sexta-feira, 25 de julho de 2014

O SUS é ruim?

Blog da Cidadania por Eduardo Guimarães

O SUS é ruim? Pois saiba que é bem melhor do que parece

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Meu genro Isac chegou às portas do hospital da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, nas primeiras horas da manhã da última terça-feira (23). A fila dobrava o quarteirão e ele mal se aguentava em pé. Havia dois dias que passara a sentir formigamentos nos membros superiores e inferiores, dificuldade para movê-los e até para respirar, além de fraqueza extrema.
Por ser jovem (34 anos) e estar em excelente forma física – até por conta de ser fisioterapeuta e de já ter sido professor de academias de ginástica –, nunca se incomodou em pagar um plano de saúde para si, preferindo pagar para a esposa e para a filha nascida recentemente. Assim, nada mais lhe restava além de hospitais financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Por ser profissional da área de saúde, o rapaz já intuía o diagnóstico que lhe seria dado logo em seguida: Síndrome de Guillain Barré. Antes de prosseguir, pois, vale reproduzir explicações sobre essa doença extraídas de artigo publicado no site do médico Drauzio Varella.
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“A síndrome de Guillain-Barré, também conhecida por polirradiculoneuropatia idiopática aguda oupolirradiculopatia aguda imunomediada, é uma doença do sistema nervoso (neuropatia) adquirida, provavelmente de caráter autoimune, marcada pela perda da bainha de mielina e dos reflexos tendinosos. Ela se manifesta sob a forma de inflamação aguda desses nervos e, às vezes, das raízes nervosas.
O processo inflamatório e desmielizante interfere na condução do estímulo nervoso até os músculos e, em parte dos casos, no sentido contrário, isto é, na condução dos estímulos sensoriais até o cérebro.
Em geral, a moléstia evolui rapidamente, atinge o ponto máximo de gravidade por volta da segunda ou terceira semana e regride devagar. Por isso, pode levar meses até o paciente ser considerado completamente curado. Em alguns casos, a doença pode tornar-se crônica ou recidivar (…)
A síndrome de Guillain-Barré deve ser considerada uma emergência médica que exige internação hospitalar já na fase inicial da evolução. Quando os músculos da respiração e da face são afetados, o que pode acontecer rapidamente, os pacientes necessitam de ventilação mecânica para o tratamento da insuficiência respiratória (…)”
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Apesar da longa fila e da torturante espera no meio da rua até chegar ao atendimento na sala de espera daquele hospital, em poucas horas o rapaz já estava sendo atendido nos corredores repletos de pacientes em macas da unidade de emergência.
Não é bonito de ver o pronto atendimento dos hospitais públicos brasileiros. Pelo contrário, é chocante. Meu genro presenciou a morte de uma paciente na maca ao lado da sua, enquanto os jovens médicos tentavam, desesperadamente, revivê-la.
Pessoas amputadas, pessoas gritando de dor, parentes em desespero… Não é nada bonito. Muito ao contrário, induz quem vê aquelas cenas a considerar o SUS um sistema caótico e ineficiente.
A imagem que as unidades de emergência dos hospitais públicos – mesmo os de grande porte, como o hospital supracitado – passam à sociedade, porém, induz a uma visão errônea, como o blogueiro pôde comprovar ao acompanhar o que de fato acontece nesses locais.
Sim, o pronto atendimento dos hospitais públicos é caótico e maltrata quem está sofrendo. Não há conforto na porta de entrada. Mas, lá dentro, há medicina, sim. E de um nível que pode compensar a falta de “hotelaria” nessas instituições.
Um dos fatos mais interessantes sobre a vantagem do SUS sobre a medicina privada dos planos de saúde é a questão dos exames. Pude fazer essa comparação porque minha quarta filha, Victoria, padece de uma grave enfermidade neurológica e frequenta intensamente hospitais paulistanos tidos como “de excelência”, sobretudo o hospital Santa Catarina.
Para os médicos avaliarem o estrago que a doença promoveu em meu genro ele teve que fazer uma bateria de exames a partir do momento de sua admissão via SUS no hospital da Escola Paulista de Medicina. Exames caros, como tomografia e outros.
