quarta-feira, 7 de março de 2012

ECONOMIA

O transatlântico do câmbio começa a se movimentar

Coluna Econômica - 07/03/2012
São lentos os processos de mudança na política econômica.
Tem-se um problema óbvio na economia – enfatizado pela presidente Dilma Rousseff em sua viagem à Alemanha: o câmbio, a apreciação do real frente às demais moedas que tem deixado a indústria nacional indefesa em relação aos produtos importados.
A presidente Dilma Rousseff – responsável direta pela economia – tem seguido a máxima do devagar e sempre. Definiu alguns objetivos de médio prazo – como trazer a taxa Selic para perto das taxas internacionais de juros – sem afrontar os princípios que nortearam a política monetária na última década, fundado na teoria das metas inflacionárias.
A estratégia tem sido tocada com competência pelo Banco Central. Desde início de setembro, quando venceu a queda de braços com a confraria da Selic (os defensores da elevação permanente das taxas de juros) o BC assumiu o controle das expectativas do mercado. É possível que esta semana derrube a Selic em mais 0,75 ponto percentual.
A grande questão é que essa estratégia gradual não será suficiente para reduzir a apreciação cambial e haverá uma pressão adicional devido aos seguintes fatores:
  1. A inundação de moeda na economia global por parte de três das maiores economias globais, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.
  2. Nesses anos todos, a imprudência com o câmbio (que reduziu drasticamente a capacidade de exportação de manufaturados brasileiros) foi bancada pela explosão mundial dos preços das commodities. Com a queda do crescimento chinês, caso caiam as cotações, haverá uma sobrecarga adicional nas contas externas brasileiras.
  3. Há uma preocupação adicional com a perda de dinamismo do PIB brasileiro, especialmente após a confirmação de PIB de 2,7% em 2011. O mercado interno continua crescendo fortemente, mas o consumo adicional tem sido cada vez mais ocupado por importados.
  4. Por outro lado, a cada dia que passa o governo tem se mostrado mais sensível ao desmonte de vários setores da economia com a invasão dos importados.
A grande questão é por onde agir.
O governo tem sido enfático nas palavras e absolutamente tímido nas medidas. A ação cambial tem se limitado à compra de dólares no mercado, alguma atuação no mercado de derivativos e taxação sobre entrada de dólares. E todas têm se mostrado insuficientes.
O Ministro da Fazenda Guido Mantega declara que o dólar deveria estar valendo R$ 2,50 para acompanhar a paridade do início do real. Na outra ponta, sustenta que o governo não tomará nenhuma medida drástica, como ampliar a tempo de permanência dos investimentos especulativos no país.
Enquanto não se resolve esse preço, o país continua acumulando desgastes com  vários parceiros, no trabalho insano de impor medidas restritivas às importações de setores pontuais, um trabalho insano como tentar tapar os furos da peneira.
Até o FMI já admitiu a necessidade dos países defenderem suas moedas contra ataques especulativos.
Pelos últimos discursos de autoridades, a guerra está próxima. Espera-se apenas que entendam a urgência do momento e não se tente movimentos gradativos para combater um incêndio que se alastra.


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