Por que Aécio encolhe? Porque é muito pequeno, mesmo
23 de outubro de 2014 | 09:55 Autor: Fernando Brito
Aécio Neves começou o segundo turno das eleições, há apenas três semanas, menos até, como favorito.
Seu resultado, no primeiro turno, surpreendeu, menos pelos votos que atingiu – semelhantes aos de Serra, em 2010 – mas pelo inesperado de alcançá-los depois, segundo as pesquisas, de patinar numa faixa muito abaixo deles e o terem mostrado fora do segundo turno.
Também era evidente que, pelo ódio a Dilma e Lula que mal consegue esconder, Marina iria apoiá-lo e poderia, em outras condições, levar a ele a maioria de seus votos.
Mais inesperado, talvez só para quem estivesse distante da política local, como eu, foi o apoio da viúva de Eduardo Campos. As origens da família, a simpatia pessoal e a carga de dor familiar nos fizeram crer, erradamente, que garantidas as posições do grupo do ex-governador e dada a preferência dos pernambucanos por Lula, a família fosse recolher-se no segundo turno. Não sou capaz de compreender que argumentos soaram para leva-los a expor o prestígio recém-reafirmado no Estado.
Além do mais, os cuidados que a mídia tinha com ele e Marina – protegendo-os enquanto despejava uma inacreditável campanha de desmoralização do Governo, apoiada em criminosos que dele haviam sido expelidos – agora seriam só seus.
Então, o que fez, em exíguos 17 dias, Aécio decair a esta situação deplorável, onde consegue exalar o cheiro de derrota em imagens, palavras e gestos, cada vez mais agressivos?
É simples: o seu tamanho pessoal ou o que Leonel Brizola chamaria de “luz própria”.
Mesmo tendo presidido a Câmara dos Deputados, governado o segundo maior Estado da Federação e sido eleito, sem contestação possível, senador pelos mineiros, Aécio Jamais foi um líder.
Foi apenas um chefe de máquina política, uma versão “playboy” das velhas oligarquias interioranas. Ou o que em tempos antigos, chamaríamos de “herdeiro perdulário”.
Não fosse sua pequenez, Aécio teria feito o que só ele poderia fazer na passagem para o segundo turno: apresentar-se como o “pacificador”, o candidato que se propunha a encerrar a temporada de ódios que marca o processo político brasileiro, reconhecido os erros do tucanato, anunciado a abertura de uma nova etapa da política, menos feroz, mais humana, menos “mercadista”…
Digamos que um pós-neoliberalismo, reconhecendo que o Estado não podia nem ser ausente nem mero provedor de lucros financeiros.
A despolitização que os governos de esquerda, por tibieza e excesso de pruridos “republicanos”, deixaram crescer, sem reação, numa sociedade que não progrediu senão por suas próprias políticas, convenhamos, abriu espaço para a eleição de um governante conservador “light”.
Um nome novo para a direita, para “recomeçar” e não para negar.
Em lugar de demonizar os adversários, um conservador “light” ter-lhes-ia feito acenos, chamado à razão, dito que não prescindia deles e, até, que gostaria de contar, em seu governo, com a colaboração de Lula, que se tornou mundialmente um símbolo do Brasil.
Não pôde florescer um “Aecinho Paz e Amor” a partir do dia 6 de outubro por duas essenciais razões.
A primeira é a fraqueza pessoal do personagem, que é pífio.
Reconheçamos: como político e administrador, José Serra está a anos luz à frente de Aécio. Tem uma trajetória – desviada, errada, traidora de quem foi, não importa – construída por seus próprios pés.
Foi candidato a presidente duas vezes em condições dificílimas: no final do desastre de Fernando Henrique e no boom de crescimento do país em 2010.
Só deixou o oceano de ódio que habita sua alma mesquinha fluir naquelas eleições porque não poderia ser diferente.
Para Aécio, sim, havia outra opção.
A segunda razão foi o ódio.
E ele não tinha, até o início da campanha eleitoral, o estigma de pecados mortais em sua testa. Conversas sobre seus hábitos pessoais, um suposto “barraco” numa festa animada, pequenas falcatruas comuns aos políticos, o que mais? Nada que o tempo e a missão não pudessem sublimar nos deslizes da juventude de quem amadurece e tem uma missão para si.
Mas Aécio resolver ser o que não foi na carreira política – embora tenha sido na vida pessoal : um “coxinha” elitista e agressivo, uma espécie de (já não tão) jovem pit-bull da direita e marcar a si mesmo com o ferro em brasa da volta ao passado, ao escolher como símbolo de seus planos o capataz do desastre econômico do final da era FHC.
O dedo em riste não era um acaso: sua campanha era apontar os males alheios, sem ter o bem para mostrar.
Seu discurso era o do terror e do medo e da falsificação simplória: o desemprego (o menor da história brasileira, confirmado hoje pelo IBGE), a inflação (ora, ora, ora, como se não tivéssemos tido piores e muito, com o PSDB) e a estagnação da economia…
Faltou-lhe, que sabe, um padre bem mineiro que lhe dissesse: “meu filho, o Paraíso é lindo, mas ninguém se atira do precipício por achar que vai pra lá, tirando a turma do Jim Jones”
Mas Aécio, não tem juízo e, sobretudo, não tem um caráter que lhe permita isso.
Quis ser o porta-voz do ódio e o ódio tirou-lhe qualquer razão, exceto para os que não precisam de razões, tanto é o ódio que lhes possui.
Seu comportamento e seus modos agressivos e carregados de valentia podem fazer algum sucesso nos meios “mauricinhos e patricinhas” mas ninguém quer ter um pit-bull em casa, como genro.
Agora, ao se fazer de “vítima” de agressões, depois dos seus arroubos de “machão”, só o que consegue transmitir é falsidade e fraqueza.
Não se culpe marqueteiro ou estrategistas pelo desastre de Aécio.
Ele está sendo derrubado por seu próprio nanismo político.
Aécio deu no que deu porque não tinha tamanho para dar em outra coisa.
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