Se o rapaz tivesse um plano de saúde caro como o de minha filha (citada acima), todos aqueles exames exigiriam muita burocracia e muita briga porque os planos de saúde regateiam “autorização” para exames e procedimentos dispendiosos.
No SUS, não. É feito tudo que precisa ser feito e a família do paciente não tem que brigar como acontece com planos de saúde, tendo que ameaçá-los de processos ou até tendo que mover tais processos para obter o que tentam não oferecer apesar de serem obrigados por lei.
Para que se tenha uma ideia, em 2009 a minha filha Victoria só conseguiu fazer um determinado procedimento em um hospital “de excelência”, da rede credenciada do caríssimo plano de saúde, porque fui à Justiça. Mas entre o vai e vem para chegar à decisão judicial passaram-se 45 dias, com a menina exposta a infecção hospitalar etc.
No SUS, não teria havido esse drama.
Mas o que mais me surpreendeu nesse episódio do meu genro foi o tratamento que passou a receber após os médicos decidirem por sua internação.
Em primeiro lugar, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na qual foi internado não perde em nada para as dos tais “hospitais de excelência” da rede privada. Ao menos em recursos clínicos, estrutura, atendimento dos médicos etc. Só não tem luxo – televisão, frigobar, refeições em bandejas elegantes etc.
Vagando pelos corredores do hospital, surpreendi-me com a limpeza, com o foco dos profissionais, enfim, com uma qualidade da instituição que o atendimento emergencial esconde.
Além disso, surpreendi-me com a educação e a atenção dos profissionais. No primeiro dia da internação do meu genro, ele estava cercado de profissionais atenciosos e simpáticos.
Mas não é só. O tratamento da Síndrome que acometeu o rapaz requer imunoglobulina humana, que, claro, os planos de saúde têm que fornecer. Mas isso porque são pagos. E caros. Além disso, devido ao alto custo daquele medicamento, na saúde privada os planos de saúde provavelmente dificultariam o fornecimento – já passei por isso com a minha filha.
Imunoglobulina humana é um medicamento caríssimo. Em pesquisa na internet, descobri que custa cerca de mil reais cada dose.
Meu genro precisava de 30 doses, que, somadas, dão para comprar um carro popular zero quilômetro. O hospital não tinha, mas o SUS disponibiliza. A única dificuldade é que a família do paciente tem que ir buscar em unidades de fornecimento de medicamentos – vide, no alto da página, foto da caixa de isopor com as 30 doses que obtive para o rapaz.
Não é por outra razão que, hoje, enfermos de países vizinhos vêm ao Brasil buscar socorro no SUS. Apesar da falta de conforto em nosso sistema público de saúde, em outros países – inclusive em países ricos como os Estados Unidos – quem adoecer e não tiver um plano de saúde até pode obter atendimento, mas se endivida até o pescoço.
Falta muito para o SUS oferecer, além da boa medicina que já fornece, também um mínimo de conforto. Todavia, é um sistema que funciona. E funciona tão bem que, mesmo pagando um caro plano de saúde, é bem provável que, se o problema de que você padecer for muito grave, talvez tenha que terminar o tratamento no sistema público.
É uma obrigação deste que escreve divulgar este relato para que aqueles que têm uma ideia errada do SUS reflitam se vale mesmo a pena pagar fortunas por planos de saúde privados se você tem direito a um sistema que, apesar do déficit de conforto, funciona bem.
Até porque, a filosofia exclusivamente capitalista do sistema privado pode vir a ser fatal para o paciente. Ao regatear “autorizações” para exames e outros procedimentos clínicos, os planos de saúde podem até matar o paciente. No SUS, você não correrá esse risco.
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21 Comentário

  1. Importante o seu testemunho, Eduardo, pois os planos de saúde, como você disse, são empresas capitalistas. Elas se negarão, até onde puderem, a prestar assistência médica ao seu “segurado”.
    • Valeu, Roberto
    • Há uma campanha permanente contra o SUS e certamente apoiada pelos planos de saúde.
