terça-feira, 12 de agosto de 2014

“Manchetômetro”.


Manchetômetro vai comparar cobertura da reeleição de Dilma com a de FHC

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Causou furor a reedição de tradicional iniciativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) de medir o comportamento da mídia durante processos eleitorais.  A ideia foi criada em 2006 e, em sua versão de 2014, foi apelidada de “Manchetômetro”.
O estudo, desta feita (2014), foi desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP-UERJ), coordenado por João Feres Júnior.

Em 2006, foi criado na mesma Uerj o Observatório Brasileiro de Mídia, coordenado pelo Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa), ligado ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
O Observatório mensurou o comportamento da mídia durante a disputa entre o então presidente Lula e o, à época, ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Em seu último relatório de 2006, que versou sobre o período de 7 a 13 de outubro, o Observatório revelou que os cinco jornais de maior tiragem do país (Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense) haviam dedicado 533 abordagens à cobertura dos dois principais candidatos a presidente – Lula e Alckmin.
Sobre a totalidade de abordagens de cada candidato, Lula teve 27,3% menções positivas na mídia e 45,1% de negativas. Sobre abordagens dedicadas à candidatura de Alckmin, 27,1% foram positivas e 42,4%, negativas.
Quando o assunto era o governo de Lula, 73,3% das abordagens da mídia foram negativas. No mesmo período, do total das 103 abordagens da Folha de S. Paulo para cada candidato, o presidente Lula teve 33,3% de abordagens positivas e 66,7% de negativas.
Sobre o total de abordagens a sua candidatura, Alckmin teve 27,5% de positivas; 32,5% de neutras e 40% de negativas.
O caso que mais chamou atenção, naquele ano, foi o do jornal O Globo, que dedicou 122 abordagens à cobertura dos dois candidatos. O governo Lula teve 100% de abordagem negativa. Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 45,4% de negativas e Alckmin, 48,8%.
Já segundo o Doxa, que fez uma pesquisa de 1º de fevereiro até 1º de outubro de 2006, a frequência de aparições do então presidente Lula no noticiário de O Globo apresentou abordagens negativas e neutras com frequência que variava entre 30% e 50%, e a frequência de abordagens positivas esteve sempre abaixo de 20%.
Em 2014, por incrível que pareça a situação para o candidato petista a presidente é bem pior. Estudo do Lemep mostra, no gráfico abaixo, uma situação avassaladoramente pior para Dilma Rousseff no conjunto da mídia.
De acordo com o estudo, desde janeiro foram veiculadas 195 manchetes negativas sobre Dilma, enquanto que apenas 15 foram consideradas positivas. Já Aécio Neves (PSDB) recebeu 19 manchetes positivas e 19 negativas. Eduardo Campos (PSB) teve 11 manchetes positivas e 16 negativas.
Apesar dos dados surpreendentes – para os não-iniciados em acompanhamento da mídia –, os grandes meios de comunicação sob escrutínio do laboratório da UERJ não deram uma linha sobre o assunto. O público está sendo “poupado” da notícia de que há estudos científicos que fundamentam a acusação de que a mídia brasileira age como partido de oposição.
Apesar disso, segundo o coordenador da pesquisa a repercussão do “Manchetômetro” o surpreendeu. Feres Júnior relata que o site contendo o estudo, ao completar uma semana no ar, teve cerca de 100 mil acessos.
“Como dizem hoje em dia, estamos bombando! No Facebook e no site. Nós temos página no Facebook e no Twitter. Todo mundo que tem uma razoável boa-fé desconfia de que existe um viés na cobertura que temos na grande mídia no Brasil. Isso é histórico”, ressalta o coordenador do “Manchetômetro”.
Apesar do silêncio sepulcral da mídia sobre um assunto que ela deveria ser a primeira a comentar e, sobretudo, explicar, intramuros esses grandes veículos têm uma explicação para os números escandalosos do “Manchetômetro”.
Feres Júnior relata que, segundo a mídia, os números do estudo não seriam suficientes para afirmar que a presidente da República tem sido injustiçada. Os grandes meios de comunicação – Globo à frente – afirmam que por Dilma ocupar o cargo de presidente seria “natural” que esteja “mais presente” na imprensa que os concorrentes.
Apesar de não ser adequado dizer que ela está “mais presente”, pois o fato é que apanha muito mais, com números que sugerem um verdadeiro linchamento midiático, Feres Júnior anuncia uma iniciativa tira-teima que irá retirar da grande mídia a retórica para “explicar” seu partidarismo. Abaixo, o coordenador da pesquisa explica o que será feito.
