quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A morte do politicamente correto


A morte do politicamente correto

Ele parou de usar drogas. Não queria financiar o crime 
organizado.

Depois ele deixou de comer cereais. Não queria 
financiar a indústria de transgênicos.

Deixar de tomar remédios foi uma decisão fácil. 
Financiar os testes com cobaias humanas na África? Jamais.

A coisa ficou incontrolável. Não andar de ônibus,
 para não financiar o aquecimento global. Não comer carne, para não financiar
 o desmatamento da Amazônia. Não jogar futebol, para não financiar a exploração
 do trabalho infantil.

Os amigos pararam de ligar para ele. Sujeito mais chato, querendo converter todo mundo. 
Foi ficando cada vez mais isolado. Melhor assim. Parou de tomar banho, para não 
financiar o esgotamento dos aquíferos.

Morreu dois dias depois de parar de beber água. Ninguém notou. Seu corpo entrou 
em decomposição, liberando gases do efeito estufa. Chamaram a polícia, que mediante 
pequena propina invadiu o apartamento.  Seu corpo ficou dois meses numa geladeira
 do IML, financiando a construção da Usina de Belo Monte.

Ele já ia ser enterrado em cova rasa. Mas um primo rico ficou sabendo e pagou o funeral.
Uma beleza. Um lindo caixão de madeiras nobres extraídas ilegalmente.

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