quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mapa da fome. Marina, o mimimi e a baixaria. Marina e os bancos

Marina, o mimimi e a baixaria


Chororô pega mal. Candidato que se faz de vítima já sai perdendo. É preciso endurecer sem
perder a ternura. Por aí.

Imagina se a Dilma chorasse a cada editorial da Folha. A cada matéria do Jornal Nacional.
A cada vez que não deixassem ela falar na entrevista. Ia faltar lenço.

E chorou por quê, a seringueira? Foi alguma baixaria de nível ineditamente sublatrinário?

Baixaria tem sempre. Vejo todo dia, na internet. Baixaria azul, baixaria vermelha, baixaria
laranja
. Mas até que essa campanha está discutindo política. Foi por causa da discussão política que
a Marina chorou.

Ela muda de ideia a toda hora, e não quer que mostrem isso? Mas tem coisa pior. Tem umas
ideias que ela não muda.

A culpa não é do PT, se ela se cercou de economistas neoliberais. A culpa não é dos bancários
,se as propostas dela para o sistema financeiro são o sonho da Febraban. A culpa não é da
CUT, se ela quer liberar geral a terceirização e a precarização do trabalho.

A Marina esqueceu aquele ditado velho: quem fala o que quer, ouve o que não quer. A moça se
 acha. Ela não quer ser eleita. Quer ser ungida.

Baixaria, mas baixaria mesmo, foi do vice da seringueira. O Beto Albuquerque, como sabemos,
é líder ruralista e adora um transgênico. Um homem de bem. Pois ele comparou o PT a
Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. Goebbels dizia que "uma mentira repetida mil
vezes se torna verdade". O Beto só disse o que disse uma vez. Vai precisar de mais 999.

Marina e os bancos

Diz que a Neca Setúbal, tão simpática, não é banqueira. Ela é educadora. Não tem nada a ver
com o Itaú, a não ser umas açõezinhas. Para ser mais exato, 1,29% do capital. Mais ou menos
800 milhões de reais. Tudo bem. Mas o programa da sua protegida dá a maior bandeira.

A Marina quer liberar a terceirização, inclusive nas chamadas "atividades-fim" das empresas.
É o sonho dos bancos. Eles já terceirizam o que podem e o que não podem, enfrentando a
resistência sindical, das delegacias do trabalho e até da justiça. É que os bancários
conquistara
m alguns direitos que nem todo mundo tem. Foi preciso muita greve, mas eles têm um piso
mais
 ou menos, tíquetes-refeição razoáveis e outras coisinhas que custam grana. Bota um
 terceirizado aí, ganhando uma merreca. Se já é assim com uma legislação restritiva, imagina
se abrir a porteira.

A Marina quer o Banco Central independente. Independente de quem, cara pálida? Do
Executivo eleito pela maioria absoluta dos eleitores? Quando a Dilma tentou reduzir juros, foi
o maior pega-pra-capar. Os bancos lucram horrores sem trabalho e sem risco, só emprestando
para o Estado com taxas de agiota. Banco Central independente da democracia é tudo o que
eles querem. Garantia de juros altos per omnia secula saeculorum.


A Marina quer acabar com o direcionamento do crédito. Hoje, 25% dos depósitos à vista nos
 bancos têm que ir para o crédito rural. E 2% têm que ser aplicados em microcrédito. Sem falar
 na poupança, onde 65% da grana tem que ir para o crédito imobiliário. A seringueira garante
que os banqueiros vão saber usar essa bufunfa de maneira mais sábia, preocupados com o
desenvolvimento econômico e comprometidos com a justiça social.

A Marina quer reduzir o papel dos bancos públicos. Hoje, eles respondem por 51% do crédito.
A candidata laranja acha que é muito. Mas tem que ver como isso aconteceu. Em 2008, a
participação dos  bancos públicos no mercado era de apenas 36%. Aí estourou a crise mundial.
 A banca privada puxou o freio de mão. Os bancos públicos foram à luta. Orientação de governo
. Política anticíclica. O Brasil se safou do pior. A Marina, pelo visto, não gostou.

Caramba! Se a Febraban escrevesse o programa, não ia ser diferente. Eu disse "se"?
O Brasil está fora do "mapa da fome"
produzido pela FAO - o órgão das Nações
Unidas que cuida de agricultura e 
alimentação.
 800 milhões de pessoas passam fome no
mundo. No Brasil, são 3 milhões e meio. 
Ainda é muita gente, mas eram 22 milhões
 no início da década de 90. No inicio deste 
século, os desnutridos eram mais de 10% 
da população.
 Hoje são 1,7%. O desempenho brasileiro
 coloca o país entre os dez mais bem
sucedidos no combate à fome. E pinta de
branco nosso território, no mapa mundial.

A FAO destaca o programa Fome Zero, criado em 2003 pelo Governo Federal, que "colocou a
erradicação da fome no centro da agenda política do Brasil e implementou uma abordagem
 compreensiva para promover a segurança alimentar". O "Fome Zero", como sabemos, é o
precursor da bolsa família e das outras ações emergenciais de combate à pobreza extrema.

Era para comemorar, não era não? Era para ter banda de música e fogos de artifício. Mas o
anúncio chegou em plena campanha eleitoral. Sucesso do governo petista? Melhor esconder.

Não faz mal. Comemoro aqui. Um país sem fome parecia coisa utópica. Sonho de idealista
alienado das contingências históricas, dos determinismos geodemográficos e das forças
implacáveis do livre mercado. Que nada. Estamos quase lá.

Não foi por acaso. Não foi uma evolução natural. Não foi uma súbita tomada de consciência do
topo da pirâmide social. Foi ação de Estado. Foi política pública. Foi aquilo que uns e outros
chamam de paternalismo, de demagogia, de atraso ideológico e de populismo.

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