Observações sobre os fatos do cotidiano. Uma pitada de bom humor extraída das vinculações da mídia e blogosfera. ESTE BLOG TEM LADO. FICA À ESQUERDA.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
FOLHA DE SÃO PAULO - Um dos fundadores do PIG (Partido da Imprensa Golpista)
Mochila da Folha não tinha bomba
A Folha deste domingo fez uma ameaça terrorista de mentirinha. Mais uma. Estampou o seguinte manchetão alarmista na capa (clique sobre a imagem para vê-la por inteiro):
Lá fui eu, na página B3, devidamente vestido com roupas especiais do esquadrão antibomba. Encontrei, de fato, uma mochila parecida com aquela achada há pouco em Times Square. E, da mesma forma que em Nova York, continha apenas garrafas vazias de plástico.
Eu lembrei, afinal, que o governo Lula fez a reforma da previdência em 2003, pegando pesado com os funcionários públicos. Tão pesado que foi ali que vários parlamentares, ligados ao corporativismo estatal, abandonaram o PT. Na época, eu escrevia regularmente para a Novae, e tasquei um longo artigo intitulado As flores abortadas de Mao, um dos meus primeiros (e modestos) bestsellers virtuais, atacando a virulência egoísta do corporativismo.
Depois de tanto estardalhaço, o próprio jornal admite, lá no meio do texto, que o déficit da previdência do setor público em relação ao PIB pode "voltar aos patamares de seis anos atrás" e nos manda ver quadro em outra página. Diligentemente, fomos até a página indicada e nos deparamos com o seguinte quadro:
Um entrevistado, Otoni Guimarães, executivo do governo, explica que há anos em que podem ocorrer oscilações, "até por conta de uma geração que está se aposentando". Mas o fato é que, até 2020, o déficit da previdência do setor público em relação ao PIB ainda será menor do que em 2004. O próximo presidente (e aí está a mentira da manchete) receberá uma Previdência pública com déficit de 0,85% do PIB, um número muito melhor do que recebeu Lula em 2003, visto que em 2004, este marcava 0,98%.A Folha dá continuidade à sua campanha contra o setor público, e por aí encontramos as características ideológicas marcantes do tucanato. Pesquisas fundamentadas - que nunca são lembradas ou sequer publicadas pelos media - mostram que o setor público brasileiro é enxuto, ganha pouco e, na sua maioria esmagadora, entrou em serviço via concursos dificílimos. O problema principal do setor público está na Saúde, área por natureza crítica, que lida com terríveis sofrimentos humanos, demanda recursos gigantescos que nunca são suficientes, e que, para piorar, padece de uma relação federativa desequilibrada e conflituosa, com municípios, estados e União batendo cabeça entre si.
É importante entender, contudo, que o avanço industrial de um país não pode acontecer sem um quadro forte de funcionários públicos e neste caso "enxuto" não é o termo certo, e sim "suficiente". Em seu livro Ex-Leviatã, Wanderley Guilherme dos Santos mostra que os países ricos, como Inglaterra, EUA, França, Alemanha, tiveram que aumentar seus gastos com funcionalismo público, na medida em que suas economias se sofisticavam. Esse processo não é infinito. Há um ponto de equilíbrio, a partir do qual os gastos se estabilizam ou mesmo começam a declinar em relação ao PIB. Não tem porque no Brasil ser diferente.
Os dados trazidos pela Folha, ao invés de alarmismo, mostram essa tendência ao equilíbrio. Reparem que a partir de 2016, a previdência do setor público se estabiliza em torno de 0,92% do PIB; de 2017 a 2020, o percentual se mantém inalterado em 0,94%. O gráfico tende a sossegar e não o contrário.
A mochila da Folha, pelo visto, não tinha mesmo bomba nenhuma. Os turistas podem voltar a circular alegremente em Times Square.
# Escrito por Miguel do Rosário # Domingo, Maio 09, 2010
# Etichette: Economia, eleições 2010
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