      E o SUS é desqualificado de tal maneira que, mesmo com as demora em conseguir consulta pelos planos de saúde, dificilmente se consegue uma consulta para o dia seguinte ou mesmo a semana seguinte ao dia solicitado. Elas sempre acham que se pelo plano de saúde tá demorando, imagine pelo SUS.
  2. Eduardo, valeu pelo post. É importante lembrar que o SUS tem qualidades e defeitos, mas o que a mídia capitalista quer é, obviamente, mostrar apenas os defeitos para, em seguida, defender a privatização da saúde (e defender os lucros dos empresários gananciosos do setor de saúde).
    Como se a gente já não tivesse visto esse (péssimo) filme em relação à educação e a outros importantes serviços prestados pelo Estado Brasileiro…
    Um grande abraço, Fábio Faiad.
  3. Se o SUS fosse tão ruim quanto prega a grande mídia e a oposição , o Obama não viria aqui para criar um sistema igual nos EUA onde não existe saúde pública de atendimento , lá se voce não tem o tal seguro social que é pago e caro voce morre na porta do hospital , e não adianta ficar chamando a imprensa , e ficar dando piti , lá ninguem esta nem ai para voce.
  4. Ano passado padeci de uma doença rara também: (doença de Crohn), o SUS quem me atendeu, mesmo tendo plano privado de saúde, os remédios são regulados pelo ministério da saúde, como moro no interior do MS demorou um pouco até estes medicamentos estarem em minhas mãos, pois depende de processos e pareceres técnicos de médicos. Mais tirando isso não tenho do que reclamar também.
  5. Edu, sempre que preciso uso o posto de saúde que tem no meu bairro (em Florianópolis/SC). O ambiente é limpo e organizado, e os enfermeiros são muito gentis e os médicos fazem bom atendimento. Ao meu ver, o maior é que a estrutura não é suficiente para atender a demanda da população.
    Claro, há uma certa demora nos atendimentos que não são de emergência, certa vez fiquei 1h30min esperando para ser atendida. Mas esse é o tempo médio de espera também para quem usa planos de saúde. Meus amigos que vão no Hospital da Unimed, também tem que esperar cerca de uma hora até serem atendidos. E em consultas particulares, raramente somos atendidos no horário marcado.
    Em muitos municípios o SUS é ruim porque é mal gerido.
    Fico feliz que seu genro tenha conseguido atendimento. Torço por ele e por sua família.
  6. Tive um experiencia parecida aqui no município de Resende, onde resido. Minha filha apresentava um problema na garganta e imediatante levei para o pronto atendimento do luxuoso hospital do meu plano de saúde, com uma linda sala de espera, confortável, com televisão, poltronas,etc.Para resumir, o atendimento foi equivocado, o quadro de minha filha piorou e quem resolveu foi uma unidade pública de uma UPA, onde foi feito o diagnostico correto, os exames na hora e ainda sai com a medicação. Estes tais planos de saúde são uma grande picaretagem, pois quando você mais precisa eles dificultam ao máximo o atendimento e a rede pública é que , no fundo, cuida dos casos mais graves, principalmente relacionados com acidentes. Mais o que importa é saber como esta o seu genro???
  7. Relato detalhado da rotina do SUS, com suas deficiências gravíssimas, mas também com suas características inalcançáveis pelo sistema privado dos planos de saúde. Os caríssimos tratamentos realizados pelo SUS em todo o País é impressionante. Eu tenho uma sobrinha que há uns 10 anos também precisou de tratamento muito caro pelo SUS – Doença de Kawasaki – e o obteve. Claro, muitos problemas de hotelaria como você citou, mas a obtenção de um tratamento integralmente pago pelo SUS, e a atenção de médicos experientes e dedicados.
  8. Fico feliz pelo seu genro, Edu! Isto que vc acabou de ralatar, eu já sabia desde 2008, pois não tenho plano de saúde e sou usuário do SUS, que me disponibiliza mensalmente os medicamentos que sou e serei obrigado a tomar até o fim de minha vida. O SUS funciona! Talvez, se os planos privados não sugassem tanto dos recursos públicos – sim, pois o mais caro nos serviços médicos, que é a estrutura, os planos de saúde particulares se utilizam do setor público – o Sistema Único de Saúde poderia funcionar melhor. Abraços.
