quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Limpando as gavetas

Limpando as gavetas

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Antes de dar curso à história que vinha contando no post anterior, sobre o italiano Enzo Tortora, vamos limpar as gavetas dos outros assuntos.
Em outros termos, vamos fazer um saladão.
Petrolão: já vem ocupando a maior parte das seções políticas dos jornalões, o que mostra a pequenez da agenda da nossa imprensa. Ela tem uma agenda minúscula. Todos os jornais, impressos e TV, falam a mesma coisa, tem os mesmos colunistas, usam os mesmos argumentos.
O TCU, que se tornou um órgão partidário (contra o governo), proporcionou títulos à grande imprensa, quando o seu presidente falastrão, Augusto Nardes, declarou que o “escândalo da Petrobrás é o maior do país”.
Na conta, Nardes espeta os R$ 1,6 bilhão gastos correspondentes à compra e aos investimentos feitos na refinaria de Pasadena, o que é obviamente um cálculo idiota.
É como se, ao avaliarmos o escândalo do trensalão, ao invés de usar a estimativa de possíveis desvios ou sobrepreços, somássemos o custo total da construção dos metrôs de São Paulo.
A refinaria de Pasadena foi o primeiro grande desastre do governo e, especialmente, de Graça Foster. Não em termos de corrupção, nem de investimentos, mas de comunicação corporativa.
É uma refinaria situada na área mais estratégica da indústria petrolífera norte-americana, bem no coração do canal de Houston, de onde partem os grandes oleodutos que ligam todo os Estados Unidos. Além disso, é uma das refinarias mais próximas das recém descobertas jazidas de petróleo de xisto.
Pasadena, sobretudo, funciona. E bem.
Quando estourou o escândalo, a imprensa vendia a informação de que era uma “sucata” desativada. Hoje já não fala mais isso. Aos poucos fomos descobrindo que não era nenhuma sucata. Era uma ótima refinaria, que produzia mais de 100 mil barris por dia, tinha alto nível de produtividade (bem acima da média brasileira).
No passado, Pasadena era conhecida por seus problemas ambientais e trabalhistas, igualmente sanados após a Petrobrás assumir o controle.
A Petrobrás não teve a inteligência sequer de divulgar fotos e imagens de Pasadena, que pudessem abastecer o imaginário da opinião pública brasileira.
Quanto à refinaria Abreu e Lima, trata-se da maior já construída no Brasil, e a primeira a ser feita inteiramente aqui em mais de 40 anos.
A mídia também conta uma porção de mentiras sobre a Abreu Lima. Diz que o custo inicial de sua construção seria de 1 ou 2 bilhões e que agora ficou 10 ou 20 vezes mais. Ela usa o projeto inicial, cujas proporções se multiplicaram mais tarde, quando se descobriu o pré-sal.
Não há reportagens de qualidade sobre a obra. Não sabemos o que foi feito. Se foram abertas estradas, ferrovias, portos, aeroportos, helipontos, oleodutos. Não sabemos sobre as tecnologias usadas na refinaria.  A imprensa só quer saber dos escândalos.
A Abreu Lima inicialmente foi projetada para receber o petróleo da Venezuela, de um lado, e o nosso pós-sal.
A mesma coisa aconteceu com a Comperj, a refinaria de Itaboraí. Foi inicialmente projetada para uma coisa, mas depois virou outra, quando descobrimos o pré-sal.
A imprensa brasileira voltou a transformar a seção política exclusivamente em caso policial.
O governo e a Petrobrás não conseguiram, ou jamais tentaram, criar uma estratégia de comunicação voltada a explicar à sociedade o que significará, em termos econômicos e sociais, a conclusão das refinarias.
Como fazê-lo?
Graça Foster ficou muito obcecada com a imagem de “fura-poço”, esquecendo que a razão de ser do petróleo é ser industrializado e ser transformado em matéria-prima para a indústria e combustível.
Por que nunca houve um mísero comercial para explicar a importância do petróleo como matéria-prima para a indústria e, portanto, como grande estimulador de um novo ciclo de desenvolvimento industrial no país?
