quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pseudodarwinismo meritocrático

Meritocracia

No Facebook, um amigo defende a tal da meritocracia. Eu coloco uma chargezinha a respeito, 
que diz que é fácil falar em mérito quando se nasceu em berço de ouro. Ele responde: o que 
precisa é de escola pública de qualidade.

Legal. Resolveu tudo.

Minha filha mais velha estudou numa escola pública de qualidade. As professoras faziam apelos
 patéticos aos pais mais abonados: que não comprassem borrachas bonitinhas, que não
 mandassem danoninhos na merenda, coisas assim. Era para não criar diferenças hierárquicas
 entre os alunos. E adiantava? Claro que não. As desigualdades sociais estavam no uniforme
 mais novo, nos carros do ano pegando as crianças na porta, na própria linguagem.

O Brasil é um país muito desigual. Isso é péssimo. Pior ainda é ter que lembrar disso, para quem 
acha que meritocracia é solução.

As pessoas partem de patamares desiguais, e não há "ensino público de qualidade" que resolva. 
Tem pai que pode ajudar no dever de casa, tem pai que não. Tem família com uma boa biblioteca,
 tem casa onde não se pode ler nem "Meu Pé de Laranja Lima". Tem quem viaje nas férias, 
conheça outras culturas, ganhe conhecimentos - e tem quem fique por ali mesmo, entre a vala a 
céu aberto e a boca de fumo. Ai, que falta de paciência para falar do óbvio!

Vamos examinar um país mais igualitário e mais rico? Noruega, Holanda, Finlândia. Escolhe um 
aí. Lá quase todo mundo estuda em escola pública. A rede de saúde estatal é excelente. 
Há menos diferenças econômicas, sociais e mesmo culturais entre as famílias. Nem por isso 
eles embarcam no pseudodarwinismo meritocrático. Existem sistemas de proteção social que 
custam o tubo aos Estados. Imposto de renda progressivo, e tome progressivo nisso. Toda uma 
série de medidas que se tornaram consenso na sociedade, visando uma coisa só: reduzir a
 diferença entre os cheios de mérito e os nem tanto.

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