terça-feira, 6 de novembro de 2012

Reflexões irrelevantes - ser de direita


Reflexões irrelevantes - ser de direita

Etiologia






Às vezes eu fico pensando: o que faz um cara ser de direita?
 Não me refiro ao burguês liberal, empanturrado de conforto e 
conformismo. Penso em direita, direita mesmo. E também não penso 
no canalha manjado, que descobre um nicho no mercado politico e o 
explora à exaustão. E ainda não é o pobre diabo que vai na onda do padre
, do pastor, do líder local ou do chefete, que morre de medo de qualquer
 mudança que possa afetar sua vidinha medíocre.

Penso no direitista ideológico. Aquele que maneja argumentos mais ou 
menos falaciosos para defender um status quo indefensável. Aquele que
 diz, ou pensa sem coragem de dizer, que pobre é preguiçoso e que 
politicas sociais só vão manter a preguiça satisfeita. Aquele que garante
 que o Estado é ineficiente e corrupto, sem perguntar onde estão os 
corruptores - e muito menos qual é a eficiência deles.

O direitista ideológico vive num mundo paralelo. Para ele, o fato de uma 
pequena minoria concentrar a maior parte da riqueza mundial não tem 
nada a ver com a miséria de muitos. É que o universo do direitista tem leis
 próprias. O dinheiro, por exemplo. Para o direitista, o dinheiro surge por 
geração espontânea onde que que já exista um montão de dinheiro. É uma
 lei natural, que nem a lei da gravidade. A desigualdade também. 
As pessoais são desiguais, e pronto. Quem está por cima é porque 
merece. Quem está embaixo que se vire. Ou então é falta de sorte. 
Quem nasce na miséria absoluta já começou mal, perdendo na roleta da 
vida. Azar dele.

O direitista é antes de tudo um triste. É o que eu vou tentar entender a 
seguir



Reflexões irrelevantes - ser de direita (2)


                                                                          









Continuo meu esforço inglório para entender os 
direitistas. Acho que eles podem ser divididos em dois tipos. É claro que
 também podem ser divididos em três, quatro, oito mil cento e quarenta e 
sete tipos. Mas eu vou de dois. É mais simples.

O primeiro eu até entendo. Vou chamar de "pessimista". É o cara que concluiu 
pela inviabilidade da espécie humana. Ele parte do princípio de que todos, ou 
quase todos, são uns canalhas de marca maior. Que nada vai mudar, nunca. 
Que o homem é o lobo do homem. Que é cada um por si e deus contra todos. 
Então, não adianta sonhar com um mundo melhor - e muito menos agir para 
melhorar o mundo. Para ele, a esquerda é pura demagogia. Um jeito de enganar 
otários. O negócio é estabelecer umas regras para ninguém sair mordendo os 
outros na rua. E olhe lá.

De vez em quando eu sou tentado por esse tipo de direitismo. É que eu não sou, 
nunca fui o cara mais otimista do mundo. Mas eu tento manter um mínimo de 
coerência. Se concluir definitivamente que a humanidade é uma porcaria, terei 
sempre a solução do suicídio. Descrer da espécie e ao mesmo tempo levar a vida
 numa boa é meio esquisito.

Eu sei. O Homo sapiens é um macaco particularmente violento. Mas também é 
capaz de compor sinfonias. O bonobo é tranquilão. Pelo menos é o que dizem os
 zoólogos. Mas nenhum bonobo jamais compôs nem "Ai, Se Eu Te Pego". 
Que dirá a Quinta de Beethoven.

Entre os genocídios e as obras-primas, acho que dá para apostar no ser humano. 
Vai ver, a gente está mesmo na pré-história, como dizia o alemão barbudo. 
Vai melhorar. Tem que melhorar. Pode ser que melhore. Uma coisa eu sei: não 
vai melhorar se não mudar nada. A gente tem a obrigação de tentar, mesmo que 
dê com os burros n'água.

O conservador pessimista não quer saber de mudanças. Para ele, vivemos no 
menos pior dos mundos possíveis. É melhor não mexer na fossa. Eu não disse 
que o direitista é um cara triste?

Reflexoes irrelevantes - ser de direita (final)

Tipologia (2)

O segundo tipo de direitista é mais primitivo - e mais 
difícil de compreender. É o sujeito cheio de ódio. 
Para este, não basta ser de direita. Ele detesta 
feministas, viados, índios, pobres, pretos e imigrantes.
 Defende com ardor o genocídio dos palestinos. 
Garante que comunismo, socialismo e nazismo são a
 mesma coisa. Enche a boca para pedir pena de morte.

Esse cara existe. Pode ser bem educado, relativamente
 culto, com boa escolaridade. Pode ser gentil no trato com os seus próximos. 
Pode ficar encantado com as criancinhas. Mas sabe aquele desenho do Pateta, 
um sujeito gentil e tranquilo que pega no volante e vira um assassino? Nosso 
personagem é assim, quando se fala em política, no sentido mais amplo da palavra.

O que o impele é o horror à diferença. É o totalitário em estado puro. Pintou uma 
discordância, ele já vem logo desqualificando. Não sabe debater argumentos, 
só sabe xingar o oponente. Adora o termo "esquerdopata", que abrange qualquer 
um que contrarie seus preconceitos tão cuidadosamente cultivados.

Já falei que tenho certa empatia para com o direitista desiludido. O direitista 
rancoroso é diferente. Ele mesmo é incapaz de empatia. A gente vê muitos na 
internet. A interação à distância - em muitos casos o anonimato - favorece o 
discurso do ódio.

É fácil ter pena do pessimista, mas o direitista odiento é ainda mais infeliz. 
A diferença, tudo o que ele mais detesta no outro, está sempre bem escondidinha 
dentro dele. Freud chamava de projeção. 
No fundo, no fundo, ele odeia a si mesmo.

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