Aliás, a imprensa e a oposição só falam em crise, sem mencionar o impacto profundo em nossa economia advindo da finalização das grandes obras de infra-estrutura iniciadas nos últimos anos.
Quanto ao escândalo do petrolão, em si, ele traz alguns perigos que precisam ser combatidos politicamente:
a) O juiz Sergio Moro é um golpista escrachado e assumido. Está vazando, deliberadamente, desde o primeiro e segundo turno das eleições, informações exclusivas para os órgãos de imprensa de oposição. Foi criticado duramente pela OAB, mas está sendo blindado pela mídia.
b) Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, além de mancomunados entre si, fizeram um acerto com a oposição e com a mídia. A conexão política entre eles é feita por Álvaro Dias, reeleito senador pelo Paraná.
Vocês se lembram que, horas antes do penúltimo debate presidencial na TV, Gerson Camarotti, repórter político da Globo, publicou em seu blog a informação de que Álvaro Dias e Aécio Neves tinham recebido um “relatório detalhado” com denúncias de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, “em que integrantes da cúpula petista são citados no esquema de desvio de recursos da estatal”.
Bem que eu falei que era blefe e jogo sujo da Globo. Se Aécio tivesse recebido mesmo, teria usado antes do segundo turno.
O jogo sujo desnudou que a oposição transformou a delação premiada numa panaceia ilegal, inconstitucional e perigosa.
Meu receio é que a estratégia seja estendida aos empresários. Ou seja, que haja chantagem e ameaças à empresários, para que também façam uma delação premiada seletiva.
Esta é a razão pela qual o instituto da delação premiada é tão imoral.
O sujeito rouba, fica milionário, depois mente para ficar livre, acusa quem ele quiser, e sai da história ainda mais rico.
Quem garante que Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa não ganharão dinheiro para delatar x ou y?
Há uma concorrência sangrenta entre os fornecedores da Petrobrás. Um quer devorar o outro.
Se o Judiciário brasileiro já é ruim, se tem se tornado, nos últimos tempos, cada vez mais partidarizado e midiatizado, a instituição da delação premiada apenas coroará essa tendência.
c) Outra coisa perigosa é a conexão internacional do golpe.
Quem garante que as investigações de autoridades norte-americanas serão isentas? Bem no momento em que os republicanos, ou seja, a direita americana, avança no Congresso e no Senado, quem garante que não há lobby de petrolíferas ou especuladores americanos, interessadas em lucrar com a debilitação da Petrobrás, para que sejam produzidas notícias negativas sobre a estatal?
A matéria do Financial Times, que eu traduzi e publiquei no blog, tem cheiro de press release de algum lobista, ou do Brasil ou dos EUA.
A Globo tem dinheiro e poder suficientes, por exemplo, para plantar notícias na imprensa internacional, que ajudem a esquentar um escândalo aqui dentro, sobretudo porque entende que a mídia está um tanto queimada junto à opinião pública, após terem jogado no tudo ou nada nas eleições.
O método de Sérgio Moro, de fazer um jogo combinado com a mídia, lembra o modus operandi da oposição no início do escândalo do mensalão. Ali houve uma conspirata, entre o procurador-geral da república, Antônio Fernando de Souza, e Joaquim Barbosa.
d) Voltando às críticas à comunicação da Petrobrás, Graça Foster voltou a enfiar a cabeça num buraco. O blog sumiu novamente. Propaganda, somente na Globo e na Veja. Aliás, a primeira coisa que Graça fez, ao assumir a Petrobrás, foi cortar patrocínios para o cinema e cultura. Manteve, no entanto, o patrocínio à Globo e Veja.
Meses atrás, quando os blogueiros foram entrevistá-la, qual a primeira coisa que ela nos falou, para nossa perplexidade? Que não era muito de internet, que ainda lê as coisas no papel.
Muito moderna! E algo muito inteligente para se dizer a blogueiros!
As ações na Petrobrás são negociadas na Bolsa de Nova York e seus preços oscilam em virtude de notícias e cotações publicadas na… internet.
