terça-feira, 24 de abril de 2012

Europa, século 21


Matthieu, um trabalhador da construção civil de 31 anos que vive de contratos temporários, tenta entender porque os líderes europeus parecem estar mais concentrados em proteger as instituições financeiras do que em ajudar pessoas como ele.
A França tem uma imagem linda, afirmou em uma noite recente no estacionamento do Chateau de Vincennes. “Mas não é como nos países anglo-saxões. Lá, se você sabe fazer algo quando chega, você pode progredir. Esse é o sonho americano”, afirmou.
“Você nunca vai ouvir ninguém em nenhum lugar do mundo falando sobre o sonho francês”, acrescentou, observando uma fileira de motorhomes. “Não existem sonhos na França.”
Não leio nada sobre a França parecido a essa matéria do The New York Times desde que  devorei com os olhos o livro  Germinal de Émile Zola.
A ferocidade das minas de carvão é um nada diante da monstruosidade dos mercados financeiros.
O sonho americano demoliu, de fato, o sonho francês.
O liberté, fraternité, egalité foi devorado pela lógica do mercado e a França fraca e uma Inglaterra decrépita entregam a Europa à hegemonia alemã, como descreve o jornalista português Pedro Guerreiro:
A crise financeira reposicionou o poder no chamado eixo franco-alemão. E esse eixo pode agora passar a germano-francês. Pode? Pode. É isso que está escrito nas estrelas. Que a Alemanha mande na Europa pela primeira vez desde a segunda Guerra Mundial. Isso significará a transferência de riqueza dos países prósperos para os aflitos, uma política económica integrada, provavelmente mutualização da dívida: federalismo. É o que andamos a pedir, não é? É. Mas é preciso que os alemães estejam para isso. Que o ressentimento entre povos europeus o permita. E que os demais povos aceitem as regras dos alemães.
Estamos assistindo, 20 anos depois, o resultado da capitulação do pensamento de esquerda europeu à ditadura mental do neoliberalismo que o avassalou.
Os “Estados Unidos da Europa”, como o sonharam, desde o século XIX, os mais humanistas dos pensadores europeus – Victor Hugo à frente – converteram-se na União Europeia, em grande parte, pela ascensão ao poder de uma camada de dirigentes social-democratas (Soares, Mitterrand, González e os precursores Olof Palme e  Willy Brandt).
Mas a União Europeia, hoje, tornou-se um pastiche do que a sonhavam aqueles homens.
Tornou-se uma imperial ditadurado capital, aprisionando os países mais que numa moeda, numa política econômica única. E, como única, um irremovível obstáculo para soluções próprias, nacionais e, sobretudo, populares.
A receita é sempre a mesma e dificimente dela qualquer governo escapará: cortar centenas de milhares de empregos  públicos, aumentar  impostos, abaixar salários para recuperar a competitividade, reduzir aposentadorias, abolir a proteção contra demissões e – ah! – drenar dos países em desenvolvimento – via capital e via empresas – o sangue econômico que já não flui num continente exangue.
É verdade que Nicolas Sarckozy teve uma grande derrota, o primeiro presidente que, no poder, não vence o primeiro turno da reeleição.
Mas nada assegura a vitória de François Hollande, do PS, no segundo turno, ainda mais porque o resultado da extrema-direita vai intimidar o seu enfrentamento em questões como a imigração.
Sobretudo, nada assegura que seja uma vitória para mudar.
Porque não é possível mudar dentro de um contexto onde as imposições do mercado – travestidas de políticas continentais – obriga governantes a serem sempre iguais.
E nada indica que aEuropa, tão cedo, vá deixar a estagnação econômica e a crise social.
Ela é uma panela de pressão, onde as eleições funcionam como uma válvula, apenas.

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