terça-feira, 16 de julho de 2013

O casamento de Dona Baratinha



O casamento de Dona Baratinha, segundo Hildegard Angel

DIARIO DO CENTRO DO MUNDO 15 DE JULHO DE 2013
O ministro Gilmar Mendes foi padrinho do casal Francisco Feitosa e Beatriz Barata, neta do “rei dos ônibus” do Rio.
Beatriz e Jacob
Beatriz e Jacob Barata
Publicado originalmente no blog da Hildegard Angel.
Tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza, Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace, Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro, Jacob Barata, e Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.
Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no Copacabana Palace, me fez sentir clima de Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu as Tulherias.
Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso, teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da sofisticação do país: o Hotel Copacabana Palace!
Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.
A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola, junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria, parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca, logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.
No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados pretos.
Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes. Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para todos, absolutamente todos.
manifestante
No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão fantástica.
Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.
O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de medalhão suntuosas. Muito bonito.
Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a Terra e o Mar também…
O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários andares, todo branco.
Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.
Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo sem excessos.
Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.
Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista Stela Fischer.
Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e sua família a estimam.
Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.
Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda, convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).
Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao contrário.
Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social participando, reagindo, se indignando.
Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga, quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça de um manifestante, que se fere muito.
Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido. Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande erro da noite!
O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.
A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio, nossa memória, nossa História.
protesto
Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A vítima leva seis pontos na cabeça.
A garotada agitada continua nos impropérios, constrangimentos e panelaço, e eis que, quase quatro da manhã… chega o BOPE, marcando sua forte presença de sempre, soltando bombas de gás lacrimogênio, atirando com balas de borracha e, para completar a apoteose da alvorada dessa Bastilha carioca, espargindo spray de pimenta a torto e à direita.
Nessa altura, a multidão de manifestantes, que às três e meia da manhã já estava reduzida a uma centena, ficou ainda menor. Eram apenas uns 50 mais experientes, já com suas máscaras anti-spray nos rostos.
Enfim, os últimos convidados, que aguardavam no foyer do hotel pela oportunidade de deixar a festa, conseguem partir. Vão deixando o casamento Barata e tossem, viram os olhos, engasgam com o spray de pimenta. Os manifestantes de máscara anti-spray gozam, a repórter estica o microfone: “Tá gostando, cara?”.
Foi um acontecimento totalmente atípico, inédito. Já houve manifestações de protesto em casamentos de políticos e pessoas importantes. Como no da filha do senador Álvaro Pacheco, décadas atrás, tendo José Sarney, presidente da República, como padrinho, na Igreja do Largo de São Francisco.
Mas nada, jamais, em tempo algum, se comparou à ferocidade do acontecimento irado deste 14 de Julho carioca, em nosso Versailles, o Copa, que, ainda bem, nada teve de noite de Tulherias nem de cabeça espetada em ponta de lança.
Aliviada, vejo que meu frio na espinha não passou do frio de fato dessa noite de inverno carioca. O pressentimento era fajuto. O estrago se limitou a seis pontos na testa de um manifestante, que o responsável pelo estrago há de assumir e, se não assumir, os promotores da festa ou o próprio hotel há de tentar corrigir o ato infeliz de alguma forma.
Apesar de dizerem que cristal trincado não tem recuperação, acredito que o Copa tem credibilidade para se reabilitar aos olhos dos cariocas. Foi apenas um mau momento, espero…



