quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Serra, blindado pela mídia


 



O caso é extremamente grave. A Folha noticiou que Serra, com aval do PSDB, negociou secretamente com petroleiras americanas a volta do antigo sistema de concessão, pelo qual as empresas, após uma licitação, tornam-se “donas” da jazida de petróleo, pagando apenas os royalties para o Brasil.


Ora, isso seria absurdo para o pré-sal, porque as companhias americanas privilegiariam a entrega para consumidores estadunidenses, expondo o Brasil ao risco de, mesmo possuindo enormes jazidas, sofrer com a falta de abastecimento.

De qualquer forma, a informação, vazada pelo Wikileaks, comprova o que já sabíamos sobre Serra: ele representava interesses obscuros, estrangeiros, articulados sempre nos bastidores.

Há um outro fator curioso: apenas a Folha publicou. A notícia não apareceu em mais lugar nenhum. E no dia seguinte (hoje), a Folha silencia sobre o assunto. Ninguém obteve declaração do tucano sobre o caso. Não apereceu sequer nenhum líder do PSDB para explicar a posição de Serra.

O que está acontecendo?

Serra não deve explicações à sociedade brasileira?

Quer dizer que ele iria mudar, arbitraria e truculentamente, uma legislação costurada a duras penas no Congresso Nacional? Tudo para beneficiar petroleiras dos Estados Unidos?

Entende-se perfeitamente que as petroleiras queiram mudar as regras para o pré-sal. Pelas regras antigas, teriam lucros mais seguros e maiores.

Agora, para um homem que andou se gabando de “ser muito mais de esquerda do que Lula”, afirmação essa também repetida por Roberto Freire, deputado depederal (PPSSP), os vazamentos do wikileaks caíram qual bombas de fragmentação!

Entretanto o mais curioso, a meu ver, é o silêncio sepulcral na grande mídia sobre o tema. Mesmo a Folha, que deu a notícia, não volta a mencioná-la no dia seguinte. Ativou-se solenemente uma mamutiana operação abafa. Ontem a Folha ainda fingiu ter procurado o ex-candidato para explicar as notas vazadas pelo Wikileaks sobre uma conversa secreta entre Serra e representantes de empresas americanas de petróleo; não o encontrou.

Nessa terça-feira, Serra apareceu somente na Folha Online, depois de (provavelmente) analisar o assunto junto a seus consultores politicos. E negou tudo:

Procurado pela Folha, José Serra negou ter feito as afirmações a ele atribuídas no telegrama. “Nunca recebi empresas individualmente, portanto, não recebi esta representante [Patricia Pradal, diretora da petroleira Chevron]“, disse ele, por meio de sua assessoria. “Não falei isso porque não faz sentido, alguém vendeu ‘mercadoria falsa’.

O modelo que vigorava naquela época era o modelo anterior. Isso [o teor do telegrama] não faz sentido. Além disso, o relato não corresponde ao meu modo de falar. É um estilo que não é o meu”.

A não citação ao nome de Serra, no Globo, mostra também que o Wikileaks errou ao estabelecer relação de confiança com alguns grandes jornais. Eles não são confiáveis. O acordo era publicar a matéria sempre com a presença dos documentos originais, o que não foi feito.

O tucano vendeu informação privilegiada às empresas americanas do setor de petróleo. A informação era: se eu ganhar, entrego o petróleo a vocês. Segundo Patrícia Padral, chefe de relações com governos da Chevron, o candidato José Serra era contra a nova lei do pré-sal (a lei que dá ao povo brasileiro o controle absoluto do petróleo), mas “não demonstrava senso de urgência”, porque entendia que seria possível revertê-la após a sua vitória nas eleições presidenciais.

“Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, teria dito o pré-candidato, segundo matéria escrita por Natalia Viana, repórter do Wikileaks no Brasil. Serra fez a afirmação para executivos da Chevron, o que levanta a suspeita de que o PSDB pode ter obtido recursos para sua campanha em troca de promessas de mudar a lei do pré-sal.

A negação de Serra à existência da conversa mostra que ele sabe o estrago político que isso pode causar em sua carreira e ao PSDB. No entanto, ele vai ter que se esforçar mais do que negar que falou. Existem documentos que o provam, e não creio que o embaixador americano ou uma alta executiva da Chevron inventariam uma coisa assim.


Fonte:
Blog Gonzum. Miguel do Rosário

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