“O que vamos fazer em breve para tentar resolver essa questão é analisar a eleição de 1998, em que Fernando Henrique Cardoso concorreu à reeleição. As situações são parecidas e invertidas: antes era o PSDB concorrendo à reeleição, agora é o PT. Aí poderemos comparar melhor. Se descobrirmos que há uma diferença, vai ficar mais do que provado que é, sim, um viés da mídia. Já existem outros trabalhos que mostram que a imprensa se calou naquelas eleições, que ela publicou pouco sobre política. O que queremos é testar isso com nosso trabalho”
O Blog conhece esses estudos, ainda que não os tenha localizado na internet. É possível, entretanto, garantir de antemão que se for pesquisado o comportamento da mídia durante o ano eleitoral de 1998, o resultado será escandaloso. O favorecido, naquele ano, não foi a oposição, mas o governo.
Esses dados poderão ser apurados até com certa facilidade pelo “Manchetômetro”. Em 1998 – e durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso –, Globo, Folha de São Paulo, Veja e O Estado de São Paulo eram o que hoje chamam de “chapa-branca”, ou seja, apoiavam furiosamente o governo federal.
Quem diz isso não é o Blog, mas um dos jornalistas mais respeitados do país: Janio de Freitas, colunista do jornal Folha de São Paulo. Em 6 de agosto de 2012, em entrevista ao programa Roda Viva, Janio deu uma declaração que revela o que o “Manchetômetro” irá apurar quando fizer a comparação da cobertura da reeleição de Lula e de Dilma com a de FHC:
“Jornais e revistas serviram de suporte político para o governo Fernando Henrique Cardoso”.
Mais do que isso, à época Janio explicou que, além de apoiar abertamente o então presidente tucano, ajudando-o a se reeleger em 1998 escondendo dos brasileiros que o Brasil estava quebrado, a mídia ajudou a esconder a corrupção e se calou sobre as iniciativas daquele governo para se proteger de investigações.
Episódio ocorrido na mesma semana em que Janio foi entrevistado pelo Roda Viva mostra bem o que foi o governo FHC.
Em agosto de 2012, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou publicamente que “A corrupção não está mais debaixo do tapete” e que, “Hoje, há mais autonomia dos órgãos de fiscalização e controle como o Ministério Público, a Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de pronto, rebateu a afirmação de Carvalho. À noite, no Jornal Nacional, a reportagem mostrou parte das declarações do ministro e do ex-presidente sobre o assunto. FHC, visivelmente alterado, qualificou como “leviandade” a declaração do adversário político.
Vejamos, pois, quanto de motivos teve o ex-presidente para se irritar assim com a declaração do ministro de Dilma.
FHC, quando governou, foi beneficiário da cumplicidade da mídia, que ajudou a acobertar descaradamente a corrupção ao sonegar ao público notícias sobre escândalos que dispensariam o bom e velho “domínio do fato” devido à vastidão de provas que havia.
Além de FHC ter mudado as regras de jogo com ele em andamento ao propor ao Congresso a emenda da reeleição – o que Lula não se permitiu fazer apesar de ser tratado pela mídia tucana como se tivesse tentado e não conseguido –, ainda teve uma denúncia muito bem fundamentada, com provas materiais, de que deputados foram pagos para apoiá-lo.
Além da Folha de São Paulo, nenhum veículo de peso deu destaque ao escândalo. E o procurador-geral da República de então, que o presidente tucano manteve no cargo por oito anos – Lula, nesse período, nomeou QUATRO procuradores-gerais –, não esboçou a menor reação.
Controladoria Geral da União? No governo FHC chamava-se Corregedoria, em vez de Controladoria, e jamais incomodou o governo, enquanto que a CGU de Lula e Dilma tem sido uma pedra no sapato deles, pedra colocada por eles mesmos no âmbito do esforço hercúleo que fizeram para dar transparência ao que o antecessor tucano escondia.
Polícia Federal? Essa só serviu mesmo para ajudar o governo, ou melhor, o candidato do governo FHC à própria sucessão. Ou alguém esqueceu que a PF só incomodou políticos da oposição durante a era tucana e que seu maior feito foi em 2002, quando destruiu a candidatura de Roseana Sarney para ajudar o candidato governista, José Serra?
FHC esbofeteou a nação ao comparar a omissão criminosa dos órgãos de controle de seu governo (no que tangia a investigá-lo) com a atuação deles hoje. E esse crime foi cometido com o concurso de praticamente toda a grande imprensa, que não só fechou os olhos para a corrupção da era tucana como levantou escândalos só contra a oposição petista.
E se você, leitor, acha que exagero, assista, abaixo, vídeo (completo) de entrevista que o dito “decano do colunismo político brasileiro”, Janio de Freitas, da Folha de São Paulo, concedeu ao programa Roda Viva. Na ocasião, como se pode ver no vídeo, afirmou que a mídia funcionou como “suporte político” do governo FHC.
 Veja matéria de 2001 da Folha de São Paulo que mostra quem FHC nomeou para a Procuradoria Geral da República, mantendo-o por 8 anos no cargo, período durante o qual sepultou, uma a uma, qualquer tentativa de investigar um governo repleto de escândalos.


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