  9. Meu irmão Wagner está obtendo alta neste momento do Hospital Brigadeiro, do SUS, onde ficou internado por quarenta dias.
    De acordo com a médica que conseguiu sua internação, o tratamento dele gira entre 500 mil e 1 milhão de reais, razão pela qual a mesma Santa Médica teve que bater o pé para que ele concluísse o tratamento hospitalizado!
    Estava ele com uma enorme septicemia devida a a outros tantos males de que padece.
    Acredite quem quizer, hoje pela manhã recebeu a visita de um médico do Hospatal do Mandaqui, também do SUS onde também se trata, médico esse que teve que brigar para visitá-lo.
    Nós da família só temos elogios a fazer ao tratamento que recebe nos dois hospitais, do SUS.
    Tal qual acontece com você Eduardo, já tive muita briga com meu plano de saúde que pago há 20 anos.
  10. Tive esses testemunhos com minha mãe, meu ex-pai e meu ex-sogro. Alguns profissionais meio tosco às vezes deixa impressão ruim, tanto que a primeira vez que minha mãe foi atendida no SUS de Caxias do Sul, ela queria voltar para o Oeste de SC, onde ela, meu pai (falecido) e meu sogro (falecido) foram muito bem atendidos até o final. A atenção era total. Agora parece que não viu mais o tal profissional e segue os atendimentos a contento. Sem pagar por muitos remédios de uso contínuo, já que ela de 82 anos.
  11. Muito importante o seu relato. Na maioria das vezes as reportagens, críticas, fotos e cobranças são realizadas ali, na entrada, na triagem dos pacientes. E aí, realmente, as imagens são chocantes.
    Poucas reportagens se aprofundam no principal, que é o atendimento de urgência, a qualidade dos exames, o fornecimento dos remédios.
    Vou utilizar bastante seu post, como resposta a comentários que colocam aquelas fotos de muitas pessoas aguardando atendimento e criticam o sistema.
    Claro, há falhas e o sistema ainda não é perfeito. Mas, como você bem esclareceu, não é tão ruim quanto pintam.
  12. Depois de uma pancada forte no pé, dirigi-me a uma UPA e fui bem atendido. Fiz uma série de exames de graça. Queriam me dar remédio de graça, injeção e outras coisas mais. Recusei, porque podia comprar. Se não fosse o atendimento naquela unidade pública, não sei o que aconteceria com o meu pé. Ah! Ainda possuía ar condicionado na unidade. Li uma notícia que o famigerado PIG visita 20 hospitais públicos e pega os 2 com mau atendimento. Em cima desses 2, faz aquelas matérias assustadoras. Os 18, eles ignoram, pois o atendimento é normal. PS: O SUS realiza milhares de operações bem sucedidas. PS2: Outro assunto, porém, importante: cuidado com os defensores dos ataques contra os palestinos. A direitalha quer criar, principalmente, um fato político no Brasil, para ajudar seu candidato. Eles são muito espertos.
  13. Tive uma experiência que comprova tudo o que seu post diz. Meu marido começou a perder a visão de um olho rapidamente. Fomos ao Hospital Cema, ao Hospital São Luiz e em 3 consultórios de médicos conveniados com o seu plano de saúde – Sul América. O problema se agravava e o diagnóstico era o mesmo: o perda da visão era causada pelo descolamento do gel vítreo, normal pela idade e logo se resolveria sem que fosse necessária nenhuma intervenção. Como o problema se agravava fomos ao Hospital Paulista. Diagnóstico, depois de vários exames: Inflamação numa artéria que irrigava o nervo óptico- problema gravíssimo e se não fosse o SUS, hoje ele estaria cego desse olho. A qualidade da medicina é tudo.
  14. O Plano CASSI do Banco do Brasil fornece essa medicação para os seus filiados quando precisam, digo isso porque um familiar meu teve essa mesma doença, tinha convenio com esse plano e ele não fez nenhuma objeção quando ele precisou, pelo que eu sabia esse remédio era bem mais caro. Segundo me informaram custava R$ 5.000,00 uma dose e precisava de sete doses por dia durante cinco dias…

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