Por que sou otimista em relação à “catástrofe” iminente?
ENVIADO POR GUSTAVO GOLLO DOM, 02/08/2015 - 12:28
Por Gustavo Gollo
Dois fatos avassaladores e interconectados devem revolucionar nosso mundo em menos de uma década. Uma grande ruína financeira levará o ocidente ao caos ocasionando uma mudança no poder mundial, fazendo a balança pender para o outro lado do mundo.
Há algo de catastrófico nessa previsão, uma vez que nosso mundo gira em torno de um motor financeiro. Uma consequência óbvia e imediata, será a desarticulação econômica mundial, ocasionando escassez, desemprego, fome e miséria por todo o mundo, especialmente em periferias frágeis como a nossa. O que pode haver de bom nisso, então?
Tenho certeza que o choque inicial será duro e cruel, em vários sentidos será a pior crise vivida pela humanidade. A esperança decorre da constatação da loucura em que temos vivido, talvez o choque seja o amargo e desesperado remédio para ela. Vejamos o diagnóstico.
Temos vivido pelo dinheiro. Para a quase totalidade das pessoas, já há décadas, tudo em suas vidas gira em função do dinheiro. Há certa coerência nisso, precisamos do dinheiro, na sociedade contemporânea, para a alimentação, vestimenta, moradia, para eventuais cuidados médicos e todas as demais necessidades básicas. Precisamos de dinheiro, além disso, para ir a shows, viajar nas férias, e muitas outras atividades que nos alegram. Em nossa sociedade, o dinheiro pode ser trocado, virtualmente, por qualquer coisa, sendo assim utilíssimo e extremamente desejável para nós, sendo justificado que empreendamos bastantes esforços para consegui-lo.
Para a maioria de nós, no entanto, o dinheiro acaba se tornando uma obsessão, deixando de ser um meio para a obtenção de uma vida melhor, para se tornar um fim em si mesmo. Quando conseguimos obter uma enorme quantidade de dinheiro, podemos deixar essa e outras preocupações de lado e nos direcionar para viver uma vida feliz, mas raramente o fazemos. Os que conseguem muito dinheiro acabam, provavelmente, possuídos por ele, tornando-se seus escravos, mais que seus donos. Quererão, então, mais e mais dinheiro, com ainda mais avidez, ainda que possuam muito mais do que conseguirão gastar por toda a sua vida. Não há limites para a ganância que, frequentemente, supera qualquer absurdo.
Ao conseguirmos certa quantia de dinheiro, vamos nos tornando maníacos. As pessoas pobres estão sempre lutando pelo pão de amanhã, e quando o conseguem, buscam melhorar um pouquinho aqui ou ali, ou retribuir a quem lhe ajudou quando o pão faltou. Se conseguem um pouco mais, fazem um pé-de-meia para uma necessidade eventual, como uma doença, ou tentam guardar algo para quando chegar a velhice. Os ricos, no entanto, compram. Compram, compram, compram, não precisam ter nenhuma necessidade disso, compram por mania. Alguns se orgulham de comprar mil sapatos tendo só dois pés, outros compram uma imensa variedade de coisas que nunca usarão, compram porque são maníacos, compram com voracidade, mas sem nenhuma razão.
Um louco que se comportasse assim, séculos atrás, chamaria atenção seria recriminado, mas tido como desvairado. Hoje isso deve estar perto da norma, acho que quase todos compram por comprar, desejando objetos sem nenhuma necessidade; a necessidade é meramente de comprar.
Essa loucura poderia consistir apenas em um procedimento caricato; tolo e fútil, mas apenas risível. Esse comportamento desvairado, no entanto, está destruindo nosso mundo. Todos os problemas ambientais e ecológicos decorrem da mania alucinada de gastar mais e mais.
E qual teria sido a causa original desse desvario? Estupidamente, o consumo desenfreado é alimentada pela ganância dos lucros. Querendo lucrar sempre mais e mais, sem limites, uns loucos incentivam outros ao consumismo desmedido. O lucro deve crescer indefinidamente, isso justificará qualquer coisa. O consumo voraz se exacerba a extremos impensáveis, atestados por uma quantidade de lixo estupefaciente. Nenhum limite. A montanha de lixo que geramos surpreenderia muitíssimo os que viviam 30 anos atrás, e que já produziam uma quantidade de lixo injustificável aos olhos dos que viveram 30 anos antes. Podemos imaginar a porcariada que ainda vem por aí.
Sabemos que estamos tornando nosso mundo inviável para nossa existência, uma das causas disso, o aumento do gás carbônico na atmosfera decorre do consumo de petróleo. Sabemos que a queima de combustíveis fósseis aumenta a concentração de gás carbônico na atmosfera. Sabemos que isso gera outras emissões que alimentam ainda mais o problema. Sabemos que a continuidade das emissões de gases inviabilizará, então, nossas condições de vida no planeta, temos dúvidas, apenas, se já passamos de um ponto sem volta.
Mas continuamos levando nossas vidinhas idiotas, comprando, comprando, futilmente, sem nenhuma justificativa.
Estamos insanos. Centramos nossas vidas em uma obsessão tresloucada. Mas, nos acostumamos com qualquer coisa, e tão absurdo disparate nos parece natural e quase justificável. Aliás, o absurdo governa quase tudo em nossas vidas, e só não o percebemos por nos basearmos sempre no costume, esse vilão modorrento e fétido que nos desatina com a cortina da normalidade.
Os mais pobres sabem que seu dia será dedicado à busca do pão de amanhã. Os que garantiram o pão de amanhã não conseguiram encontrar mais nenhum propósito para a vida, e entristecem. Sem mais nenhum propósito, compram, fazendo disso a meta de suas vidas. E assim, nosso consumo insano vai destruindo as condições de vida no planeta.
Não vejo nenhuma graça nisso.
A catástrofe financeira que nos abaterá nos acordará para tudo isso. A mudança no eixo do poder desvelará um novo mundo. Cairá o pano, e com ele as mentiras acumuladas durante séculos.
Os meios de comunicação, esses instrumentos do poder, têm inventado uma história e o conjunto de rebeldias aceitáveis. Temos que nos conformar aos padrões estabelecidos por eles, ou a algum dos padrões de rebeldia que também nos oferecem. Temos que acreditar nas histórias que contam, ou em alguma das alternativas também permitidas por eles. O poder não tem apenas uma face, conta muitas mentiras.
Todas elas se fragmentarão, como um espelho partido.
A revelação das inúmeras mentiras que têm norteado nossas vidas nos deixará perplexos e irados. Talvez nunca mais consigamos encontrar um rumo. Alguns conseguirão. Serão rumos definidos por si próprios, conscientemente, e não mais os caminhos fúteis impostos pelos poderosos; alguns desgarrarão do rebanho e não mais serão tangidos pelos meios de comunicação.
O consumo tresloucado perderá o sentido que nunca teve. O dinheiro, ou a forma que tenha seu sucedâneo, retomará sua condição de meio, e não fim. E todas as formas de dominação serão questionadas, revelando inúmeros arreios atrelados exclusivamente com a finalidade inútil de perpetuar a dominação.
Toda a cultura será revolvida, todas as verdades postas em questão, estaremos criando um mundo novo, novas metas, novos propósitos. Haverá fúria e sofrimento, mas também haverá esperança.
É em nome da esperança que me alegro ao antever a tormenta imensa que se aproxima.
E viva a revolução!
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