terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Bizarrice da GLOBO: "Game de bebês"


Bizarrice: "Game de bebês" em vez de irem para o “paredão”, os bebês candidatos à saída, vão para o “chiqueirinho”

A maternidade no chiqueirinho

Infância Livre de Consumismo

Imagine um reality show com bebês. Uma espécie de versão baby de programas como “Big Brother Brasil” e “A Fazenda”. Imaginou? Pois não é imaginação. A bizarrice existe mesmo, chama-se “Game de Bebês” e é veiculada diariamente no programa Mais Você, da Rede Globo. A semelhança com os reality adultos impressiona: tem confinamento, provas e eliminação. Neste caso porém, em vez de irem para o famigerado “paredão”, os candidatos à saída, vão para o “chiqueirinho” – apetrecho conhecido por mães, avós e babás por confinar e conter os corpos curiosos dos bebês – é o confinamento dentro do confinamento.
Obviamente, cada participante traz uma mãe acoplada a si. Ou melhor, cada mãe traz um participante acoplado ao peito.  Como se não bastasse a quebra das rotinas individuais dos bebês, o monitoramento constante das câmeras, e o estresse advindo disso tudo, os produtores da atração, recheiam-na de merchanding. Fato este que nos leva a desconfiar de todas as orientações pedagógicas ou nutricionais dadas pelos “especialistas” convocados.
Nesta segunda-feira, 3/12, o cúmulo da indignação na web foi quando MARCELO BUENO, um <<“educador”>> , listou uma série de desinformações em relação ao desmame, enquanto muitas das mães choravam. Ele disse que elas só precisavam de um incentivo e enfatizou a pérola: “ Eu aconselho a colocar uma data e não voltar mais atrás depois que tomar a decisão”. Orientação tão absurda quanto mandar passar qualquer coisa amarga nos mamilos ou colocar um medicamento para que os bebês desistam de mamar. Em um programa patrocinado por anunciantes ávidos de lucros, não nos espanta que desejem que estes bebês façam, o quanto antes, parte do rol de consumidores de fórmulas e afins. Uma das mães, claramente, não deseja desmamar a filha, mas não duvido que o anunciante de lácteos a convença a fazer isso.
Dr.  Sears, uma autoridade em amamentação, diz o seguinte: “Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado.  Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do  seio, de casa  para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a  entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o  seu desenvolvimento emocional”.
Isso vai contra tudo o que o “educador” do programa instruiu, em termos de  desmame, pois não há uma idade limite para tal: os sinais devem partir do  bebê, e o processo NUNCA deve ser abrupto (seria o mesmo que exigir que o bebê  ande ou fale da noite para o dia). Mais: não há nenhuma comprovação de que a amamentação depois de certa idade seja prejudicial às crianças.
Segundo diversas teorias, o período natural de amamentação para a espécie humana seria de 2,5 a 7 anos. Atualmente, a Organização Mundial da  Saúde RECOMENDA aleitamento materno POR DOIS ANOS OU MAIS, devendo ser exclusivo nos primeiros seis meses. Os participantes do programa são ainda bebês, o mais velho tem 1 ano e 8 meses, e a maioria tem menos de 1 ano e meio. Será que já podemos dizer que a orientação deste “educador” é absurda e irresponsável?
Os argumentos usados são claramente manipuladores de opinião, tais como: “desmamar é ajudar os filhos a crescerem”. Ou ainda, “é dificil falar: você cresceu?”. Esses argumentos colocam as mães como dependentes dessa relação, fracas e inseguras, que não querem que os filhos cresçam. E define limites determinando que “já que estao todos andando, hora de acelerar a questao do desmame”.
Outra queixa constante se refere à “nutricionista” do programa, que planejou uma dieta contendo açúcar refinado, desobedecendo às recomendações da Organização Mundial de Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Além disso, a profissional também prescreveu um complemento lácteo, indicado apenas para crianças acima dos quatro anos, nunca para bebês de menos de dois. Pior para a saúde pública: desmame precoce e dieta açucarada!Perguntamos: a quem buscamos para que este programa seja responsabilizado por tanta orientação nociva à saúde infantil?Dá uma olhada nesta “corridinha com os bebês” (oi?):
O joguinho, que deve estar sendo assistido por milhões de mães, desrespeita a infância: além de incentivar o desmame precoce e publicar cardápios contendo açúcar, recomenda o método de “deixar chorar” e tenta apressar o desenvolvimento infantil. Os “profissionais” escolhidos demonstram saber muito pouco sobre as reais necessidades dos bebês e entender muito sobre como agradar anunciantes.
Na semana passada, enviamos a denúncia a uma ONG e uma advogada para saber se existe um caminho de denúncia, mas até agora não acharam um meio para retirar o programa do ar, ou pelo menos evitar que informações que prejudiquem a população brasileira sejam disseminadas.
Num país em que liberdade de imprensa serve apenas para poucas famílias dizerem o que quiserem sem contraponto, nós, do Infância Livre de Consumismo, podemos apenas usar os nossos canais e as nossas vozes maternas para mostrar a nossa indignação na esperança que algum dos pais, separados da sua mulher e do seu bebê fechem os olhos para o prêmio em dinheiro e para a fama e saquem-nas de lá!
Para nós,que lutamos por regras mais rígidas para a publicidade dirigida à criança, esta é mais uma prova de que sem uma regulação e sem um controle mais eficiente, os veículos de comunicação e os anunciantes são capazes de deitar e rolar sobre a população brasileira. Disseminam ideias sem contraponto, capazes de não apenas prejudicar as famílias que optaram por se submeter a isso, mas também – e especialmente, as famílias que dão audiência e, por falta de informações melhores, serão influenciadas pelas doutrinas pregadas no programa, para o bem dos lucros dos anunciantes.  É frustrante que não tenhamos a quem recorrer!
Pelo visto, o Game dos Bebês é mais um daqueles programas de entretenimento, concebido para anunciantes ávidos por vender para mães e seus bebês, já encarados como consumidores. Para nós quem devia ir para o chiqueiro são os produtores e patrocinadores deste desserviço.


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