sábado, 28 de janeiro de 2012

VIVER NO RIO

UMA CRÔNICA PARA O FIM DE SEMANA  




Eu podia dizer que tenho saudade do Rio da minha infância, 1960, 60 e poucos. O bonde. Os cinemas da Praça Saens Peña. A rua de paralelepípedos onde a gente jogava bola descalço, escalavrando os pés. Os restaurantes do centro onde às vezes eu almoçava com meu pai: o Rio Minho, quando ele estava abonado; o Dirty Dick, quando estava mais ou menos; a Casa Americana, quando a grana era curta. E a vida era assim como um brinquedo novo.

Eu podia dizer que tenho saudade do Rio da minha adolescência, final dos anos 60, início dos anos 70. E de fato eu era um descobridor insaciável da urbe, perambulando pelo Centro Velho, amanhecendo na praia de Ipanema, aprendendo as linhas de ônibus de Copacabana, andando a pé pela Tijuca, subindo as ladeiras da Gávea. E a vida era uma laranja madura, como aquelas que vendiam na entrada do Maracanã.

Eu podia dizer que tenho saudade do Rio dos anos 80. Levar os filhotes para conhecer o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Passear no Jardim Botânico, na Floresta da Tijuca, na Quinta da Boa Vista, no Jardim Zoológico. Conhecer as melhores bandas de rock no Circo Voador. Rodar todos os sebos para comprar livros mais em conta. Ir na noite da Lapa quando a Lapa não era moda. E a vida era que nem a cidade, cheia de atrações.

Mas não.

Saudade, saudade mesmo, eu tenho do Rio dos anos 1910, 1920,  por aí. Quando a Rio Branco era a recém aberta Avenida Central, com todos aqueles prédios belíssimos com jeitinho parisiense. Quando o Morro do Castelo ainda guardava os mistérios da cidade seiscentista. Quando a praia do Flamengo era chique, a enseada de Botafogo era limpíssima e Copacabana, um areal. Quando João do Rio exercia a arte de flanar. Quando os Oito Batutas tocavam no Cine Odeon.

Sei lá. Um dia um forde bigode me pega à meia-noite, sentado meio perdido na ladeira do Largo da Misericórdia, e me leva a passear pelo Rio antigo.
    
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