‘Gil’ e ‘Guio’ no casamento da neta do Rei do ônibus

PAULO NOGUEIRA 16 DE JULHO DE 2013
O casal Gilmar e Guiomar Mendes foi um destaque complicado na já lendária festa.
'Um casal maduro e moderno', segundo a jornalista Eliane Cantanhêde
‘Um casal maduro e moderno’, segundo a jornalista Eliane Cantanhêde
E eis que o ministro Gilmar Mendes, do STF, irrompe em mais um embaraço monumental.
Isso poucos dias depois de virar febre na mídia digital – a única em que se faz alguma espécie de jornalismo independente – quando foi descoberto ter sido ele o autor do habeas corpus concedido à  funcionária da Receita Federal que tentou dar sumiço a um processo em que o réu é a Globo.
Neste processo, a Globo aparece como devedora de mais de 600 milhões de reais em dinheiro de 2006 depois de ter sido flagrada pela Receita – está documentado – ao tentar transformar a compra dos direitos da Copa de 2002 em investimento no exterior para sonegar impostos.
Gilmar reaparece agora no noticiário por ter sido figura de destaque no já lendário casamento da neta de Jacob Barata, o Rei dos Ônibus do Rio.
Segundo a jornalista Hildegard Angel, Gilmar e sua mulher foram padrinhos da noiva.
A mulher de Gilmar se chama Guiomar Feitosa, e isto não é um simples detalhe. Guiomar é tia do noivo, Francisco Feitosa Filho. Como os Baratas, os Feitosas são empresários do ramo dos ônibus em sua terra de origem, Fortaleza.
Chico Feitosa, o pai do noivo, é “dono da maior frota de ônibus de Fortaleza e de transporte intermunicipal”, escreve Roberto Moreira no Diário do Nordeste, citado pelo jornalista e escritor Alceu Luís Castilho, autor do livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro”.
“Mas aqueles bens não aparecem em sua declaração entregue ao Tribunal Superior Eleitoral”, diz Castilho.
Guio é uma '"uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada"
Cantanhêde: Guio é uma ‘”uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada”
O TSE deveria ter sido mais cuidadoso?
É uma questão que deveria ser endereçada à mulher de Gilmar. Numa reportagem de Eliane Cantanhêde publicada numa revista da Folha em 2008, ‘Guio’ – como a jornalista a chama – é descrita como “uma das mulheres mais poderosas de Brasília”.
Na ocasião, ‘Guio’ era secretária-geral do Tribunal Superior Eleitoral.
Hoje, ela trabalha num dos maiores escritórios de advocacia do Rio de Janeiro, o de Sergio Bermudes.
Bermudes se celebrizou no Brasil ao se dispor a pagar uma festa de aniversário para um colega de Gilmar no STF, o já lendário Luiz Fux, aquele que foi atrás do apoio de Dirceu para ganhar a vaga e falou que ‘mataria no peito’ no Mensalão.
A festa michou quando isso veio a público, num caso notório de conflito de interesses que deu em nada.
‘Guio’, “uma funcionária pública padrão e uma mulher apaixonada”, segundo Cantanhêde, trabalha agora para Bermudes. ‘Guio’ e ‘Gil’, diz a jornalista da Folha, formam um casal ‘maduro e moderno’.
‘Gil’ deveria ser um homem distante das amizades na condição de membro do Supremo. Juiz é juiz, afinal.
Mas não é bem assim.
Ele fez questão de comparecer ao lançamento de um livro de Reinaldo Azevedo, por exemplo, em pleno processo do Mensalão. Também prestigiou o lançamento do livro de Merval Pereira. Como escreveu Cantanhêde em 2008, ‘Gil’ é ‘considerado muito tucano’.
Foi FHC quem o ergueu ao STF.
A simpatia partidária de ‘Gil’ não foi obstáculo para que ele votasse no Mensalão.
Em 2006, ‘Gil’ foi relator de um processo em que o ‘paciente’ era o mesmo Jacob Barata cuja neta teve um casamento cinematográfico.
São relações de extrema promiscuidade.
Juiz não deveria ter como amigo senão a justiça. Adapto aqui a grande frase sobre jornalista de um dos maiores editores da história da imprensa, Joseph Pulitzer.
Jornalista não tem amigo, dizia (e praticava) Pulitzer porque, caso tivesse, seu trabalho ficaria moralmente comprometido.
Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Luiz Fux – nossos mais altos magistrados têm muitos amigos, sobretudo nas áreas mais perigosas para a sociedade: a política e a mídia.
Sem um choque ético potente, sem uma reforma enérgica e urgente, a Justiça brasileira continuará a ser o que é: um simulacro.

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