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Por falar em Joaquim Barbosa, o Itaú resolveu lhe dar uma sobrevida, pagando-lhe para falar bobagem a seus executivos. Valha-me Deus!
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Sobre Gilberto Carvalho e Marta Suplicy, temos que fazer um alerta importante. A mídia está botando os dois no mesmo balaio. Não é justo.
As críticas de Gilberto Carvalho foram construtivas, corretas e importantes. Carvalho é, hoje, um quadro estratégico para o segundo mandato da Dilma, que precisará estabelecer ligações mais orgânicas com os movimentos sociais.
Sem essas ligações, o governo Dilma não vai resistir aos ventos fortes que soprarão do Congresso.
As críticas de Marta, por sua vez, constituem um chilique ridículo, deselegante e fora de propósito.
Marta era ministra da Cultura. Qual o sentido em acrescentar uma bizarra crítica à política econômica em sua carta de demissão?
A razão teria de ser falta de dinheiro para sua pasta, coisa que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já negou: não faltou dinheiro para o ministério.
Marta foi uma ministra burocrática e apagada. Não provocou nenhum debate interessante sobre os rumos da cultura brasileira. Nem tinha estofo para isso.
Só que ela é senadora pelo PT, foi eleita pelo povo de São Paulo, e Dilma precisará dela para aprovar projetos no Senado.
É um quadro político experiente. Dilma tem que engolir este sapo e se entender com ela.
Dilma, aliás, já entendeu isso, tanto que reagiu com tranquilidade.
A mídia quer dividir o governo e a base. Quer jogar ministro contra ministro. Quer aumentar as divisões dentro do PT.
É a velha máxima romana: dividir para conquistar.
A base do governo, sobretudo o seu núcleo duro, tem de estar unida.
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Eis que o ministro da Justiça, Luiz Eduardo Cardozo, está cotado para a vaga no STF. Acho uma péssima escolha. Cardozo periga ser um novo Toffoli ou, pior, um novo Joaquim Barbosa. A primeira pressão da mídia e ele se voltará contra o governo. E a oposição ainda vai sapatear, como sempre fez, dizendo que “ele foi indicado pelo PT, e era petista, etc”.
Dilma tem que preencher o STF com alguém com nervos de aço, durão, alinhado ao governo, às ideias de justiça social e, sobretudo, alguém bastante consciente do papel nocivo do monopólio da mídia para a democracia brasileira.
A presidente não pode errar na escolha dos novos ministros. Este é o grande trunfo que o destino, a Constituição e a força das urnas, lhe deram para evitar que um golpe a impeça de chegar até o fim de seu mandato.
Além disso, os novos ministros podem nos ajudar a trazer à luz os erros da Ação Penal 470, sobretudo quando houver o pedido de revisão criminal.
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Ontem eu assisti a entrevista de Fabiano Santos, cientista político, na TV Brasil, no programa de Paulo Moreira Leite. Participavam também Tereza Cruvinel e um colunista do Valor.
Santos já me convenceu de que a reforma política, tratada como um pacotão, é um erro político do governo. O nosso sistema é bom, um dos mais modernos do mundo, e não precisa passar por mudanças profundas. Precisa, sim, acabar com a doação de empresas e estabelecer tetos para pessoas físicas. Pronto, só isso já ajudaria muito.
Na verdade, eu acho que o governo e a esquerda em geral podem estar cometendo um erro primitivo. Estão apostando todas as suas fichas em dois jogos que não podem ganhar, não da maneira que estão fazendo: a reforma política e a regulação da mídia.
Calma, explico.
A reforma política não é uma panaceia. Seria muito mais útil usar a energia para pressionar Gilmar Mendes a soltar a votação no STF quanto à doação de empresas. Ele está blindado na mídia. A votação já está decidida. A maioria do plenário do STF já votou contra a doação de empresa. Basta isso, concluir a votação, e o problema mais importante do nosso sistema político será resolvido, em parte ao menos. Não gosto nada de ver um problema de ordem política ser resolvido no STF, mas enfim, é a vida.
A regulação da mídia, a mesma coisa. Do jeito que está, estamos, mais uma vez, perdendo a batalha de opinião.
Vamos continuar defendendo a regulação da mídia no Congresso, mas antes é preciso fazer outras coisas. Por exemplo, porque não jogar pesado para aprovar a lei do Direito de Resposta, de autoria do Requião?
É uma lei de fácil entendimento tanto pela opinião pública quanto pelos parlamentares. Todo mundo quer um direito de resposta mais democrático e que nos proteja da máfia midiática.
A regulação da mídia não teria muito mais resultado se fosse detalhada, e suas diversas iniciativas votadas individualmente?
Além disso, governo, movimentos sociais e a esquerda em geral, poderiam debater que medidas democratizantes não podem ser tomadas sem necessidade de uma votação no parlamento.
Que medidas podem ser conduzidas diretamente pelo Executivo? Criação de ouvidorias? Instituição de porta-vozes? Mais investimento nas tvs públicas?
No tempo em que a Cruvinel dirigia a TV Brasil, havia um plano de que, em todos os municípios, haveria a instalação de uma tv voltada a exibir as sessões dos vereadores, a veicular programas municipais, a dar voz às forças locais. Isso seria uma grande democratização da mídia.
Há anos os movimentos discutem o Canal da Cidadania, que vai também nessa linha.
O governo não poderia fazer uma parceria maior com a Telesur?
Uma das medidas tomadas pela Ley dos Medios na Argentina, por exemplo, foi exigir que todos os canais de jornalismo, nas tvs fechadas, estivessem próximos na grade de canais. Tipo assim: Globonews 40, Bandnews 41, SBTnews 42, Telersur 43, TV Brasil news (que não existe, mas podia existir) 44. Record News 45.
Como é hoje, com a Globonews na faixa “nobre”, no 40, e os outros canais dispersos em números distantes, há dificuldade para que o telespectador faça um zap democrático pelos principais noticiários, para checar como a mesma notícia é tratada.
A questão do esporte, sobretudo do futebol, também deveria ser discutida. Por que um povo que gosta tanto de futebol é obrigado a assistir partidas tarde da noite, apenas para dar lucro à TV Globo, que precisa vender sua novela das 9?
Por que os debates presidenciais, o momento mais importante na democracia de um país, foram feitos depois das 22 horas, quando a maior parte dos trabalhadores já está dormindo?
Os canais não são concessão pública? Os canais não podem derrubar a sua programação num mísero dia?
Em 2016, teremos eleições municipais. Seria interessante que todo município tivesse um canal público, para que candidatos, prefeito, vereadores, oposição e movimentos sociais pudessem debater os problemas locais.
Enfim, tudo isso seria debatido na regulação da mídia, mas temos de ser criativos, e pararmos de falar apenas em regulação da mídia, que a imprensa agora chama de “controle social da imprensa”, e discutir os tópicos específicos.
Isso desmistificaria a proposta, mostrando ao Brasil que se trata de ampliar a liberdade de expressão, e não o contrário.
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Ainda sobre a entrevista de Fabiano Santos, que espero seja publicada no Youtube, para que todos possam assisti-la, ele lembrou que o novo congresso ainda não assumiu, e fez uma observação importante: o suposto conservadorismo da nova composição da Câmara ainda está por ser provado. Santos lembrou que tudo dependerá da habilidade política do governo. “Política transforma”, lembrou.
O governo tem ferramentas, naturalmente, para negociar democraticamente com o congresso algumas reformas importantes. Se há dificuldade para tocar uma reforma que melhore o nosso sistema político, poderíamos discutir uma reforma tributária, que simplifique e agilize o nosso sistema. Também importante: uma reforma do Estado, que reduza a burocracia, amplie a transparência e acerte todos os problemas derivados dos processos de licitação.
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Não concordei, porém, com a resignação de Tereza Cruvinel acerca da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Hoje, Cunha voltou a ameaçar o governo. Ora, se antes de assumir o cargo, ele já parte para ameaças, sempre sinistras, que dirá quando chegar lá.
O governo tem condições tranquilas para negociar um outro presidente da câmara, a começar porque o PT é o partido com maior bancada.
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